DOR CIÁTICA

Entrou no posto de gasolina e foi ao banheiro se arrastando como uma barata tonta prestes a morrer. Lavou o rosto, jogou o comprimido de antiinflamatório na boca com um pouco de água. Olheiras e 70 anos no espelho. Desta vez a dor ciática voltou muito forte. Há 10 dias.

Os dois frentistas ainda riam dele, quando saiu.

-- Enche o tanque. Verifique o óleo, calibre os pneus: 31 nos quatro e 35 no estepe.

Pagou a dinheiro e testou a humanidade com 10 reais de gorjeta. Vieram as mesuras:

-- Doutor, aceita um cafezinho de garrafa térmica? Doutor, fique à vontade, posso lavar os vidros?

Com falso respeito até " boa viagem e vai com Deus" eles desejaram.

Sentado, dentro do carro, não doía. Filhos da puta.

A madrugada foi perturbadora, guardou o 38 no porta-luvas. Mandou dois pro inferno! Faltava um.

Os frentistas olhavam o carro. Imbecís.

Do outro lado da rua, os cavaletes sonolentos foram retirados da frente do distrito policial.

Dor ciática do cacete; pegou a Avenida Brasil rumo ao Recreio. Em perseguição. Saboreando lentamente.

Amanhecia na Vila da Penha.

Elysio Lugarinho Netto
Enviado por Elysio Lugarinho Netto em 26/04/2008
Reeditado em 23/12/2008
Código do texto: T962503
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