Deixando os carrinhos de lado...

Ele era só mais uma criança comum; o pai funcionário público, a mãe dona de casa, um cachorro...vários carrinhos com os quais brincava incansavelmente todos os dias, imaginando estradas, caminhos por onde poderia passar...

Quando tinha dez anos, a escola era um inferno. A escola pública não tinha atrativos e todos os dias era espancado por uns caras mais velhos, que tomavam-lhe o dinheiro do lanche; vivia sendo humilhado.

Em casa, o pai quando chegava bêbado, estapeava sua mãe e o mandava ficar quieto, trancado no quarto, inerte, sem poder nada fazer.

Com quinze resolveu sair...não dá mais, pensou...

Foi para a casa de um tio, em Goiânia. Lá viveu por mais três anos, e foi onde conheceu várias pessoas, e dentre elas, uma que chamou sua atenção. Era Pedro, um rapaz de vinte e cinco anos, que era de família cigana.

Pedro sempre andava com bons carros, pulseiras e correntes de ouro maciço, namoradas bonitas, botas lustrosas...Alex foi ficando amigo de Pedro, conhecendo um mundo até então estranho para ele.

Pedro convidou Alex para uma viagem, e este aceitou, foram saindo de carro pela estrada, e Alex, olhando pelo vidro, via os caminhos que imaginava, brincando com carrinhos na casa de seus pais. No primeiro posto, uma parada para o primeiro assalto...

_Fica no carro, Alex, eu já volto. Disse Pedro.

Não demorou, Pedro voltou com um celular e várias notas dentro de uma sacola plástica.

Ouvindo a estação de rádio local, Alex ficou sabendo da notícia:

"Caixa de posto é morto em assalto, por homem encapuzado".

Alex sentiu medo e calafrios, e foi quando Pedro, percebendo o pavor nos olhos do garoto disse:

_ Alex, vou falar a verdade. Eu não tive pai, ele morreu quando eu tinha apenas um ano, assassinado pela polícia, minha mãe teve que pedir esmola e ficar lendo mão de madame na rua para poder comprar meu leite, agora eu tomo de quem tem. Aquele caixa idiota quis dar uma de super-herói para defender o dinheiro do patrão rico, eu só me defendi, era ele ou eu.

Depois de vários quilômetros, já no dia seguinte, Pedro parou o carro em outro posto e jogou o revólver na mão de Alex, juntamente com o capuz e disse:

_Se quiser comer hoje vai ter que fazer dinheiro !!! Vamos ver a sua disposição...

Alex tremia, vestiu o capuz e foi de encontro ao caixa do posto, apontou a arma, puxou o cão e bradou:

_É um assalto, passa a grana ou eu atiro !!!

Por sorte o caixa não resistiu e Alex teve um desempenho excelente em seu "debut" criminoso; percebeu então que não era mais o menino humilhado da escola, ninguém tirava-lhe o dinheiro do lanche, se sentia forte, e se viu pela primeira vez no comando de uma situação...

O próximo passo foi a Casa de Tia Nora, uma zona de beira de estrada onde se conseguia putas novas, quentes e que cobravam barato.

Os dois encheram a cara, transaram com quantas puderam e armaram um novo plano, Pedro dizia:

_Porra Alex, esse negócio de roubar posto não vira, temos que fazer uma "fita" boa, que dê uma grana alta.

Alex respondeu, perguntando em seguida:

_Um banco? Uma casa lotérica? O que você sugere? Eu quero é mais !

Pedro pensou e disse:

_O negócio é carro-forte, vamos fazer malote !!!

Conseguiram um sócio, uma moto, mais um carro, duas escopetas e um fuzil FAL 7,62, para poderem estourar o carro forte. O esquema foi passado e repassado, a moto acompanharia o carro forte por trás, o carro iria na frente, então o carro pararia na pista, e Pedro mataria o motorista com o 7,62, que atravessa qualquer blindagem, nisso renderiam os outros guardas e pegariam os malotes e o sócio viria atrás no outro carro, abandonando o carro roubado e seguindo no "quente".

Mas nem tudo ocorre como se espera, a Polícia Federal já havia monitorado o telefone que Pedro havia roubado no assalto ao posto e vinha acompanhando toda a conversa e o planejamento do assalto.

Quando Pedro parou o carro na pista, o carro forte também parou, de lado, foi quando saíram vários policiais federais do carro forte e abriram fogo, todos ao mesmo tempo contra Pedro, estraçalhando-o como papel.

Alex vinha na moto e tentou voltar, porém uma viatura saiu não se sabe de onde e acertaram-no nas costas.

Alex sentiu o frio da morte percorrer-lhe o corpo, e seu sangue escorrer pelo asfalto...pensou na mãe, apanhando do pai sem reclamar, nos carrinhos com os quais brincava, nos caminhos que sonhava em seguir, nas estradas por onde queria andar...até que entrou em um túnel escuro, frio e aparentemente sem fim.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 06/05/2008
Reeditado em 16/05/2008
Código do texto: T977219
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