Em meio ao fogo

Era mais uma festa comum na cidade. Os jornais fazendo toda uma propaganda para as atrações que viriam, mas nada parecia despertar meu interesse.

Após alguns convites, resolvi perder meu tempo na tal festa. De repente ainda encontrava uma cara-metade por lá, ou pelo menos uma distração, o que mais tem nessas festas são meninas carentes querendo distrair nossas cabeças (no plural, mesmo).

Então a grande noite chegou, eu estava tão empolgado que mal parava acordado, mas fiz um esforço pelos meus amigos. Trabalhando à noite, raramente tive tempo para as festas com a gangue... Além do que, agora está tudo diferente - somos responsáveis, ou pelo menos tentamos ser na maior parte do tempo.

Pois bem, quando a turma chegou, terminei de bagunçar o cabelo e estava tudo pronto. Chegamos à boate num carrinho pequeno, que é melhor nem citar o nome para não magoar o dono. Mas o que interessa é que essa caranga me foi útil momentos mais tarde...

Já na festa, de tão alegre que estava, me dirigi ao bar no mesmo instante que adentrei o recinto. Para minha surpresa, tomando um uísque estava uma antiga namorada, Ju. Fiz de conta que não vi e ia passando, quando ela me segurou. "Oi, Vini! Bah, tá cheio, hein". "Não", respondi, "tu tá acompanhada, guria, não quero incomodar". "Acompanhada?", perguntou ela. "É, e muito bem, esse uísque aí é dos bons", retruquei. Ela sorriu meio sem graça e me convidou a beber um trago com ela. Aceitei na hora, talvez o tempo passasse rápido com uma bebida, e eu até me divertisse um pouco. Se arrependimento matasse... A Ju começou a falar do passado, contar histórias tristes, daí pra começar a chorar, em plena festa, foi um pulo. E mulher quando começa a chorar é um problema... Que problema nada, solução! Eu não estava gostando nenhum pouco da festa, ela já ia começando a borrar a maquiagem de tanto que chorava, resolvi sem muita confiança perguntar se ela não queria ir conversar em outro lugar. "Ai, não sei", respondeu. Fiquei quieto um tempo, bebemos um pouco mais e ela falou decidida: "Me leva pra qualquer lugar, Vi, sei que tu vai saber o que fazer pra eu me sentir melhor".

"Caramba", pensei "mas essas mulheres estão diretas". Foi aí que terminou a minha noite. Levei ela, e a garrafa de uísque, ao mesmo local onde costumávamos fazer amor nos tempos de namoro. Em meio a palavras perdidas e viradas de copo, começamos a nos beijar. Logo o fogo tomou conta de nós. Ela estava num fogo de amor alucinante... Meu fogo era pelo uísque, mas apaguei os dois incêndios naquela noite.