Sem tempo para morrer...

Aderbal era um sujeito do tipo "homem médio brasileiro": quarenta e oito anos, representante comercial, casado, três filhos, de 13, 9 e 6 anos, respectivamente.

Seu patrão o havia demitido às 10:00 horas e agora Aderbal rumava para a casa com pensamentos negros na mente...

"Droga, esse F.D.P ainda me paga !!! E agora o que é que eu vou fazer ?"

Aderbal pensou em se matar, estava louco...o trânsito paulistano não andava, e já o segurava por 4 horas, devido a problemas em um caminhão na marginal, além disso, o carro estava com o ar-condicionado quebrado, e no rádio nada o animava.

Pensou na hipoteca da casa, no plano de saúde da família, no condomínio, na conta de energia, na conta de água, no gás, no tratamento dentário da mulher, na escola das crianças e principalmente, tentava imaginar como um cara com a sua idade iria arranjar um novo emprego para custear tudo isso...

Aderbal parou o carro próximo a um viaduto, afrouxou o nó da gravata, deu mais duas tragadas no cigarro, arremessou longe a guimba... e resolveu pular, fechou os olhos e...seu telefone celular tocou, era a mulher mandando:

_Aderbaaal! na hora em que você vier, passa no mercado e traga leite que acabou !!! Ahh!! Traga pão e algumas frutas também, beijo !

Aderbal mudou de idéia, não podia se matar agora, deveria fazer o que a esposa mandou...

Chegando em casa, Aderbal não teve coragem de contar para a esposa sobre a demissão, deixou as compras na mesa e foi para o banheiro, pegou a lâmina de barbear, desenrolou do papel, olhou no espelho e decidiu cortar os pulsos...

Quando tomou coragem para concluir, o filho mais novo bateu na porta e gritou:

_Papaaai !!! Meu carrinho quebrou, arruma pra mim !!!

Aderbal guardou a lâmina, olhou no espelho e pensou que deveria ajudar o filho a arrumar o carrinho...pensou também que não podia se matar, afinal, não tem tempo nem para morrer, a família precisa muito de sua presença.

FIM

BORGHA
Enviado por BORGHA em 19/05/2008
Reeditado em 19/05/2008
Código do texto: T995802
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