UM CENTAURO NA AMAZÔNIA
                            (Fantasia)

                       
(Hull de La Fuente)

Capítulo II


O Sol moveu-se por mais de uma hora lá no alto, após os tiros. Então a onça Yuí o levou até onde estavam os corpos. Kalibe levantou nos braços o pequeno corpo ensaguentado de sua mãe. O espírito de Yuí materializou-se e o índio depositou nas costas da onça o corpo da mulher.
 
Kalibe olhou para o corpo do pai mergulhado numa poça de sangue. As lágrimas desceram por sua face. Seu pai era um bravo, merecia todas as honras de um funeral indígena.

Acostumado a pratica da corrida de toras, levantou o corpo de Wauaré de sobre as folhas e o colocou nos ombros. Guiado pela onça Yui, foi levado até à gruta.

Yuí ajudou-o a sepultar os dois xamãs e seus poucos pertences, entre as fendas abertas nas paredes da gruta. Wauaré sempre levava consigo folhas secas de tabaco para mascar. Kalibe atou algumas folhas ao próprio arco e enterrou as outras com o corpo do pai.
 
Depois de cobrir as fendas com barro e pedras, se deu conta de que estava irremediavelmente só. Até o espírito da onça Yuí, havia voltado para o cosmos, pois um espírito auxiliar não pode permanecer muito tempo no mundo dos vivos. Kalibe não sabia nem mesmo se ao voltar pra aldeia, encontraria alguém com vida, pois os garimpeiros tinham ido naquela direção.

O índio saiu da gruta e sentou-se numa rocha perto da entrada. A noite caíra sobre o velho garimpo abandonado. Acostumado a ver na escuridão, olhou para o estrago causado pelos “homens civilizados”. Naquele lugar existira um dia uma floresta.
 
A mata teimava em ressurgir nas encostas das crateras e sobre as montanhas de barro e pedra. A devastação tinha sido muito grande e espalhava-se até onde sua vista podia alcançar. Sozinho, Kalibe chorou e chorou, até adormecer com a cabeça apoiada sobre os joelhos.

Despertou ao nascer do sol ao som de uma língua diferente, mas estranhamente ele a compreendia.

_Kalé heméra! (Bom dia! - em grego antigo)

O jovem olhou em volta e viu por entre os arbustos, o rosto de um rapaz branco, cujos cabelos castanhos claros, caiam-lhe em cachos sobre a testa. Um sorriso cordial brilhava nos grandes olhos cor de mel do estranho:

Kalé heméra! – repetiu o jovem recém-chegado.


Continua...
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 05/09/2008
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