O cara que sonhava demais

Ele tinha um dom nada comum de dormir em sua cama e acordar em qualquer outro lugar que tinha sonhado. Sempre dormia com a carteira no bolso, para o caso de acordar em Manaus que nem a ultima vez. Não tinha como controlar, já tentara médico e psiquiatras, mas todos aconselharam o hospício.

Aceitou a realidade quando em um de seus sonhos foi parar no set de um filme pornô em plena ereção. Nunca tinha vivido algo tão engraçado, constrangedor e lucrativo. Sim, ele recebeu cachê pela participação.

No trabalho sentia coisas estranhas, calafrios e vozes. Como se algo o chamasse para o sonho e para viajar. Decidiu ir ao terreiro da mãe Josefa ver se tinha algum encosto. Nada. Foi ao centro espírita pra ver se era paranormal. Nada. Todos davam a mesma resposta, totalmente normal. Mas será que ninguém pode ajudar? Nem o chapolin?

Alguns sonhos eram terríveis. Como aquele depois de assistir ‘O exorcista’, ele acordou na cama do casarão abandonado da esquina, pálido e se cagando de medo. Ele não agüentava mais tudo aquilo, não sabe quando começou e não sabe quando vai terminar. Não conseguia ter uma namorada. Era impossível, por que inexplicavelmente (para elas) ele nunca estava na cama pela manhã.

Mas tinha suas vantagens. Ele tinha uma grande vontade de conhecer a Holanda. Viu filmes, leu noticias e se concentrou durante o sono e ele simplesmente conseguiu, ele acordou em um Beco de Amsterdã. Conseguirá finalmente controlar o que sonhava, descobriu que com concentração ele podia manipular seus sonhos e assim arrumar sua vida.

Durante um tempo controlou para sempre acordar em sua própria cama, ia a qualquer lugar, mas quando sentia que já era manhã ele arranjava um jeito de voltar para a cama. Estava controlado.

Teve uma grande surpresa quando foi chamado pelo chefe que disse que seria promovido. Emocionado, foi ao bar com os amigos e bebeu, bebeu tanto até não sentir os pés no chão. Foi levado para a cama, e bêbado não conseguia controlar os seus sonhos. E logo naquele dia sonhou que subirá de andar na empresa, mas ele subiu até o 24º andar e lá não tinha chão, não tinha paredes, não tinha nada. E caiu.

No outro dia, a indignação dos amigos. Por que alguém que estava bem na vida se jogaria do 24º andar do prédio? Estava lá, espatifado no chão, ensangüentado e destrinchado. Ele havia sonhado demais, forte demais, e agora, dormia o sono eterno. Pelo menos conseguira conhecer o mundo.