UM CENTAURO NA AMAZÔNIA
                             (Hull de La Fuente)


Cap. IX



Depois de algumas horas de caminhada avistaram os garimpeiros. Eles já haviam destruído grande parte das margens do rio.
 
Kirone lançou mão, pela segunda vez,  do arco e da flecha, atingindo a gigantesca draga no meio do rio, fazendo-a desaparecer instantaneamente. Kalibe, admirado, viu a flecha mágica voltar às mãos do centauro e de novo ser lançada. Os equipamentos juntos às margens foram sendo atingidos um a um. Tudo desaparecia diante dos olhos admirados do índio.
 
As choupanas de lona também sumiram e os homens apavorados, gritavam para que salvasem o ouro. Mas já era tarde, nada restara dele. Amedrontados e sem entender o que estava acontecendo, mais de cinqüenta garimpeiros fugiram floresta adentro, pelo terreno acidentado. Sem armas e sem comida, com certeza a floresta úmida e quente daria um péssimo final a todos eles. 

Ao ver pela segunda vez, naquele dia, o poder das flechas de Kirone, Kalibe perguntou-lhe com que ossos e qual a raça de macacos com que eram feitas as pontas daquelas flexas fantásticas.

_De onde eu venho não existem macacos. - respondeu Kirone -  Fazemos as pontas de nossas flechas de marfim. 

Kalibe ouviu a explicação do centauro e ficou imaginando o que poderia ser marfim. Depois, como que querendo dar-se a conhecer mais falou: 

_Então, talvez esta seja a causa da morte de tantos da nossa gente. Nós confiamos muito no poder dos macacos. - e pensativo continuou -  Com certeza eles são os culpados de tantas mortes. Nós Yanomamis, sempre fizemos as pontas das flechas com os ossos das pernas de macaco coatá...

Kirone ficou interessado e perguntou por que razão o macaco era culpado das mortes dos silvícolas.
 
O índio então explicou que, freqüentemente, os indivíduos da tribo são picados por cobras. Quando isto acontece, o pajé invoca o espírito de um pássaro pra descobrir o paradeiro do espírito da cobra. Quando o espírito do pássaro descobre, informa ao pajé. Então o  pajé pede ao espírito do macaco pra flechar o espírito da cobra, mas nem sempre o espírito do macaco obedece, pois o macaco fica de brincadeira pelas árvores e esquece de ir flechar o espírito da cobra. Com a demora do macaco, o índio ferido morre.
 
O centauro disfarçou um sorriso diante da narrativa infantil e tão pura da indefesa criatura. Então decidiu quê, como fizera seu antepassado Quirão, há milhares de anos na Grécia, ele também transmitiria conhecimentos ao rapaz. Agora estava convencido de que essa era a razão da sua presença naquela selva inóspita.
 
Usando seus poderes Kirone fez Kalibe adormecer e o transportou da mata de Roraima para o Parque Nacional do Pico da Neblina, no alto Rio Negro, no Amazonas. Numa caverna, há quase três mil metros de altura, o manteve profundamente adormecido.
 
Continua...
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 17/09/2008
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