UM CENTAURO NA AMAZÔNIA
                            
(Hull de La Fuente)



Cap. X


Sobre o peito nu do índio, Kirone cruzou duas de suas flechas encantadas. Uma o manteria aquecido e alimentado e a outra transmitiria conhecimentos ao jovem.

Kirone se tornou invisível e, sobre uma nuvem, partiu para a aldeia de Kalibe. Urubus sobrevoavam o local. O grupo havia sido dizimado. Os garimpeiros haviam assassinado todos. Era uma comunidade de apenas sessenta e sete indivíduos, a maioria era composta de jovens que seriam iniciados no xamanismo, mas havia também algumas crianças.
 
Kirone fez desaparecer todos os corpos, da mesma forma como fez com os peixes do Rio Ericó. A casa coletiva no meio da clareira fora incendiada pelos garimpeiros. Dela só restara cinzas. O jovem centauro devolveu à clareira a forma primitiva. O lugar ficou cheio árvores e cipós entrelaçados.
 
Contudo, a roça de milho e cará ele preservou, mas sabia que em pouco tempo a floresta a sufocaria.

O centauro prosseguiu sua viagem sobre a Amazônia. Viu a devastação das florestas. Toras de árvores seculares flutuavam sobre as águas dos rios, impedindo a navegação, por quilômetros e quilômetros. 

Em alguns rios, o assoreamento provocado pela ganância dos garimpeiros retirara a possibilidade de pesca para as populações ribeirinhas, brancas ou indígenas. Em algumas partes, viu grupos de índios magros, famintos, a procura de caça. Kirone, penalizado, fez surgir: antas, veados, macacos e outros animais. Os índios entre aturdidos e felizes caçaram e aplacaram a fome. 

Próximo às cidades, as florestas ardiam. O fogo era provocado pelos fazendeiros de grãos. Eles derrubavam árvores seculares e ateavam fogo no que restava da mata. O ar era quase irrespirável. O centauro horrorizou-se pensando em como o homem podia causar tanta destruição, provocando a morte do próprio planeta.
 
A gente daquela região estava promovendo a desertificação da Terra. Nessa altura, ele não podia mais interferir. O homem possui o livre arbítrio, é responsável por suas escolhas, seus atos.

Além da beleza ameaçada do que restara nos estados do Amazonas, Roraima, Pará e Mato Grosso, Kirone conheceu a exuberância da fauna e da flora do Pantanal, onde a ação predatória do ser humano, já começava a ser observada.
 
O centauro compreendeu a grandeza do amor do jovem Kalibe por sua terra e se perguntava: por que os silvícolas são capazes de viver em harmonia com o meio ambiente e os chamados “civilizados”, não?
Kirone compreendeu que a sua missão na selva amazônica era...


Continua...
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 18/09/2008
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