Um projeto ambicioso

Henrique se despediu da menina-moça Luana às 11h37min e se dirigiu em passos lentos, observando os arredores, até a feirinha de frutas situada na rodoviária velha. Logo encontrou a Casa dos Fazendeiros. Conferiu o nome da rua: Peregrino de Carvalho.

Ao primeiro vendedor que se aproximasse diria que uma moça bonita, aparentando no máximo 25 anos, que se identificara com o nome de Luana indicara aquele estabelecimento comercial para ele fazer a aquisição de alguns acessórios e, talvez, uma boa sela.

O interior da Casa dos Fazendeiros tinha o cheiro característico e fazia jus ao nome. Cheirava a couro e cavalos. Dejetos humanos fedem, mas bosta de cavalos tem cheiro agradável, aroma de fazenda. Pouco iluminado, o ambiente era sóbrio, meio triste, pouco movimentado. Um vendedor com cara de enfado, apresentando cansaço em demasia, dirigiu-se ao poeta das ilusões e disse:

- Bom dia! Posso ajudar o senhor em alguma coisa? – Henrique sorriu por dentro. Essa forma de cumprimentar parecia ter sido ensaiada exaustivamente milhões de vezes. Teria o vendedor feito um curso de pelo menos uma semana para se apresentar assim?

- Bom dia! O clone de minha ex-aluna, uma moça bonita chamada Luana disse que aqui eu encontraria uma boa sela para dar de presente a quem merece algo fino e especial.

- O senhor veio ao lugar certo. Conhece a menina Luana? Conhece? – Henrique percebeu um leve tremor na voz do vendedor inseguro, com olheiras acentuadas, usando botas de vaqueiro e jaqueta de um tecido malhado, parecendo napa, ou algo semelhante, mas esforçado, amistoso e profissionalmente atencioso.

- Conheci ainda há pouco. – Nesse exato momento três clientes adentraram a loja e pediram uma informação sobre o preço de um bonito chapéu à vista e exposto na “vitrine”. Opa! Henrique ouvira “vitrine”? Um dos clientes sem querer ou saber pronunciara “vitrine”, em francês, quando o correto é vitrina, palavra devidamente aportuguesada.

Sem dar maior importância a essa tola observação ele ficou a analisar todo o interior do recinto, sentindo o agradável cheiro de couro.

Após dar as informações ao grupo de clientes o vendedor se dirigiu a Henrique e disse:

- Provavelmente o senhor já sabe o que vou dizer, mas uma boa sela deverá ser confeccionada levando-se em consideração as medidas do animal e as características do (a) cavaleiro (a). Caso o senhor aceite poderemos enviar um dos nossos especialistas até o local onde se encontra o animal para tirar as medidas e desse modo teremos a certeza de que tudo estará de acordo com os padrões de qualidade que oferecemos aos nossos clientes.

O autodidata ficou feliz com essa informação, em que pese o fato de a surpresa que desejava fazer a Analu ficar irremediavelmente prejudicada. Resolveu telefonar para Analu e informou que no mais tardar às 13 horas estaria em casa para o almoço. Nessa ocasião levaria o profissional para tirar as medidas de Janaína.

Quem sabe ele substituiria as outras selas, provavelmente inadequadas para os outros animais? Se tudo devia ser sob medida ele precisaria analisar essa possibilidade.

Quem entra na Fazenda Julia & Analu normalmente fica embasbacado. – A Casa dos Sonhos Coloridos se transformara em uma próspera comunidade fazendária e fora rebatizada. Situada no distrito de Esplendor, Município de Lagoa Seca, Paraíba.

O visitante se encanta, não apenas com as belas pastagens e paisagens, localizadas entre dois importantes rios da região, o Rio Doce e o Rio Fundo. Quem conhece a história da fazenda também se surpreende.

Para recuperar a produção da Julia & Analu, Henrique contou com o apoio de diversas empresas, através de parcerias, entre elas a Ciência dos Negócios, que entrou com o principal recurso utilizado no processo de melhoramento e recuperação das pastagens.

O método é simples, mas o agrônomo Eduardo Santiago dos Santos representante de vendas da Ciência dos Negócios, explica que existem duas formas de transformar um pasto ruim em uma área produtiva e boa para o gado.

Para ele a melhor forma de se recuperar um pasto em más condições é aplicando um produto específico na base de determinados tipos de invasoras, no caso da Julia & Analu, plantas arbustivas, principalmente o limão-cravo, que prontamente atinge a raiz, matando a planta.

Até agora, foram investidos na fazenda R$ 987,00 (novecentos e oitenta e sete mil reais), entre recursos extraídos da própria fazenda e de doações feitas por empresas, como a Ciência dos Negócios e já podemos dizer que a Julia & Analu é auto-suficiente.

O especialista em nutrição animal e responsável por todo o projeto de reestruturação da Casa dos Sonhos Coloridos e agora fazenda Julia & Analu, Bernardino Montenegro, recém-contratado pelo casal Analu e Henrique, afirma: "todo o investimento que é aplicado na fazenda, vem do lucro que ela gera".

De acordo com o profissional, os pastos são formados por braquiária e colonião. Além da rotação das pastagens, o gado recebe aveia e milho como suplemento alimentar em forma de silagem, também produzidos na própria fazenda, como explicou Montenegro.

Com relação ao gado da fazenda a raça a nelore é a que dá maior lucro, mas existem ainda animais charolês e, que são vendidos diretamente para frigoríficos do Sudeste.

Por motivos óbvios a intenção é de que, futuramente, predomine a raça nelore. Além disso, Montenegro afirma que existe uma preocupação dos proprietários (Analu e Henrique) com a questão ambiental, e que uma equipe trabalha nesse sentido fazendo o levantamento da flora e da fauna da região, cuidando da preservação do solo de uma maneira geral e fazendo um relatório a cada dois meses revisando os custos e os ganhos da fazenda.

Com dedicação e muito trabalho, 75% da área da propriedade já foi recuperado, o que corresponde a 1.800 dos 2.400 hectares de pastagens. A diferença é notável. Ainda existe no local área em que o solo continua intocável, com limoeiros espalhados por todos os lados e plantas invasoras visivelmente grandes.

Apesar disso, muito trabalho já foi feito, e hoje a Fazenda Julia & Analu serve de modelo para as comunidades vizinhas, além de já ser considerada uma referência tecnológica para o setor de Zootecnia.

Segundo a doutora Solange Cecília de Lima, esposa de Max Gonçalves de Lima e pesquisadora da parte experimental do Projeto, até o final de 2011 toda a área de pastagens da fazenda já deve estar recuperada e pronta para ser ativada.

"Nós temos o prazo de três anos para concluir o projeto, e agora falta pouco". Em seguida, o próximo desafio a ser lançado é o objetivo de se chegar a oito mil cabeças de gado em dois anos, isto é, até meados de 2010.

A Fazenda Julia & Analu passou por muitos processos de melhoria, com uma construção de um novo curral, mais perto da casa sede e, portanto, mais acessível a todos. Mesmo assim o maior orgulho dos responsáveis pelo projeto é a nova colônia de casas dos 22 funcionários da fazenda. Antes só existiam cinco casas.

Segundo Henrique, essa era a grande prioridade da parte administrativa, já que antes da construção do novo espaço os funcionários casados mais antigos moravam na fazenda, mas os demais residiam na cidade de Lagoa Seca.

“Logo que retornei da França, tratamos de agilizar a construção de outras dezessete casas, todas no mesmo padrão das cinco que já existiam e mobiliadas com todo o conforto. Construímos, ainda, uma enfermaria equipada com dois gabinetes odontológicos”, lembra.

Hoje os resultados dos investimentos já são visíveis a todos, principalmente aos próprios funcionários. Na enfermaria o Serviço de Enfermagem Pediátrica tem procurado proporcionar, durante o processo de assistir, a interação da criança com a mãe, familiares e equipe multidisciplinar.

Ao adotarmos este tipo de assistência, acreditamos que a mesma envolva uma somatória de condições que determinam a ação de cada elemento da equipe.

O processo técnico-científico, responsabilidade, envolvimento com o serviço, bom desempenho aliado à satisfação pessoal do profissional da saúde são condições que acreditamos necessárias para atender ao binômio criança-mãe.

A missão da enfermaria: “Prestação de assistência à criança doente, dependente dos empregados da fazenda, enquanto ser humano que tem necessidades próprias, mediante uma sistematização assistencial embasada em conhecimentos técnico-científicos”, explicou Henrique.

A sistematização da assistência é feita através de algumas etapas do processo de enfermagem: coleta de dados, prescrição e evolução de enfermagem. A assistência é integral, isto é, o funcionário assume todos os cuidados referentes à criança sob sua responsabilidade, sem divisão por tarefas.

Também vimos à necessidade de contratar profissionais qualificados para tratar de todos os animais, por espécies (raças), da fazenda. Contratamos, também, profissionais do ramo da perfuração e ampliamos para seis o número de poços perfurados. Claro que tudo isso é em função das hortaliças, dos animais e do plantio de uma forma geral.

Observação: Este texto será revisado e terá continuidade.