O Julgamento

Depois de sofrer inúmeras baixas e ter varias espécies extintas o Conselho Planetário resolveu apelar à mãe-natureza. Atitude tomada depois da aversão de diversas espécies contra a espécie humana. O Conselho recebeu um abaixo-assinado, em que espécies diversas exigem a extinção da espécie humana.

Alguns animais e plantas, simpatizantes da espécie humana, discursava a favor dos homens, alegando que não são todos ruins. Os beija-flores eram os mais eufóricos em seus discursos, devido à amizade com o humano Augusto Ruschi.

A Mãe-Natureza recebeu o abaixo-assinado das mãos do leão. Sabedora das atrocidades que os seres humanos cometiam não se surpreendeu com a manifestação, porém ficou atônica com o pedido. Após ler as reivindicações das espécies que habitam o planeta, solicitou que nomeassem um representante terrestre, aquático e um aéreo. Exigiu, também, que alguma espécie viesse para defender os homens. E, decidiu que no primeiro dia do inverno, junto com os representantes, iria resolver a situação.

No dia fixado, vieram os seguintes representantes: da terra, o leão; dos mares, o golfinho; e do ares, a águia. Ambos estavam curiosos em saber quem viria defender a espécie acusada. Com um vôo rasante um colibri invadiu a sala-de-reunião, e pôs-se no lugar de direito.

A Mãe-Natureza com sua sabedoria e paciência decretou aberta à reunião. O primeiro a falar foi o leão. Esse discorreu a respeito das atrocidades que o homem vem cometendo no ambiente terrestre, e enfatizou os contínuos desmatamentos. A águia com sua visão ecumênica relatou as mudanças ocorridas nos ecossistemas devido à interferência humana. O golfinho, por sua vez, proferiu que os testes nucleares atingiram, até, as profundezas do oceano, causando carnificina. Enfim, a Mãe-Natureza deu a palavra ao colibri. Todos estavam atentos para ouvir o “defensor dos homens”. Ele, parado no alto, explanou que alguns homens fizeram descobertas profícuas para o meio ambiente, e que outros lutavam para restabelecer a paz e o equilíbrio na natureza. Refutações, quase que inaudíveis, foram proferidas.

Após, ouvir a todos, a Mãe-Natureza com sua sapiência desmedida começou a falar: “ Desde a gênese, passamos por momentos difíceis, evoluções necessárias, eras complicadas, mas sempre conseguimos convalescer a harmonia e o equilíbrio. Com a proliferação e a evolução da espécie humana, unida ao advento da ganância, da ambição, do egoísmo, peculiaridades dessa espécie, receio que não conseguiremos restaurar o equilíbrio. O arrivismo e o capitalismo enraizaram-se nos homens, e toda a natureza padece”.

O leão, com sua monarquia, falou que restaurar a ordem Ela deveria aniquilar a espécie humana. O beija-flor retrucou, citando o amigo Augusto Ruschi, o qual realizava um trabalho voltado para a preservação de diversas espécies. A Mãe-Natureza jamais foi a favor da morte, porém temia que essa fosse à única solução. Ela ruminou e decidiu: “Vocês têm um mês para me trazerem provas que me convence a aniquilar os homens”. E, apontando para o colibri disse: “traga-me esse seu amigo-homem, e as provas favoráveis a ele e a espécie humana”.

Desde então, iniciou a procura de provas que incriminam ou inocentam. O beija-flor, que já contara ao Augusto Rushi sobre a subversão das espécies, foi ao encontro do mesmo, informa-lo a respeito do ultimato. Ao saber, Rushi começou a juntar um acervo que comprovasse a importância e a consciência da espécie humana. Ele sabia que seria difícil obter a absolvição, porém como sempre foi um defensor das espécies, não seria agora que desistiria de preserva a sua própria. Ironicamente, um defensor da natureza tendo que se defender das acusações da mesma.

No dia determinado pela Mãe-Natureza, todos adentraram dentro de uma linda caverna. A ansiedade tomava conta de todos. Augusto Rushi, impressionado com a beleza daquela caverna, caminhava rumo à sala do julgamento. Todos estavam em seus devidos lugares, quando a Mãe-Natureza explicou a Rushi que tinha lhe dado o dom de ouvir e falar com os animais, unicamente para ele defender os homens naquele julgamento. Ele tentava enxergar a Mãe-Natureza, mas uma forte luz o ofuscava. Isto não ocorria com os demais animais, portanto ele só ouvia a voz da “juíza”.

O leão começou a acusação. Trouxe dados que comprovavam as diversas espécies de animais que foram extintas pela ação humana. A águia trouxe uns “slides” que mostravam como era o Planeta antes e depois das ações do homem. Os presentes tiveram acesso a uma visão panorâmica de todos os lugares da Terra. O golfinho, por sua vez, mostrou fotos dos mutilados dos mares, as conseqüências que a poluição e a degradação trouxeram aos mares. Por fim, os três se uniram e revelaram como será o planeta se os seres humanos continuarem com suas atrocidades.

Com um olhar de indignação, a Mãe-Natureza deu a palavra ao Augusto Rushi. As revelações feitas pelos animais deixaram-no atônico, e envergonhado de ser um humano. Ele levantou-se para iniciar sua defesa, porem ao ver aqueles animais tão tristes e preocupados com o futuro das espécies, ficou compadecido e pediu perdão por todos os holocaustos cometido pela humanidade, e continuou: “não tenho nada a falar em minha defesa, pois tudo aquilo que planejei, foi sucumbido pela veracidade dos fatos, portanto sou réu – confesso”.

Os outros animais ficaram eufóricos com a confissão. Agora, estava fácil condenar a humanidade. O beija-flor resolveu defender os homens, e expôs os “slides” que Augusto Rushi trouxera consigo. Uma vida dedicada para a preservação da natureza, estava exposta para todos verem. Rushi permanecia inerte, as revelações dos animais levaram-no a uma morte de espírito. Terminada a defesa, a Mãe-Natureza, sabedora de tudo aquilo que lhe haviam apresentado, decretou: “Augusto Rushi sabemos que você é um ser de bom coração, sempre lutou pela preservação da natureza e, consequentemente da sua espécie, entretanto é inconcebível que a humanidade continue com a destruição do Planeta, por isso condeno-te a conscientizar a humanidade sobre os males que ela vem causando à natureza, e a ensiná-los que o futuro do Planeta e do próprio homem depende dessa conscientização. Deixo explícito que o não cumprimento dessa ordem acarretará no fim da espécie humana e de diversas espécies”.

Augusto Rushi acordara todo suado debaixo de um pé de jequitibá. Tinha em média 10 anos de idade, adormeceu ali na noite passada, após ficar observando algumas plantas e pássaros. Não lembrava de quase nada do sonho, apenas da incumbência que tinha pela frente.

Durante toda sua vida se dedicou a essa conscientização, conseguiu muitos epígonos e colaboradores, contudo a humanidade continua destruindo a natureza e a si mesmo. Augusto Rushi, ainda, não conseguiu cumprir sua missão, porém enquanto existir um beija-flor, seus ensinamentos e sua missão permaneceram vivos. Lutou com a força de um Leão contra as ambições capitalistas, com uma visão de Águia enxergou a importância da natureza, com a inteligência de um Golfinho criou diversos projetos que ajudam na preservação, e como um BEIJA-FLOR pede misericórdia à Mãe-Natureza.