O Cavaleiro Solitário - Capítulo 4

Capítulo 04 - Construção de objetivos.

Catarine permaneceu muda por algumas semanas após a tragédia que viu acontecer. Quando voltou a falar, passou a ser Lanna, pois nunca teve interesse em dizer o nome verdadeiro e encontrou na comunidade de viajantes um novo lar. Foi a forma que encontrou para fugir do medo que adquiriu como Catarine.

Após ter se recuperado, Lanna começou a aprender a ler, coisa que poucos sabiam no reino. Diana tornou-se sua tutora e ensinava-lhe aos poucos os costumes dos viajantes. Cada pessoa tinha uma obrigação dentro do grupo e não poderia ser diferente para Lanna.

Diana fazia parte do grupo que liderava os viajantes. Junto a ela, mais quatro homens e uma mulher, cada um liderando uma área específica.

Diana era responsável pela educação de todos os viajantes. Tinha como principal função ensinar todos a ler, além de ensinar os costumes, crenças e lendas da região. Diana tinha também a responsabilidade de inserir cada criança numa das áreas em que se subdividiam os viajantes.

Lanna, por ter demonstrado um ótimo vigor desde o princípio, foi encaminhada a Rufus, que era o responsável pelo treinamento com armas brancas dos viajantes. Rufus era um homem alto, forte, cabelos curtos e grisalhos, olhos bem negros, aparência muito séria, mas também um verdadeiro brincalhão. Ele acreditava que a melhor forma de ensinar qualquer coisa era fazer do aprendizado algo divertido, principalmente se fossem crianças. Mas não costumava “pegar leve” com seus alunos, pois queria sempre ver evolução. Ao mesmo tempo em que era brincalhão, era muito exigente.

Já nas primeiras semanas, Lanna progrediu. Estava aprendendo com uma pequena espada de madeira a fazer movimentos ágeis. Lanna, agora já com sete anos, demonstrou para os viajantes uma aptidão pouco vista em crianças da mesma idade, algo que deveria ser muito bem explorado e cuidado.

Não demoraria muito para Lanna começar a treinar com uma espada verdadeira. Como no vilarejo não tinham armas leves, Rufus confeccionou uma pequena espada, com um cabo revestido em madeira de lei e, em alto-relevo, o desenho de uma chama. A espada feita sob medida tinha peso ideal para o tamanho e idade de Lanna.

No dia que Rufus entregou a espada para Lanna, entendeu um pouco mais sobre a pequena menina que pouco falava.

- Lanna, fiz algo para você.

Rufus estendeu a mão, segurando a espada, embainhada em couro e metal nos fechos. Lanna, com um leve sorriso, apenas a colocou sobre o colo.

- Não vai ver a espada? Pode desembainhar!

- Desculpe.

- Vamos Lanna, não sinta-se envergonhada. Você é a aluna que mais se destacou. E em tão pouco tempo! Parece até que nasceu para isso!

- Eu brincava com meu irmão, com pedaços de madeira.

- Entendo. Mas apenas brincar não lhe daria habilidade para manusear uma espada.

- Ele me ensinava a girar.

- E você faz isso muito bem. Em apenas cinco meses, aprendeu muito fácil tudo o que eu ensino em um ano aos demais alunos de mesma idade. Você tem que pegar firme e se esforçar para evoluir mais!

- Sim.

Lanna desembainhou a espada e a movimentou sem nenhuma dificuldade. Apesar de seus setes anos, Lanna sabia identificar na lâmina o quão bom era seu corte. Ela girou a espada duas vezes, refletindo a luz do sol nos olhos de Diana, que observava a cena não muito longe dali.

- Muito obrigada Rufus.

Rufus apenas balançou a cabeça positivamente, virou-se e caminhou em direção aos demais alunos, que praticavam próximos dali.

À noite, Diana foi até os aposentos de Rufus para conversar.

- Eu vi quando você entregou a espada para a Lanna. Acha mesmo que ela já está preparada para treinar assim?

- Bem Diana, hoje eu disse para a Lanna que ela conseguiu aprender em cinco meses o que normalmente leva-se um ano para aprender.

- Sim, tudo bem. Mas ela tem apenas sete anos. Não acha que está acelerando demais?

- Na verdade Diana, não! Apesar de ter apenas sete anos, ela não desenvolveu apenas o que eu lhe disse.

- Então?

- A Lanna tem um dom natural, uma agilidade incrível, superior a agilidade dos meninos. Ela me lembra muito a você, quando começou a aprender a usar uma espada, mas com um diferencial.

- E qual é esse diferencial?

- Quando eu disse a você que tinha aprendido em cinco meses o que levaria um ano para aprender, falei a verdade.

- Quer dizer que a Lanna...?

- Sim, a Lanna aprendeu muito mais que isso. E você tinha dez anos. Ela tem apenas sete.

Rufus sorriu levemente, levantou-se e andou até as costas de Diana e apoiou a mão esquerda sobre seu ombro, com carinho.

- Diana, logo ela irá treinar com você. Acredito que em um ano, não terei mais o que ensinar a ela.

Diana não falou nada. Apenas virou-se para Rufus, demonstrando uma expressão de total espanto.

- Você levou quatro anos para me superar Diana, depois acabou desenvolvendo técnicas próprias, melhores e mais eficientes que as minhas. Você foi minha melhor aluna, mas a Lanna está superando você quanto ao aprendizado. Vou ainda ensinar a ela algumas coisas, mas como falei, em um ano já não terei mais o que ensinar a ela...

- Entendo. Uma menina prodígio.

- Sim. Tal como você foi, só que mais nova e mais veloz.

- Então Rufus, daqui um ano, tornar-me-ei tutora da Lanna. Mas espero que ele esteja tão boa quanto você diz que estará!

- Pode deixar. Não falhei com você, não falharei com ela.