NÓS FIZEMOS AMOR

Vou confessar: Foi excitação à primeira vista, ou talvez, a primeira conversa. Eu não sei o que aconteceu comigo; quis me controlar, mordi o canto dos lábios, passei a mão na cintura e até joguei os cabelos de um lado para outro. Foram inúteis as tentativas de me acalmar, a verdade é que eu estava completamente molhada ali na sua frente. E latejava, eu latejava como uma fêmea que acabara de encontrar seu macho.

Os assuntos surgiam, quase que, independente da nossa permissão. Você sensivelmente parafraseava Drummond e Leminski, e eu desconfio que esse era o motivo do meu viço. O vento que invadia a minha pele também anunciava a chuva, mas não era o suficiente para abaixar a minha febre.

Sua camiseta branca combinava com o meu vestido preto e tinham outras combinações, coincidências, encaixes perfeitos, que eu só saberia mais tarde. A chuva caiu forte e intensa. Caminhávamos em direção a algum abrigo, devagar devagar, como quem não se importava em molhar-se. Naquele momento não haveria abrigo possível, nós então seriamos o abrigo um do outro.

Eu só não sabia se estava molhada das águas do céu ou molhada de mim mesma, dos meus desejos, dos meus próprios líquidos. Mas esse pensamento não teria a menor importância se eu já imaginasse, que aquele seria o homem que iria me secar para sempre.

Nós nos abraçamos em uma calçada de rua larga. A enxurrada molhava-nos os pés. A minha mão e a sua estavam juntas. Eu só não me lembro se nós transamos, mas certamente nós fizemos amor.

Sintia Lira
Enviado por Sintia Lira em 21/11/2008
Reeditado em 16/04/2009
Código do texto: T1296521
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