O MUNDO SECRETO DE DOUG SWANP

Amigos do rECANTO, abaixo iniciarei uma série de postagens de um projeto que estou trabalhando. É a criação de um livro, que começei a escrever, e que colocarei os capítulos aqui no blog, e obviamente faço isso para que vocês deêm opinião e a sua contribuição para as melhorias sempre necessárias. Conto com a ajuda de vocês: A baixo o primeiro capítulo:

O MUNDO SECRETO DE DOUG SWANP

SETE DIAS ANTES

A paisagem era inóspita. Doug Swanp nunca estivera ali. O terreno era plano, coberto por trigo que serpenteava dançando movido pelo vento que deitava-o ora pra um lado, ora pra outro. O campo parecia deserto, não fosse á velha ponte de madeira, e o velho que fitava Doug na cabeceira. Deviam estar uns cem metros de distância pensou o garoto. O velho tinha cabelos longos, negros como o petróleo. Sua idade só podia ser percebida pelas rugas da idade, e pela barba mais branca que a neve. Eram um individuo muito particular.

Doug Swanp era avesso a novidades. Seu mundo não era muito extenso. Não tinha amigos, e seu principal companheiro era uma mp3 que passava o dia inteiro infiltrado em suas orelhas. Estranhava a ausência deles naquele momento. Havia completado quinze anos um mês antes, e nem o passar dos dias, e a chegada na melhor idade da adolescência desfaziam sua cara enferruscada. Doug era também um jovem muito particular. Ao contrário dos outros como ele, não vivia num grupo definido. A turma do futebol, do truco, dos jogadores de tíbia, ou outras tribos do gênero... Embora conhecesse todas as tribos e até circulasse por muitas delas, Doug era extremamente solitário.

Por isso não ligava a mínima para o deserto onde andava. Ele gostava de andar sozinho. A curiosidade o acompanhava, então caminhou até a ponte. Cada passo dava mais nitidez ao contorno da figura do velho, que fazia movimentos como se convidasse o garoto atravessar a ponte. “Dejavu”. Disse Doug, tendo a nítida sensação de já ter vivenciado aquele momento. E realmente já vivera, ou pelo menos experiência semelhante.

Era a terceira noite que o sonho se repetia. Mesmo acordado com o estridente som do despertador, Doug podia recordar com tamanha clareza os detalhes da ponte que mais lhe parecia uma gigante casa de cupins. Talvez fosse o aspecto frágil, coberto de musgos e tábuas quebradas que desencorajavam o jovem a atravessá-la. A profundidade do cânion que cortava os trigais em duas partes, também contribuía para a resistência de Swanp. Sem falar na estranha figura que o aguardava do outro lado. “Nos dias de hoje, nem em velhinhos podemos confiar” dizia para si mesmo. De rosto lavado, café tomado, partiu para mais um dia de aula, mas com o sonho repetido lhe martelando os pensamentos.

Doug Swanp era um jovem introspectivo diria psicanalistas, se por acaso ele visitasse um destes. Sua vida era um mistério. Não que ele vivesse tais situações, ou assim quisesse. O fato é que praticamente ninguém se interessava por ele. Era um invisível aparente. Ou seja, ele estava ali, todos o viam, o conheciam, mas na verdade, ninguém sabia maiores detalhes sobre ele, sobre sua vida. Nem mesmo seus pais.

O primeiro filho, num todo de cinco irmãos, Swanp foi sendo esquecido aos poucos pela necessidade de cuidado com seus irmãos menores. Do tempo de atenção, a vida já não lhe permitia mais lembranças, pois ainda era muito novo quando seu primeiro irmão chegou. E as coisas fizeram só complicar, até a chegada da caçula, quando ele já havia completado seus doze anos.

Mas ele nunca reclamou. Nunca ninguém soube do que sentia, se bem verdade que também nunca alguém lhe perguntou algo. Assim vivia num mundo particular, num abismo, onde apenas ele conhecia cada passo de sua história, ou cada imagem turva de seus sonhos.

Sua rotina era simples. Da casa para escola, e desta para casa. Nunca fora um aluno considerado acima da média, porém também nunca esteve na turma da bagunça, e assim estava iniciando o ensino médio sem a necessidade de um acompanhamento de sua mãe. Embora ela não tivesse muito tempo, pois tinha de trabalhar, já que sustentar e educar cinco bocas famintas e em crescimento, não era nenhuma tarefa fácil. Por esse motivo era duro com seus irmãos, estes sim aventureiros, e que semana sim, semana não exigiam a presença de Dona Madalena na escola. Ás vezes se achava injustiçado por não dar problemas. Sua mãe conhecia muito mais aos outros que a ele, que carregava em seus olhos distantes uma grande incógnita.

No fundo ele queria ser como os outros, errar, se aventurar, talvez cometer uma loucura. Mas não conseguia. Não sei ao certo se demasiada responsabilidade, ou quem sabe medo o prendia distantes de seus sonhos.

Doug Swanp sonhava ser grande. Ah! Sim. Isto ele sonhava. Seu futuro ainda incerto como a todos os adolescentes o martirizava. Sabia que seus sonhos eram enormes comparados a sua realidade. Isto muitas vezes o prendia num mundo platônico, pois nem sempre os passos a serem dados para chegar ao topo são fáceis. Disso ele já sabia aos quinze anos.

Seu coração se emaranhava em teias de sentimentos confusos, e os sonhos repetidos o davam a impressão de estar enlouquecendo. Era um peso ainda maior, pois não tinha com quem compartilhar, e passou uma manhã inteira sem ouvir as fórmulas geométricas de trigonometria ensinadas pelo professor Assis. Sua mente era uma grande rodovia com tráfego intenso, e, automóveis sem destino.

No regresso para casa as imagens do que vira enquanto adormecido pelo sono, se juntavam em frações de fumaça cada vez mais nítida. Naquele momento enquanto caminhava sobre a calçada era como se dois mundos se fundissem num só, mas Doug Swanp não estava em nenhum deles. Absorto quase foi atropela quando foi atravessar para o outro lado, onde o pátio de sua casa o esperava.

Fez suas tarefas em casa, pois cada um dos irmãos as tinha. Elas estavam devidamente registradas num cronograma de atividades posto na geladeira e assinado por Dona Madalena. Era o jeito que encontrara para manter a ordem em casa, já que estava distante o dia inteiro. Quando ela chegou swanp já estava em seu quarto. Se retirara para ler, gostava disto. Talvez esta preferência ficasse atrás apenas do seu gosto pelo sono. Doug era um verdadeiro dorminhoco.

Pensador, muitas teorias lhe vinham na cabeça. Ouviu em algum lugar que dois terços da vida se passa dormindo. Logo calculou que caso chegasse aos cem anos como seu vô Asdrubál, viveria destes pelo menos trinta e três anos em pleno sono profundo. “Isto é muito tempo. Muito tempo”. Pensava em voz alta. Muitas guerras ocorreram em menos tempo, muitos homens levaram menos anos que isso, para ganhar fama e dinheiro, muitos casamentos jamais chegaram a tal longevidade, e mesmo assim foram eternos. Doug Swanp via com uma clareza a extensão do simples ato de adormecer. Talvez por isso conjecturava idéias mirabolantes. “E se fosse verdade”.

Naquela noite adormeceu cedo, e estava disposto a ver até onde o entranho velho o levaria, e talvez criasse coragem para atravessar a velha ponte de madeira.

A PONTE DAS DECISÕES

Naquela noite Doug Swanp se viu na mesma paisagem da noite de outrora. Apenas o céu se mostrava mais denso com nuvens carregadas trazendo um clima de suspense e apreensão. O velho estava do outro lado, e ao invés de convidar o garoto atravessar a ponte em ruínas, pôs-se a caminhar sobre ela.

A ponte tinha cerca de oitenta metros de comprimento. Era estreita e dificilmente duas pessoas poderiam caminhar em paralelo. Coberta por fungos e liquens, muitos insetos a utilizavam como moradia, o como caminho. Cada passo do velho em direção onde o jovem se encontrava o ranger da madeira em atrito com a ferrugem dos pregos ecoava no silêncio absoluto que pairava no ar. Ele caminhou por uns quarenta metros, postando-se bem no meio do caminho. Doug Swanp entendeu o recado, e sem trocar nenhuma palavra com o velho, começou a caminhar sobre a ponte. Nada mais era maior que o seu próprio medo.

Doug em vão tentava não olhar para baixo. Na primeira espiada ficou tonto, e não consegui ver o fundo do abismo por qual caminhava. Nem poderia, pois teve a sensação que o manto negro que se aprofundava na terra não tinha fim. Com passo muito lentos e vagarosos chegou a uma distância que podia ver o velho nitidamente. Próximo pode ver seus olhos azulados como um céu sem nuvens. Sua pele densamente judiada pelos anos. “Deve ser muito velho”. Pensou o jovem, ainda intrigado com os cabelos negros no velho.

– Doug Swanp. Enfim se encoraja chegar perto de seu destino. O primeiro passo é acreditar. Acredite, e seus olhos lhe trarão a verdadeira visão. Aquela que revela a verdade obscura sobre todas as coisas... Aquela que faz enxergar a realidade a que todos chamam de fantasia... Você Doug Swanp, só você poderá decidir, só você poderá escolher em manter os olhos da mente fechados ou abri-los para ver o que poucos viram. Doug Swanp, você escolhe, em acreditar, ou não acreditar, mas antes que você tome sua derradeira decisão saiba que muitas vidas dela dependerão...

O garoto emudeceu ao ouvir as palavras que vinham do velho com rouquidão e com um tom incisivo, como tática a influenciar a decisão. A cada frase, Doug fitava os olhos e as feições do interlocutor podendo observar cada músculo em movimento. Ele via verdade e medo neles.

– Quem é você? Apenas uma pergunta saltou da boca de Doug Swanp. Foi seu único pensamento, e suas únicas palavras que saltaram de seus lábios de forma pausada e quase incompreensível. – A grande questão aqui, é quem é você, e não sobre mim, jovem guerreiro. Retrucou o velho no mesmo tom de voz dominadora.

– Guerreiro? Você deve estar caducando. Já sei, é a idade. Desdenhou Doug Swanp.

– Não caçoe deste velho, moleque travesso! O que lhe traz aqui é um motivo muito maior que você possa imaginar. Você chegou até aqui é o grande sinal. Mas para que realmente nossas profecias possam ser confirmadas tudo depende das tuas atitudes, das tuas ações, e principalmente da sua escolha a ser tomada, aqui, na ponte das decisões.

– Ponte das decisões?

– Sim. Tudo começa nesta ponte. Aqui você deve fazer sua escolha. O velho seguia com sua fala melódica e fantasiosa até ser interpelado pelo jovem. – De que escolha você ta falando? – Faça-me o favor, não me interrompa. Falarei apenas o que posso. É neste lugar, onde você está, exatamente no meio do caminho, que a maior decisão de toda sua existência será tomada. Nunca houvera necessidade de alguém tão jovem passar por este lugar, mas não... Não há outra solução. Já disse para refletir, pois o que peço é muito... Mas a decisão é sua. Se atravessar para o outro lado, um novo horizonte se abrirá. Campos antes nunca vistos pelos homens, terras jamais descobertas... Tudo isso se abrirá como uma janela se abre num lar obscuro. Mas se resolver isto esteja preparado. Verá coisas que jamais pensou serem reais, mas que existam, estão aí, se cruzando em universos paralelos, mas que a cegueira dos humanos os impedem de enxergar. Mas acalme-se. A decisão de atravessar a ponte é tão somente sua. Você pode regressar o caminho já percorrido. Ela se despedaçará, e nunca mais a verá. Acordará apenas para o que já conhece, mas pode ter certeza que nada mudará.

O jovem ouviu as palavras do velho sem dar muita atenção, afinal sabia que tudo não passava de um sonho. Mesmo assim um temor originava calafrios em sua espinha, e ele relutava em tomar qualquer atitude. Petrificou onde estava. O velho nada mais disse, deu-lhe as costas e partiu para o outro lado. Doug Swanp estava sozinho.

CINCO DIAS ANTES

A cama estava emaranhada, como um ninho de animal inquieto. Lençóis remexidos a metros do beliche onde dormia. Seus outros dois irmãos ainda dormiam quando o fel amargo do despertar revelou-se em sua boca. Acordou angustiado, e com as imagens do sonho de outrora. “Ele se prossegue”. Pensava. Estava correto, já que desde o início da semana seus passeios oníricos apresentavam certa sequência, o que despertava sua curiosidade por saber onde aquele caminho o levaria.

Durante a manhã rumou direto para a biblioteca. Buscava algum livro sobre sonhos. Encontrou um, escondido numa prateleira qualquer. Tinha a capa negra, com letras em forma antiga num tom dourado. Dizia o título: O significado dos sonhos. Buscou algum significado para os objetos constantes em suas viagens noturnas, como o velho, o abismo, e a ponte. Não encontrou nenhuma resposta significativa, mas o fato de estar numa ponte em companhia de um velho, sobre um abismo sem fim, o trazia grandes temores, embora ainda fosse muito jovem para lidar com tais simbolismos.

Decepcionado, se resguardou em seu quarto, na solidão costumas. A vida lhe parecia distante, já que a casa ficava vazia, tão vazia que o silêncio era impactante. Seus dois irmãos que também estudavam pela manhã provavelmente estavam no campo de futebol, e a mais jovem, a caçula estudava durante a tarde. Apenas um rádio, ou a televisão lhe fazia companhia. Preferia a música que o embalava até adormecer com o vento quente de um ventilador lhe tocando os pés.

– Então Doug Swanp, Até quando postergará sua decisão? Para surpresa do garoto, estava novamente sobre a ponte, e no exato local onde terminara no sonho anterior. Toda aquela situação lhe deixava cada vez mais assustado, pois parecia estar conectado em dois mundos, já que mesmo sonhando, estava consciente. É como dormisse acordado, como seu o espaço onírico partilhasse da vida real.

A – Eu não compreendo. Quem é o senhor? O que quer de mim? Porque está me perseguindo? Foram as únicas palavras que Doug Swanp conseguiu dirigir ao estranho.

A – Sou Avohai. Sou um Guia Doug Swanp. Mas só guio os que se deixam guiar até seus destinos. O seu destino é grandioso. Mas ele não está escrito, está apenas sugerido pelo universo, e cabe ao seu próprio dono, nesse caso você, fazer sua escolha. Doug Swanp, o tempo é cada vez menor, e por isso urge sua escolha jovem. Não quero pressioná-lo, mas deverás logo ou cruzar para o lado de cá, ou regressar para sua inconsciência sobre a verdade absoluta nestes vastos mundos. Só grandes homens possuem esta oportunidade. Para você ela chegou cedo, mas confio no seu destino. Por isso estou aqui. Acredito em você, mesmo sendo este jovem tão receoso e indeciso.

O velho terminou suas palavras sem mais nada dizer. Apenas sacou de uma pequena bolsa um objeto que jogou pela ponte, deslizando até a proximidade de Doug Swanp. “Pegue, aqui está a prova de que isto é muito mais que um sonho”. Doug abaixou-se, e pegou o objeto. Era uma pulseira larga dum metal brilhoso, e com uma estrela em tons dourados. “É linda...”

Antes de olhar para o horizonte, Doug Swanp foi desperto por sua mãe que chegara do trabalho, e já havia aprontado o jantar. “Venha para mesa meu filho”. Disse Ela. Ele ao levantar-se percebeu que segurava algo estranho. Era uma pulseira.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 05/12/2008
Reeditado em 12/12/2008
Código do texto: T1320118
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