O homem e o gato de botas...

A menina torna a molhar o sapatinho outra vez: “Ah! É gostoso brincar na água da chuva! A enxurrada a descer rua abaixo...

Vai brincando em meio a folhas secas que nadam nas águas da chuva. Um barquinho de papel a navegar ultrapassando selvas e monstros invisíveis aos olhos adultos... Canta anunciando a felicidade de estar ali... Põe na boca uma folha verde... Iria usá-la como flauta? A tarde corre com ela sem ponteiros- O tempo é a suave canção de seu coração...

Depois vê um gato passando pela enxurrada... Um gato e um homem! Grita tal miado: “E o gato que faz na água?”... Começa novamente a chover. Umas gotas frias que lhe arrepiam a pele. Deseja uma poltrona macia e uma caneca de chocolate quente. Uma torrada com manteigas e o olhar brando da mãe. E chama-a como da outra vez em que ficara presa em uma história... Mas não sai o som de sua garganta!

Estremece. Agora já está numa calçada alta ao lado do homem e seu gato. Eles riem dela: um riso atrevido como de uma noite que chegara sem ser a hora... Pergunta-se pelo relógio... Não há tempo ali! O gato mia alto como se fora pisado no rabo. É gordo, olhos indagadores, a pele em cores desbotadas. Como se lesse seus pensamentos o homem murmura: “É de tantas caminhadas!”

Passam-se minutos e eles no mesmo lugar. Um cheiro de comida enche a tarde penetrando nas narinas da menina, fazendo-a sentir-se ainda mais longe de casa. Escuta o vento mandando-a seguir pela calçada... Inacreditáveis, os olhinhos pequenos veem borboletas de várias cores, mimosas flores abrindo-se à chuva e sapos coaxando em uma lagoa no fim da calçada.

Principiam a cantar cigarras como em noite encantada... O gato observa-a com o canto dos olhos cinza. Há um leve sorriso na face do homem. Vão andando e ultrapassam a lagoa que se abre em duas para eles passarem. Não se espanta! Comovida, mira o local... Deixa-se levar pelo olhar do gato... Um semblante que se faz ser doce e mistério. Ah! Mas tudo é tão estranho com o homem e seu gato! ... E deviam acontecer com eles coisas estranhas! Naquele local só havia eles. Quase falou baixinho que estava com frio e fome... Então...

O homem pega-lhe a mão e ela vê uma correntinha de ouro presa ao pescoço dele... Seus olhos solicitam a leitura. Novamente sem que falasse ele a entende! Há uma inscrição: “A menina do livro!”. Abre um largo sorriso com estrelinhas ao lado das covinhas: _ Ah! “O livro era mágico!” Tim... Tom... Tim... Tom... A menina vê quando o gato bate com as botas no tapete da varanda. A campainha soa: Trimmmmmmmmm...

Abre a porta de sua casa bem no exato momento em que os dois somem-se no tempo...

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 31/01/2009
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