Movida a paixão

Buscava inspiração no amor, na paixão.

Era realmente movida a sentimentos grandiosos, mesmo que muitas vezes passageiros. Se brigava com o ‘namorado’... Pronto! Saía um poema de arrepiar, até parecia que as palavras por si só falavam, dava impressão que saíam do papel e montavam um teatro perfeito em frente ao leitor .

Se arrumava um novo ‘paquera’. Nossa! Sentava em frente ao PC e só se ouviam as marteladas rápidas no teclado.

Mas, como nada é para sempre, quando desfazia uma relação, tornava-se uma pessoa triste, amarga e nem sentimentos conseguia demonstrar, pois estava como que vazia, destituída de qualquer emoção.

Era motivo de pena... Os ‘ex’, fossem eles reais ou virtuais diziam, no mesmo tom e com a mesmíssima expressão: ‘Bem feito, sentimentos foram usados ao seu bel prazer, agora eles se vingam, não povoarão mais seu coração e muito menos seus textos’.

Ela começou a ficar realmente preocupada. Será que um mal realmente a atacara?

Resolveu sair pra baladas, se produzia, tentava parecer a mulher fatal (ela realmente era linda), mas nada, nem um homem chegava perto dela. Nem um drink oferecia, parecia até que ela era portadora de uma doença contagiosa.

Nem mesmo as mulheres que sempre a admiravam e às vezes até alguma se insinuava... Nem mesmo uma única mulher...

Resolveu ir ao psiquiatra pensando que só podia ter algo de errado com sua cabeça.

Não queria e nem saberia viver sem escrever. Escrever para ela era a forma mais prazerosa de viver com sentimento de completude, em êxtase, em estado de graça.

Marcou o primeiro horário num dos muitos psiquiatras que encontrou na lista telefônica. Dr. Procópio, o nome dele.

Pensara por um momento desistir, mas quando lembrou que as páginas de seus escritos estavam vazias, persignou-se e saiu resolvida a ir a essa consulta.

Consultório ao centro da cidade, uma secretária vestida de muito bom gosto pediu que preenchesse uma ficha que logo o Dr. a atenderia.

Tão logo terminou, foi chamada a entrar no consultório. Para a surpresa dela, o Doutor, um lindo homem, sorria para ela e apertou a sua mão e colocou-a a vontade no suntuoso ambiente.

Ela transpirava muito apesar do ar condicionado e foi logo tirando o lenço da bolsa, porque já não conseguia conter as lágrimas e os soluços que lhe acometiam.

Mal sabia o médico que ela já estava curada. Tinha encontrado mais uma paixão.

Milena Campello
Enviado por Milena Campello em 16/02/2009
Reeditado em 06/01/2010
Código do texto: T1441718
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