a busca de lóris

Seus cabelos eram azuis, simplesmente o tom mais azul que alguém já vira naquele lugar, e era a única coisa azul a muitos kilômetros, tocavam os seus ombros, as pontas pareciam ser comidas por ratos, mas nem ratos moravam ali, todas desalinhadas; ela mesma cortava com um pedaço velho de navalha cega. Morava ali onde muitos temiam, o deserto dos mortos. No horizonte via um único castelo, cor de areia, o castelo de Mandros. Ela nunca foi até lá. Nunca deve um por quê. Ela passava o dia olhando para ele e imaginado como seria estar lá dentro, se erra mais fresco, e se tinha comida, mas mortos não precisavam de comida.

Seus olhos eram ainda mais azuis que seus cabelos, e sua pele era branca, inexplicavelmente branca para alguém que morra no deserto. Ela era sozinha, ah muito tempo deixara a sua família, e deste lá nunca mais encontrou o caminho de volta.

Vestia um vestido feito com peles de largados e por cima um espartilho feito de couro de boi marrom, com muitas fivelas o qual foi presente de sua mãe, era muito útil já que não tinha sutiã, os pés não usava nada, não encontrara nada que não fazia os seus pés sangrarem. O vestido deixava a mostra à marca que tinha em sua clavícula, era uma linha negra brilhante com algumas ramificações como um cipó com gavinhas, descia até desaparecer por entre seus seios.

Dormia em uma construção que já estava ali antes dela. Eram quadro paredes feitas de algum material que ela não conhecia, era extremamente liso e da mesma cor que a areia. Só tinha uma porta, sem janelas e sem teto, afinal nunca chovia, mas ela achava que seria bom ter um teto para fazer alguma sombra.

Era manhã e como toda manhã o céu estava vermelho, o vermelho que ficaria todo o dia, como sempre. A moça de cabelos azuis estava fazendo o que fazia todos os dias: cavando. Ela cavava cerca de meio metro na areia que ainda não estava quente, pois o frio da noite a esfriava lentamente e quando estava só um pouco morna, o frio se despedia e os sóis faziam a parte deles.

Cavou toda a areia para o lado até chegar em um solo vermelho e duro, que com a ajuda de um pedaço tordo de metal ela cavou alguns centímetros e lá encontrou o seu alimento. Um tubérculo, do tamanho de suas pernas, ela a tirou e a levou para o sol lá a deixou exposta sob a sua vigília. Afinal os lagartos não dispensariam uma oferta dessas.

Quando se deu meio dia, ela sempre fazia malabarismos para se livrar do sol escaldante, já que as suas quadro paredes não projetavam nem um único filete de sombra. Ela não podia nem tocar os pés na areia quente, então ela rumava para o único lugar que não era insuportavelmente quente.

Ficava a alguns metros de sua casa, se é que dá para chamar assim, antes de ir para lá pegou a sua capa velha de dentro da casa enrolou o tubérculo nela, e com o castelo de Mandros em suas costas, e o grande sol que era circundado pelo pequeno sol queimavam agora quase exatamente em cima de sua cabeça, fazendo o azul brilhar como nunca.

A luz deles era quase insuportável de tão branca, mas quando o pequeno sol era visível à luz ganhava um estranho tão avermelhado, e isso acontecia dezenas de vezes por dia. Do início ela não gostava, dava uma estranha sensação de não ser real de tudo não passar de um sonho e ela mesma não passar de uma mera miragem. , mas depois de anos ela se acostumara e ansiava por essa hora quando a luz não era tão implacavelmente cortante, onde podia dar um pouco de conforto para os seus olhos, e lembrar que a escuridão da noite é pior que a luz ofuscante do dia.

Andou até 4 montes de terra vermelha um deles maior, cerca de 5 metros de altura e largo como uma velha montanha corroída pelos ventos implacáveis. Nela havia uma rachadura por onde entrariam facilmente 5 homens lado a lado, foi lá que a moça de cabelos azuis entrou.

Dentro era relativamente grande, tinha um orifício na extremidade superiora por onde o sol jorrava raivoso por não conseguir iluminar toda a caverna. Nos cantos a sombra ainda dominava e deixava o recado de cautela e medo.

Na borda dos raios de sol, havia uma pequena poça de água, não encheria uma banheira, mas dava para matar a cede. Havia alguns lagartos dentro dela estavam se refrescando do calor, quando viram a moça eles fugiram o mais rápido que podiam para as sombras dos cantos, levantaram o lodo do fundo e agora ela esperaria por água limpa.

Não era os lagartos das sombras que a preocupavam, eram coisas maiores e piores que andavam durante toda à noite e procuravam lugares longe dos sóis do dia, e aquele era um bom lugar com água e sombra durante o meio dia. Ela ficaria ali somente o tempo necessário para passar o meio dia, e para comer o tubérculo seco, e beber.

O tirou da capa venha não estava mais tão quente, a abriu estava bichada como todas as outras, tirou os bichos que estavam mortos, cozidos pelos sol. Comeu a parte boa e o resto atirou para fora da caverna, para o longe, afinal não queria que mais ninguém que fosse maior que ela habitasse aquela caverna durante o meio dia.

Quando o sol já não fazia mais claridade dentro da caverna e a escuridão dos cantos andava determinada a tomar novamente todo o seu território ela saiu, antes que as criaturas que andavam com a sombra a vissem.

Quando estava fora da caverna o vento não mais sobrava, o que fazia a tarde ser ainda mais sufocante e quente. Ouviu o barulho de assas no céu grandes assas, levantou os olhos protegendo-os com a mão. O céu vermelho deve a sua uniformidade quebrada por grandes dragões, verdes um verde escuro, as escamas brilhavam como vidro refletido pelos sóis. Assas enormes garras que facilmente arrancaria a sua casa, e despedaçariam a carne de um batalhão de soldados.

A moça dos cabelos azuis ficou feliz, por que eles deixavam ali algo muito precioso. Afinal dragões realmente grandes produzem fezes realmente gigantes. E era isso que em noites de frio ela queimava. O seu estoque já estava no fim, e eles somente passavam duas vezes por ano. A moça não sabia se era por causa das estações do ano, já que ali só duas : dias quente e noites frias, e dias mais quentes e noites mais frias, mas eles sempre passavam e nunca paravam.

Projetavam sombras monstruosas que andavam rapidamente pelas areias, ela achava isso a coisa mais linda em que seus olhos já tiveram a permissão de olhar, e sozinha ela sorria para a sombra que cada vez ia para mais longe.

No mesmo instante que a sombra desapareceu no infinito ela começou a sua busca por fezes de dragão, ela teria duas noites para achar, pois depois nada mais sobraria afinal não era só ela que a usava, as criaturas da noite também a apreciavam assim como muitas criaturas do dia. Quando o sol estava perdendo um pouco de sua magnitude ela encontrou um monte de titica de dragão. Era muito parecido com fezes de vaca, exceto pela quantidade. Havia muitos pássaros em cima do mente, pequenos pássaros negros e beges esses que eram maiores.

Mas a moça de cabelos azuis não pretendia escalar o monte, ela catava os respingos nos arredores do monte, esses já estavam completamente secos e eram de bom tamanho para carregar, pareciam como panquecas só que maiores, e o cheiro era algo detestável, como água podre, mas ela já estava acostumada com ele e de certa forma o achava agradável pois sabia que as noites mais frias agora não seriam tão frias assim.

Pequenos lagartos corriam para dentro do esterco que no interior estava mole e quente, estavam realmente agitados. A moça de cabelos azuis sabia que até amanhã tudo o que sobraria daquele monte de merda seria apenas marcas na areia que ela mesma se incumbiria de eliminar, e algum cheiro, que o vento levaria par longe atraindo mais criaturas, que se decepcionariam.

Os pássaros gritavam furiosos e o som era de fazer o mais corajoso guerreiro pensar duas vezes antes de se aproximar da origem do ruído, e os lagartos brigavam. Um maior e mais velho empurrou com mordidas um menor para fora do esterco e junto com eles saiu um ovo vermelho sangue. A moça de cabelos azuis o viu e cuidadosamente andou até ele que era do tamanho de sua cabeça, ela o pegou junto com toda bosta seca que conseguia carregar e apressou o passo para a sua casa.

Seria aquele um ovo de dragão? Pensou ela empolgada, seria ótimo se fosse, só poderia ser, o que mais seria? Ela sentia se solitária e seria muito bom ter a companhia de alguém, mesmo sendo um animal. Quando estava a alguns metros de sua casa viu duas pessoas paradas na frente da casa, ela deixou a merda cair e colocou o ovo cuidadosamente no chão.

Ela os olhou e eles pareciam estranhamente humanos, seu coração disparou e sentiu todo os seus músculos enrijeceram, estariam eles vivos? Ela permaneceu cerca de 15 minutos parada só observando. Eles ainda estavam lá na frente da porta de sua casa, até que deram cerca de 7 passos em direção da moça de cabelos azuis e simplesmente desapareceram com a primeira rajada de vento da tarde. A moça relaxou, eram mortos.

As vezes ela se encontrava com eles, mas ainda sentia calafrios quando os via. Ela não gostava deles, nunca falaram com ela e nem ela com eles. Ajuntou a merda e o ovo e andou até a sua casa, na areia em frente de sua porta estava escrito:

Lhaina.

O vento que tirava a sensação de sufocamento estava apagando as letras.

Lhaina. Pensou ela. Não era a primeira vez que eles escrevem isso. Não era esse o seu nome, de fato ela mal lembrava dele, mas sabia que não era esse, do começo eles a assustavam, mas não mais. Não sabia por que escreviam aquilo, mas de tanto eles escrever ela as vezes pensava que aquele era o seu nome. Afinal ninguém a chamava ali só aquelas letras desenhadas por mortos, que o vento apagava.

Ela tirou esse pensamento da mente e entrou na casa. Jogou a bosta seca num canto junto com um punhado que já estava lá. Pegou o ovo e o colocou no chão sentou ao seu lado e o olhava como se poderia adivinhar o que tinha lá dentro.

Ele quase se arrependeu de ter o pego, faria o que com isso, e se de lá nasceria um pequeno dragão que garantia ela tinha dele não he arrancar os olhos? E se de alguma maneira sua mãe o encontrasse, ela com certeza a mataria. Mas antes a ação por impulso tinha agora conseqüências maiores, ela não poderia o pôr para fora, pois com certeza seria o seu fim, e aquele ovo teve muita sorte dela o ter achado.

Ela dormiu embalada pelo ruído do vento e da areia batendo contar a parede e o gruído das criaturas da noite, mas teve pesadelos com o ovo, e com dragões. Na manhã acordara com o calor já a envolvendo, a embrulhando, ela levantou e a primeira coisa que se lembrou foi que teria de buscar mais combustível para a sua fogueira, já que hoje era a sua última chance. Andou para a porta e foi quando viu cascas vermelhas com o interior negro, espalhadas por sua casa.

O ovo. -Pensou ela-, se partira durante a noite.

Olhou em volta e não viu nada, ouviu um estranho barulho no meio das bostas secas e algo se mexendo. Pegou a sua faca de 20 centímetros a tirou da bainha e andou para mais perto do monte de merda. Ouvia agora um ruído como o de madeira sendo esfregada contra madeira. Ela olhou para a faca, já não tinha mais fio, mas ainda tinha uma ponta que poderia furar a carne de seja lá o que saiu daquele ovo.

Ela começou de cavar no monte de merda seca até que viu dois olhos vermelhos como rubis. Ela os olhava e apertava com mais força o cabo da faca. Até que quando ela iria chutar um punhado de merda seca para o lado a criatura saiu, e ela ficou no limpo parada ambos se olhavam, os olhos vermelhos fitavam os olhos azuis.

Ela tinha o tamanho dos dois punhos da moça de cabelos azuis, e essencialmente tinha a aparência de um verme, era branco leitoso, com muitas dobras, sem pernas e sem pescoço, apenas o par de olhos e uma boca cumprida de onde saia duas pressas como as dos leões marinhos.

“Um verme de tubérculo gigante”.- pensou decepcionada a moça.- “nada de dragões ou pássaros, só um verme crescido”.

Eles competiam por alimento já que o verme comia as mesmas coisas que ela, ou seja, essencialmente tubérculos. Ela nunca falou com ele só pensava nele como um verme, era seu companheiro, apesar dele se rastejar por debaixo do solo, o que de certa forma a ajudava, pois muitas vezes ele deixava restos de tubérculos á mostra.

Nas noites mais frias ele dormia enrolado nela na beira da fogueira, e ela se sentia aquecida de dentro para fora, e sabia que lá fora havia muito mais que apenas um seco e traiçoeiro deserto.

O tempo passou e ele crescera estava do cumprimento e da grossura do braço dela, ela gostava dele, não estava mais sozinha agora tinha uma companhia alguém com quem se preocupar, tinha se esquecido como isso era horrível e bom ao mesmo tempo. Era só um verme, disso ela sabia, mas era o seu amigo e companheiro de todos os dias.

Era uma manhã mais vermelha que de costume, ela ainda sentava e olhava para o castelo de Mandros o castelo dos mortos, mas agora além dos olhos azuis os olhos vermelhos também pousavam sobre as muralhas milenares daquele lugar. O verme deitava ao seu lado quieto, como que se compreendesse que aquilo era um tipo de ritual que a moça de cabelos azuis fazia muito antes dele aparecer esse lugar.

Uma enorme sombra passou rapidamente sobre eles, a moça despertou do seu estranho transe e olhou para cima, eram novamente os dragões, os dragões verdes estavam voltando. O verme se agitou parecia estranhamente perturbado e excitado.

A moça dos cabelos azuis o olhava, com preocupação, nunca o vira assim. O verme se amontoou o máximo que pode, contraindo o seu corpo, e como uma mola quando pressionada ele saltou, para cima, em direção dos dragões que sobrevoavam.

A moça gritou o mais alto que pode:

- VERME! VERME!

O verme se enroscou no pé do dragão, os seus dentes fizeram um pequeno corte, profundo, mas sem sangue, por onde ele entrou, para dentro do corpo escamoso.

- Verme, verme...

Falava a moça sem prestar atenção na sua voz, que a muito não a ouvia:

- o que fez...Como pode me deixar?

Murmurava, baixinho, olhando os dragões indo para longe em direção do castelo de Mandros.

Agora ela estava novamente só...Era só um verme ela sabia disso...Nunca deixou de ser um verme...Mas era a única criatura que lhe fizera companhia. Era só um verme...

Agora ela sabia que aquelas criaturas gigantes que cuspiam fogo quando ameaçadas podiam trazer muito mais que as belas sombras que corriam livremente pelo chão árido ou do que combustível para alimentar a sua fogueira. Podiam trazer vida, apesar de ser bizarra e estranha. A moça dos cabelos azuis se questionou se não era hora de sair dali também, mas como? E para onde? Se partisse morreria no deserto antes de achar a saída, água ou alma viva.

Quando ela voltou para casa viu as letras desenhadas na areia com pequenos grãozinhos de terra:

Lhaina.

Ela suspirou, e com o lamento da partida de um bom amigo em seu coração, ele não tinha afeição por ela isso ela sabia, mas não mudaria o fato dela o ter; gritou, para o deserto a sua frente:

- NÃO SOU LHAINA!

Ela não esperava resposta, e também não obteve uma.

valmi
Enviado por valmi em 19/05/2009
Código do texto: T1602406