RESPEITÁVEL PUBLICO!

RESPEITÁVEL PÚBLICO!

O comboio estava quase chegando ao local onde o circo iria ficar. Logo depois de mais uma descida (eta lugarzinho pra ter sobe e desce nas estradas!). Do alto da carroceria ela o viu, estático e pensativo, parecia muito triste, sozinho num terreno baldio, logo no início de uma avenida movimentada e larga.

Ela fugiu do circo durante a madrugada, aproveitando-se da generosidade do domador que não gostava de prender os animais, principalmente aqueles que, como ela, não tinham muita facilidade de desaparecer ou causar dano à população. Ela estava com muita pena dele e tinha que ajudá-lo de qualquer maneira.

Foi fácil derrubar a cerca que envolvia a área dos animais. O cadeado que fechava o portão cedeu facilmente com uma leve pressão do seu imenso corpo. Ela sabia perfeitamente qual a função de portões e cadeados. Logo estava seguindo, aproveitando a sombra das árvores enquanto a cidade estava quase toda adormecida, em direção ao local em que ele estava.

Para ela não havia dificuldade, todo mundo sabe da capacidade dos elefantes em memorizar as coisas. Eles se lembram de tudo que aprendem, por isso mesmo são umas das principais atrações dos circos, nunca esquecem o que tem que fazer no momento certo.

Ela o encontrou na mesma posição em que o tinha visto, com o aspecto doentio, sofrendo, como ela logo constatou, pela ferida muito grande nas costas, com o couro rasgado, pobre coitado. Ficou muito penalizada ao ver uma criatura da sua mesma espécie naquela situação, abandonado pelos homens que fizeram uso dele, como faziam dela. Pensou que poderia ter o mesmo destino.

Nem imaginava como seria a sua vida longe do circo. E se ficasse doente como aquele pobre animal? Então, resolveu ser solidária com ele. Durante dois dias ficou ali, dando-lhe o máximo de atenção, alimentou-se das folhas e frutos que estavam ao seu alcance, provenientes de duas mangueiras que existiam no local. Estava com muita sede, mas não sabia onde encontrar água. Sentia cheiro dela correndo próximo, mas seu olfato lhe dizia que não era limpa. Estava amedrontada com o movimento de carros e do barulho infernal da cidade e resolveu ficar ali mesmo até que o pessoal do circo a encontrasse. Quem sabe poderiam ajudá-lo também. Se ela voltasse para o circo, o pobre animal iria continuar ali, sofrendo.

Segundo foi noticiado na imprensa local, uma elefanta de propriedade de um circo que estava instalado na cidade, foi encontrada muito fraca, num terreno baldio dois dias após ter fugido. Estava deitada em baixo de uma mangueira, num terreno baldio, ao lado das garagens do metrô, na Avenida Presidente Vargas, onde as escolas de samba deixam os restos de alegorias utilizadas no carnaval. Tinha lá, uma réplica perfeita de um elefante, se desfazendo com o tempo, que foi utilizada pela escola campeã do carnaval, jogada no lixo, depois de passar, deslumbrante pela avenida, no Sambódromo, para divertir os homens, assim como ela fazia no picadeiro. Assim escreveu o repórter.