DESEJO DE GRÁVIDA

Ninguém ignora desejo de mulher grávida. Tendo ou não fundamento, existe, mas, às vezes, algumas distintas damas exageram por implicância ou devido a algum fator inconsciente que eu desconheço.

Você já imaginou um desejo de tomar leite de vaca holandesa e por cima teria de ser preta e branca? Gozação? Negativo! Descontar no marido, safadão crônico, pulador de cerca dos mais renomados, com excelentes performances e prêmios até no exterior; mestrado e doutorado em alguns desses países onde a poligamia é norma, encaixaria melhor.

Até aí não há muita forçação de barra, mas pedir isso em torno das duas da madrugada é exagero! Mas o mestre dos garanhões nem se perturbou. Chamou o compadre que, por azar, estava pousando na sua casa naquela noite e foram atacar o problema de frente. Ele tinha uma facilidade incrível para resolver problemas aparentemente insolúveis, benza-o Deus! Tenho certeza que os poucos que estão lendo esta coluna conhecem um ou mais tipos desses a que eu estou referindo. Há aos montes!

O marido era daqueles que não acreditava em nada disso e bastante folgadão. Calmamente virou-se para o seu amigo com quem estava jogando cartas, tomando umas cervejinhas e disse:

- Fica frio, vamos terminar sossegados e depois vou buscar na fazenda de um amigo meu aqui perto! É vapt, vupt! Fica frio! (acho que naquela época ainda não existia esta expressão “fica frio”. Desculpem, mas eu achei que ela “pegava” bem aqui, e, dadas às características do marmanjo, se ela existisse, ele seguramente a teria usado).

Terminaram aquela rodada, Tomaram um cafezinho e fumaram tranquilamente um cigarro. Levantaram-se. O marido, meloso, meloso, alisando a barriguinha da mulher, pediu para ela pegar aquela leiteira de alumínio de tampa azul porque eles iriam buscar o leite da vaca holandesa preta e branca lá no curral do Zé Preto.

Saíram, pegaram o fusquinha e rumaram em direção ao centro da cidade. Pararam perto de uma padaria e, pelo jeito, o pessoal de lá já era bem conhecido do malandrão.

- Oi, Chico! Pega uma garrafa de leite e bota naquela água quente lá pra mornar um pouquinho só. Depois abre a garrafa e despeja o leite aqui nesta leiteira e bota um pouquinho de manteiga dentro, disse. Enquanto esperamos, traz uma Brahma e dois copos para a gente enganar o tempo! O amigo estava incrédulo.

- Ô rapaz! Pára com essa cara! Você não vai falar nada, vai? Então ela não tem como saber de jeito nenhum se é de vaca, de que raça e de que cor. Todo leite é branco mesmo e tem o mesmo gosto! Tô mornando ele um pouco e com a gordurinha da manteiga, ela vai acreditar que saiu da teta da vaca nesse instante! Isso não vai prejudicar em nada! Até melhor, porque vem tratado lá da cooperativa e não vai fazer mal ao neném. Parece que você pensa que sou um irresponsável!

Ainda encheu o amigo de pito. E assim foi feito. Voltaram tarde. Tomaram mais algumas cervejas e disse para a mulher que o compadre Zé Preto custou acordar, a vaca não estava no curral, deu trabalho, nhenhenhém danado, mentira pra todo lado. De fato, em casa a comadre bebeu bastante leite da vaca holandesa e ficou satisfeita da vida. Estava mesmo com um desejo daqueles. Maridão também feliz pelo dever cumprido e por ter demonstrado para a esposa um zelo ímpar. E, ela, coitada, se derreteu toda e, carinhosamente, deu um beijo muito caprichado e apaixonado no safado.

Meses depois nasceu o menino e estava lá o castigo pela safadeza, pela incredulidade. A criança nasceu com uma grande mancha preta e peluda no lombo, perto da anca direita e uma outra pegando parte da orelha, da vista, até a ponta do queixo, tal qual um bezerrinho holandês preto e branco. Ainda mais, diziam, tinha até um cotoco de rabo, lá nele, no traseiro, bem no final da espinha.

Hum! Hum! Cruz-credo!

Dbadini
Enviado por Dbadini em 12/07/2009
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