A superação da realidade pelo abnegado Tamuz.

Na infinita beleza do universo, todas as peças astrais desse imenso tabuleiro, possuem o dom da luz interior. E esta força que rege os seres médios a qual pertenço tanto eu como você. Mas como uma verbena que se fina, durante um sabbat , a nossa vida transmuta-se em morte, a luz em trevas e até mesmo as estrelas dividem o espaço com o nada, que permeam no equilíbrio necessário e perfeito do cosmo, mas simplesmente cai um dia. Tudo isso por causa de sua corrompição em um grande e profundo lago de escuridão celeste. Assim aconteceram com todos os astros desde que os homens, seres finitos por criação, por sua arrogância acharam que poderiam entender o tempo, e até hoje não compreenderem e o chamam de “ínicio”.

A verdadeira felicidade ocorre quando tomamos posse da sabedoria e da virtude ou areté , assim como os gregos a entendiam. O virtuoso torna-se rei, por ser superior a todos e deve se auto-intitular: Demiurgo . É justamente nesse ponto que há o erro; o rei age como se fosse à encarnação da lei suprema. Isso porque ele irá administrar a partir da lei e no espírito da lei. Tendendo-se a tornar seu reino hereditário; ele sujeita os seus iguais ao governo de igual. Ora, portanto pergunto-te, se nós somos entidades metafísicas únicas e perfeitas, por acaso, somos diferentes daquele que nos gerou? Se for realmente Ele quem nos gerou... O nosso monarca pode ser enganado por suas paixões, e nenhum ser isolado será capaz de lidar com os deveres gerados por esse governo. Demiurgo tinha suas falhas... Eu as descobri... Ele necessitava de um sucessor, pela hierarquia celestial deveria ser seu anjo fiel: Heilel , mas eu disse que apenas deveria... Chamo-me Dragoon, mas antes possuía um nome esquecido... Hoje os homens que me idolatram me chamam de Tamuz e essa é a minha história.

Viajando junto com e como o vento, sobre as verdes pradarias do Vale de Nod , os “enviados” de Demiurgo, levam para o coração dos corrompidos uma mensagem, uma homenagem àqueles a qual os corações contritos, os evocaram, essa mensagem tem um remetente: O novo rei entre os homens. Justamente aquele que farto de toda a glorificação e luminescência vã, resolveu rebelar-se e se autoproclamar o portador da luz.

Mesmo assim ele sentia a falta das glorias postergadas a todos os oito arcanjos: os mais próximos do absoluto e universal. Aqueles cuja verdade estava estampada em seus rostos glorificados e indecifráveis. Demiurgo deu a eles a dádiva de possuírem três pares de asas magníficas, simbolizando sua honra para com Ele.

Seria bastante difícil explicar minha bereshit , por isso prefiro usar a idéia de que sempre existi, mas que somente tomei forma quando contemplei o Bem e Glória e declarei: Eu existo! Para nós, seres médios, a consciência é o primeiro fator da existência. Algo bastante parecido, com uma iniciação humana das artes dita por eles como “oculta”, secretas e superiores. Não é de fácil aceitação, nascer como um comandante, mas deveras ser aceitável poder conviver com esse fato, afinal de contas meu caro, mesmo sendo seres “nascidos do perfeito”, nossa perfectibilidade era o nosso maior defeito, pois faltava, algo que hoje os torna alguém que tem a onisciência deve ter dúvidas? É lógico que não! Mas agora eles a possuem...

- Aquele é o templo onde Heilel e seus servos ostentam sua arrogância. Um sacertode dos homens de má índole e dos filhos do homicídio. Por que ele faria isso? – perguntou o enviado a curar as moléstias dos homens, em nome de Deus: o arcanjo Rafael .

- Poupe-nos de sua criticas a ele, caro irmão de luz. Viemos de tão longe não para julgá-lo, mas sim para dar uma nova chance, um novo final a essa lenda, principalmente porque agora ele rompeu seus laços de sangue com Heilel. – afirma advogando em defesa, o arcanjo vencedor da calamidade: Miguel .

- Irmãos... Temos motivos mais do que suficientes para renegar a santidade de Tamuz, é assim que os filhos do homicídio o chamam, mesmo um dia sendo um ser de luz de grande potência dentre nós, até mesmo se equiparando a o próprio antigo “portador da luz” e isso não podemos negar nunca. – finaliza o mensageiro de Demiurgo entre os “seus”: Gabriel .

Os seres de luz e glória, advindos dos altos postos celestiais, encontram-se diante dos muros íngremes e poderosos da grandiosa capital de Nod. Ao bradarem sua proclamação na tentativa de tornar contrito o coração do agora sumo-sacerdote da “nova fé”: o caído Tamuz. Assim iniciando sua oração com as palavras santas:

- Oh Tamuz, aquele cuja luz um dia chamou de Dragoon, logo esse nome que a linguagem dos homens tornou infame! – fala Miguel, como os olhos úmidos, o que nos indica que se aproximam as lágrimas tocando os muros de Nod, sentindo a tristezas lamuriosas daqueles que já foram sacrificadas em nome de deuses como Moloch e Chamos.

- Abra as muralhas de Nod! O local onde as trevas continuam a permear, pois queremos e merecemos ter para contigo. – diz Gabriel que ao contrario de Miguel, ira-se por tamanha humilhação. - Não podes negar, descende de Demiurgo e ele, cujas leis são necessárias e não se desmente nunca, serve de um meio natural para operar em atos que parecem aos homens sobrenaturais, afirmar a razão suprema e o poder imutável de Deus é engrandecer a idéia que temos de sua providência; não será negar sua intervenção nas maravilhas que se operar em favor da verdade que os sinceros compreendem bem. – argumenta em defesa de sua fé o heróico Gabriel, que espera.

As muralhas de Nod são abertas, e os três seres de luz tem a visão da anarquia dos filhos de Caim. O puro desprezo do principio da família, o ultraje infligido à paz, sobre a embriaguez proclamada por todos os dissidentes cuja nudez e o sono, eles descobrem sobre risos descontrolados e perturbadores. As imagens em pedra polida de Moloch e Chamos, ídolos de ouro barbudo, de mandíbulas abertas, tendo por língua um gigantesco pênis; todos se descobrem sem pudor ante este semblante e ofereciam-lhe presentes estercorarios. Estes ídolos eram maquinas mortíferas que ora esmagavam membros, ora corpos inteiros contra o seu peito de bronze coberto por grandes estacas afiadas, seus braços incandescentes infelizes consumiam criancinhas. Dançavam-se ao ruído das trombetas de dos tambores para não ouvirem os gritos das vitimas e das mães que dirigiam as danças. O incesto, a sodomia e a bestialidade como algo dado entre este povo infame e faziam parte mesmo de seus ritos. E não resistindo a tão blasfêmia a criação.

- Eu não posso resistir à tamanha maldade. – assusta-se Rafael.

- Isso nós podemos resolver apenas com um levante de “espadas flamejantes”, convocaremos os guerreiros alados e deixemos que os ventos do deserto arrasem toda a capital de Nod. Assim o sangue dos justos lavará essa cidade. – propõe Gabriel.

- Não é isso o que faremos, apesar de tudo, eles são o presente do criador a esta terra, que por agora está corrompida graças às artimanhas de Lucibel, o que podemos fazer e purificar suas almas; renovando o circulo, para novas vidas. – Ordena o líder da falange o honrado Miguel, que por sua e ouvido por os outros dois, afinal foi ele quem enfrentou Lucibel durante a primeira rebelião e sabe mais do que qualquer um ate que ponto a mente doentia dele pode chegar.

Assim Rafael entoa um cântico na língua dos anjos como um forte brado, que faz desmoronar paredes, trincar os ídolos de ouro, e estourar os tímpanos de quase todos aqueles cujo coração já está apodrecido. Gabriel já a ponto de perder a sua paciência, brada de uma maneira que não pode ser adjetivada nem pelo melhor escriba, e é assim que ele pronuncia as palavras de maldição a aquela cidade:

- Filhos de Caim! Porque se esqueceste daqueles a qual vos criou? Sei que os loucos são visionários e muitas vezes caem no fálico erro de cair nas garras de falsos magos, chamados taumaturgos. A alucinação sendo contagiosa sucede muitas vezes ou ao menos parecem suceder ao redor dos loucos, em atos inexplicáveis pela razão humanas, distantes pórem da divina.

Então diante de todos, até mesmo daqueles que se contorciam de dor, descendo por uma sinuosa escadaria feita de pedra única; o sacerdote dos homens, o novo príncipe de Nod e braço direito de Caim: Dragoon, o que os seus súditos chamam de Tamuz. Descendo, passo por passo, levanta o braço aos seus pedindo a iluminação divina para que a resposta seja dada:

- O meu senhor, não me renegue a resposta a esse que vem de tão longe para me interrogar.

- Não blasfeme Tamuz! Se não quer que tua essência seja espalhada como o nada por toda essa cidade! – diz Gabriel retirando sua espada da bainha e embebendo-a nas chamas divinas, as mesmas que trouxeram luz aos homens.

- Peço-te calma, pois não seria do meu feitio deixar-te a soltar palavras ao vento para os insensatos meu amado Gabriel. Mas posso te entender, assim isto me torna capaz de compreender a ti. O que você vê nada mais é do que falsos prodígios, “milagres tortos” ocasionados pelas condições astrais e que têm sempre uma grande tendência à anarquia e imoral, porque a desordem meu caro, apenas chama a desordem novamente. É por isso que os deuses e os gênios dos sectários são ávidos por sangue e prometem ordinariamente sua proteção ao preço tanto do homicídio como da promiscuidade entre os homens como um todo, ou como gosto de chamar o “pacto primeiro”.

Surpresos com a exuberância a qual Dragoon se apresentará, seria necessário um bom tempo de observação, mas no fim notariam, mas perplexos que os seus três pares de asas haviam se tornado uma espécie de carapaça membranosa. O que tempos depois a tradição oral chamaria de asas de dragão, quem sabe em lembrança a o sábio Dragoon. Assim ele prossegue.

- Acredito que agora devem estar surpresos com tamanhas mudanças, as quais vocês mesmos junto com Abdiel e Uriel foram os causadores, não é a verdade? – Brada Tamuz, já enfurecido pela proposta de um interrogatório.

- Não é verdade... – retruca Miguel – E tu o sabes.

- Portando Tamuz, diga-nos porque vieram se portando da mesma maneira que ladrões na noite, silenciosos e furtivos.

- Ora como ousa príncipe de Heilel! Tu vives na escuridão e ainda ousa levantar a tua voz contra aqueles que vivem na glória de Demiurgo?

T amuz pela primeira vez após muitos séculos olha para o céu. Miguel se compadece com aquela cena e resolve contar a verdade. Um dos três arcanjos mensageiros se ira:

- Já chega Tamuz! – Gabriel o coloca contra a parede e com a espada flamejante no pescoço o ameaça. A mão de Miguel toca o ombro de Gabriel que abaixa a cabeça por alguns segundos e acaba por soltar Tamuz.

- Gabriel, Rafael vocês não sabem toda a verdade sobre a maldição de Tamuz.

- Tu sabes que mentir é um pecado digno dos homens Miguel, como pode fazer isso sendo perfeito? – indaga Rafael já transtornado pela afirmação de Miguel.

- Nós não somos perfeitos Rafael. E Heilel e Tamuz eram os únicos que sabiam disso, por isso pagaram seu preço.

Tamuz não consegue responder nada, por um bom tempo, mas não resiste e as lagrimas começam a cair, lagrimas de sangue que lavam o rosto do sumo-sacerdote, que já entristecido pergunta a Miguel:

- Se sabiam... Por que Miguel, por quê?

- Porque não poderíamos admitir que errassem. Perdoe-me Tamuz... Perdoe-me. - Pede generosamente Miguel às vistas das lagrimas de Tamuz.

- Nunca! – brada Tamuz com um ódio sobrenatural assim como sua natureza. – É impossível fazê-lo, acham que podem após tanto tempo, vir até minhas terras e pedir perdão? Nem daqui a cem vidas eu os perdoarei.

Miguel, entendendo as palavras de Tamuz, o abraça pela última vez, logo se afastando:

- Pois que assim seja daqui a cem vidas nos encontraremos novamente irmão... E nesse dia nossa história terá um fim.

Miguel, Rafael e Gabriel entristecidos partem. Assim como chegaram soprando como a brisa do vento. E Tamuz chora copiosamente sentado em seu trono à espera de cem vidas quando aparecerá o real motivo que o fará entender o porquê de carregar tamanha macula.

Se a lenda do Leviathan estiver correta, ele carregará este fardo até o dia em que ele será derrotado por Bahamuth, e que os dois saíram mortos do combate, mas último será coroado por Ziz, a grande rainha dos céus, como o eterno. Mas quem será a grande rainha dos seus que decidirá a batalha? Essa é a pergunta que Tamuz só responderá em 1899, através de uma jovem de coração escuro chamada: Elizabeth ou “A casa favorita de Deus”.

Macilio Oliveira
Enviado por Macilio Oliveira em 25/07/2009
Reeditado em 03/07/2012
Código do texto: T1718558
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