O conto da borboleta que não tinha onde pousar. (parte 1)

Esse parece ser mais um conto de fada, mas não é. Quando era uma lagartinha minha mãe me contava quase todas as noites e eu sinceramente, eu não sabia por quê. Até que muitos anos depois eu que consegui entendê-la vou conta-lá a vocês.

Eu era apenas uma lagartinha na época e minha mãe uma linda borboleta, me contava como o céu era lindo e azul e as estrelas ia e vinham todas as noites, ela já chegou a contá-las, mas desistiu quando estava na milésima estrela. A brisa, ela disse, levava as borboletas a lugares distantes e diferentes, alguns feitos de gelo, outros tão quentes que antes da água cair no chão ela já evaporava. Isso nós faz superiores, dizia mamãe, pois somos borboletas e podemos pousar onde quisermos. Bem nós podíamos, mas agora...

Foi em um dia de chuva há alguns meses atrás. Eu consegui sair do meu casulo, lá era quente e fresco, tanto que quando sai, senti um calafrio que me tomou por completo, mas mesmo assim desejava mais do que qualquer coisa ser uma linda borboleta como minha mãe. Lá fora era frio e eu não via as outras borboletas. Será que elas tinham “nascido” antes de mim? “Tudo bem” eu pensei na hora, e enquanto secava minhas asas, surgiu diante de mim um grande louva-deus. Ele era verde e possuía duas grandes patas com laminas que poderiam cortar qualquer coisa. Se aproximando com as patas para trás ele me perguntou:

- Olá? O que é você? – perguntou balançando a cabeça para os lados.

- Sou uma borboleta! Não vê, tenho asas. – respondi desdenhando.

- Asas? Pra que servem asas tão grandes? – perguntou novamente, ainda balançando a cabeça.

- Ora pra que servem... Não seja tolo, serve para voarmos a qualquer lugar e pousarmos onde quisermos, nós podemos fazer isso, afinal de contas, somos borboletas.

- Ir a onde quiser? Pousar onde quiser? Essa folha é minha, eu a defendo de todos que querem fazer mal a ela e você quer apenas se aproveitar se sua sombra. Retire-se daqui agora.

- Não precisa dizer isso duas vezes. Já estou indo, pois irei em direção do Sol até o fim do jardim. Minha mamãe me disse que lá o céu é mais bonito e milhares de borboletas brincam para sempre com as estrelas.

Então parti de lá. Não demorei muito e avistei uma grande figueira e logo quis aproximar-me de suas pequenas folhas e descansar minhas asas, pois ainda não havia se habituado a elas. Mal cheguei fui recebida por uma grande ratazana de pelo cinzento. Ela parecia muito irritada, portando dois figos, um debaixo de cada braço – talvez fossem as provisões do inverno. Com um olhar fulminante – tenho medo toda à vez que me lembro – ele me exortou:

- O que pensa que está fazendo borboleta preguiçosa?

- Estou apenas descansando minhas asas, acabei de mudar e não estou acostumada com elas. Quero apenas a sombra de tua figueira. – respondi sorridente e satisfeita pela boa sombra dela.

- Eu não posso acreditar no que ouvi. Tu passas os dias a vadiar pelo mundo, e ainda vem me pedir descanso? – disse a ratazana jogando os figos na sua toca e indo a minha direção.

- Mas me entendeste mal senhora ratazana. Apenas lhe peço aqui o que a mãe Natureza já fornece gratuitamente a seus filhos, tanto eu como você.

- Irmãos? Não somos isso, lhe garanto – afirmou colocando uma de suas patas com unhas afiadas, próximo de mim, quase me machucou.

- Ora, mas por quê? – perguntei.

- Porque por dois invernos tu não duraras e nós ratazanas sofremos com o rigor do frio, por muitos ainda devemos nos preocupar e não temos tempo para viver no seu ócio advindo de uma falsa felicidade.

- Está sendo injusta comigo – disse quase aos prantos.

- Então não me irrite e parte logo daqui, pois tenho na verdade é inveja de ti e preciso recolher minhas provisões e tua felicidade apenas me atrapalha.

Será que minha mãe estava enganada. Não haveria nenhuma boa companhia? Onde estavam os seres felizes do jardim?

Vaguei sem rumo por horas, sem entender como todo o meu sonhado mundo se despedaçõu dão rapidamente, minhas lindas asas azuis e meu corpo lembrando o amarelo das mais belas flores, não seria o bastante para ser feliz? Provavelmente não, mas mesmo assim procurei alguem que pudesse me contar porque o mundo é assim, foi então que encontrei próximo a uma flor um grupo de abelhas.

continua...

Macilio Oliveira
Enviado por Macilio Oliveira em 10/09/2009
Código do texto: T1802236
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