COMO DOIS ANIMAIS

COMO DOIS ANIMAIS

Encontraram-se numa balada, estavam dançando embriagados pelo ritmo quente, inebriante e delirante quando seus corpos se tocaram de leve, mas suficiente para que sentissem, ambos, uma sensação estranha, deliciosa. Agora propositalmente se roçaram: uma, duas, tantas e tantas vezes, ela para sentir um calor, leve ardência no ponto em que sua pele era tocada ao passo que ele sentia como um sopro de brisa ou o contato macio de uma pluma. Então ficaram de vez, dançaram a noite toda embalados por aquela sensação estranha. Os olhos azuis dela, quase transparentes, não conseguiam se desgrudar daqueles olhos negros, poderosos e dominadores.

Eles tinham que descobrir o porquê dessa força estranha que os impelia como se tivessem que se unir, e assim, na madrugada fria, ao hálito da primavera, como duas criaturas livres, se entregaram e se amaram ao relento, como dois animais.

No seu jeito rude ele sentia que ela era uma mulher muito diferente de tantas outras que a ele se entregaram. Ela parecia que flutuava, enquanto seus ouvidos escutavam cânticos e se deleitava com o calor intenso do contato delicioso e se deixou levar, em frenesi, naquela viagem rumo ao desconhecido.

Amaram-se até o esgotamento, dormiram abraçados e só acordaram na aurora. Despediram-se e cada um seguiu o seu rumo, deixando vestígios na relva marcada por acomodar aquele inusitado encontro. Ela recompondo as suas asas de anjo mensageiro, feliz por ter sentido algo maravilhoso, indefinível até então desconhecido, e ele esgotado, por mais uma presa, sentindo que aquela tinha alguma coisa especial, seguiu arrastando a cauda e escondendo os cornos, desvelados. Retornaram cada um ao seu lugar, para nunca mais se encontrar.