CONFLITOS

CONFLITOS

Voltou seus olhos para a clareira onde tinha estacionado seu carro. Uma distancia consideravelmente enorme para quem não estava disposto a voltar.

Fitou uma pedra branca fosca, e caminhou até ela. Respirou fundo e sentou. Precisava achar o que levou a estar naquele lugar. Precisava achar.

Era uma manhã nublada. Havia saído às 7 horas, com a esperança de voltar mais cedo, para resolver logo, o que tanto o aborrecia.

De repente algo escuro e com dois olhos amarelos moveu-se por detrás de uma arvore, e aproximou calculadamente como se fosse saltar em sua direção. Prendeu sua respiração, prevenindo o pior.

A expressão no seu rosto identificava o confronto da situação, mas seus olhos estavam atentos. Não tinha tempo para vacilar. Era chegada a hora. Subitamente, ouviu-se um estalido. Não abaixo, mas acima deles. Olhando para cima, avistou um gavião, esperando sua vez para avançar em sua presa. Mas não parei para olhá-lo. Não era hora de apreciar.....

Surpreendendo a si mesmo e sua coragem, voltou e agarrou o vulto. Era questão de sobrevivência e lealdade para os seus. Precisava levar adiante o que veio fazer naquele lugar.

Súbito tropeçou na pedra. Seu corpo esquálido rolou para o rio, levando consigo a fera.

A água molhou sua vontade febril de ganhar espaço para a luta. Rolaram-se freneticamente rio adentro sem se importar com a profundidade, perdendo a noção do tempo.

Desesperado tentou desvencilhar-se da fera, mas não conseguiu e, depois de uns momentos, teve uma sensação absurda de que não queria mais se mexer. Uma dormência tomou conta do seu corpo que já não tinha muito força. A boca se mexia formando palavras, mas não havia sons. Tentou em vão agarrar a um galho que passava por ele. O rio estava gelado, e gelava sua mente. Suas mãos não tinham mais o comando necessário para dominar a fera que violentamente tentava matá-lo, como se quisesse ganhar o seu troféu.

De repente lembrou-se do que viera fazer ali. Em questão de segundos reagiu. A fera que o dominava já não existia mais. Conseguiu exercer o domínio do seu interior, isso facilitava e amenizava seus conflitos.

Uma pausa momentânea seguida de um silêncio o tirou da inércia. Um vácuo se fez, então acordou sobressaltado, lembrando-se da batalha travada com seu mundo paralelo e, sorriu.

Era apenas um sonho do qual lutava com seus pequenos fragmentos estigmatizados pela própria vida. Uma longa existência, mais uma longa jornada estavam por vir. E o dia se fez noite, e a noite acordou o dia. E nitidamente ele se levantou, e começou seu tempo na realidade crua.

Soraia