A incrível história do homem que adormeceu

Chegou tão cansado do trabalho, que pensou que seria capaz de dormir uma eternidade. E assim o fez. Jogou-se na cama e adormeceu. No dia seguinte não acordou para ir trabalhar. Nem acordou no próximo dia. Logo já fazia uma semana que dormia. Aí completaram duas semanas, três, e por fim um mês que dormia sem cessar. No segundo mês de sono ininterrupto, a filha intrigada perguntou à mãe:

_Mamãe, será que o papai morreu?

A senhora então foi ao quarto, consultou a respiração do marido e constatou:

_ Não, minha filha, ele está só dormindo, deixa ele descansar.

E assim foram passando os meses, e os anos.

No quinto ano seguido, o homem ainda dormia. E filha acordou de madrugada e bateu à porta do quarto da mãe:

_Mãe, não consigo dormir! O papai está roncando insuportavelmente faz duas semanas, dia e noite.

_Vou dar um jeito nisso.

A mãe então mudou homem de posição e o ronco cessou. Mas ele continuou dormindo. E assim foi seguindo, agora sem ronco.

O mundo continuava seu curso. Guerras aconteceram, tragédias se sucederam, catástrofes naturais não faltaram. O tempo ia passando, as pessoas mudando de estilo, de visual, mas continuaram as mesmas.

Ao fim de cem anos enfim o homem acordou. Abriu a janela do quarto e deparou-se com um cenário completamente diferente do que vira da última vez. Prédios enormes no lugar dos velhos casarões, casas onde antes eram terrenos vazios, ruas abarrotadas de carros. Espantado, foi para a cozinha tomar o café da manhã. Na casa só encontrou pessoas que nunca havia visto antes, não reconheceu ninguém, nem reconhecia nada. Os móveis lhe eram estranhos, toda a decoração da casa lhe era estranha. Só uma coisa lhe parecia familiar. O rosto de uma mulher de cabelos grisalhos numa grande fotografia pendurada na parede. Lembrava o rosto de sua esposa...mas sua esposa era tão jovem, não tinha cabelos grisalhos.

Arrumou-se, pra ir ao trabalho. Escutou uma voz feminina.

_ Vai tomar a benção do seu tataravô antes dele sair.

Foi com imensa surpresa que viu um garotinho aproximar-se dele, estender-lhe a mão num sorriso:

_ Sua benção, vovô!