Um Simples Pássaro

Há algumas coisas na vida que tem o mistério de fazer gotejar da nossa alma lagrimas sinceras e milagrosas.

O fato que aconteceu naquela manhã naquela casa comoveu e sensibilizou toda família.

O dia pareceu amanhecer sem nenhuma diferença notória. O pai, primeiro a levantar, seguiu sua rotina, saiu cedo para o trabalho e nem sequer percebeu lançado no chão o comentário de todo o restante da semana. Deve ter sido a pressa.

A mãe sempre foi observadora e sempre acordou depois do esposo, afinal, não tinha com o que se preocupar já que o café e o almoço eram preparados sempre à noite. Bem verdade é, que, diariamente tentava levantar-se antes, mas, não adiantava insistir ele nunca deixava. Era típico dela ir sempre ao quintal após o seu despertar, numa espécie de visita matinal obrigatória, para dizer oi a tudo o que lhe pertencia.

Foi graças a essa visita que pode encontrar abandonado debaixo da árvore um pequeno passarinho acidentado todo miucho e choroso, era de sentir dó. Foi o que ela sentiu. A principio tinha ouvido apenas o piar misericordioso do bichinho, chegou perto e constatou que uma de suas asas estava quebrada, literalmente separada do corpo, segurada somente por um fiapo de pele. Deduziu então que o coitado havia caído do ninho quando tentava dar o primeiro voou, o que realmente ocorrera. Começou então, o piedoso mutirão da agonia.

O passo inicial foi tratar de espalhar o acontecimento. E não precisou muito, a filha do meio, terceira a acordar – isso por que trabalhava – já se aproximava com sua curiosidade aguçada e mesmo antes da mãe lhe contar já havia perguntado?

- Que é isso mãe?

- É um passarinho filha, caiu do ninho tentando voar – respondeu a mãe com o filhote na mão.

- Ta machucado? Deixo'ver!

- Ta. Cuidado ele quebrou a asinha.

- Ô... É mesmo. – Fez uma cara de pena quando viu o bichinho naquela estado – ô dó, deve ta sofrendo muito o coitadinho.

- E como! – Falou a mãe também com ar de pena.

- Quê que a senhora vai fazer com ele?

Chegou-se ao ponto chave: a preocupação em salvar o pequeno animalzinho. Preocupação que as levariam a tentar de tudo para evitar a dolorosa perda, o que seria lastimável para todos. A mãe percebeu que era preciso um lugar seguro e confortável para aloja-lo, mas, a idéia de preparar uma caixa de sapato com algumas folhas secas viria da filha mais velha, que acordava sempre depois que a do meio saía para o trabalho, e era ela, a mais velha, quem arrumava a casa. Foi à própria que providenciou a caixa e com um carinho nada resumido, vigiada pelo olhar protetor que a mãe lançava sobre o filhote, o colocou bem devagarzinho no seu novo lar. O cuidado prosseguiu e junto com ele os afazeres do dia-a-dia. A caixa foi posta em um canto sob a sombra próximo a árvore, e de quando em vez uma delas vinha observar e dengar o pássaro dodói.

Entretanto, lamentação ao Maximo foi quando a filha mais nova acordou. Era a ultima a levantar e a mais sensível de toda família. Não bastou muito para ela avistar a caixinha debaixo da árvore e foi só pôr os olhos que a mãe antecipava a história na integra e nos mínimos detalhes.

Ela não resistiu. Correu para junto e logo pegou o ninho do filhote nas mãos, porém toda aquela rapidez e agitação desapareceram instantaneamente quando fitou os pequeninos olhos do passarinho e este lhe contou a imensa dor que sentia. Estava encolhido ao canto, abraçando seu pequenino corpo com sua outra asa coberta de algumas peninhas ralas, tentando diminuir a falta que o calor do peito materno fazia. Sua asa quebrada ainda doía muito, só que isso já não lhe incomodava, mais forte era a saudade do seu verdadeiro ninho, da sua mãe, da liberdade de voar quem nem sequer chegou a apreciar. A ave rebateu o olhar da pequena menina e ela o ouviu chamá-la de mamãe, segurou-se para não chorar e não chorou.

A garota, com os olhos molhados, voltou-se para a sua mãe, calou-se um instante, segurou firme a caixa e disse:

- Ele ta com fome!

- Fome?! – Espantou-se a mãe. – É filha, você tem razão, ele está com fome. – Concordou.

- E o que a gente dá pra ele comer?

- Não sei filha, não sei...

- Aqui tem banana! – Gritou a mais velha da cozinha.

Banana. Daquele tamanho ele não conseguiria comer sozinho. A mais nova pensou nisso e em uma tampa de margarina amassou o pedaço da fruta e foi alimentar o bichinho.

Com muita delicadeza e cuidado, levava com os dedos algum sustento ao bico do filhote, ele se esforçava, mas, estava debilitado o suficiente para rejeitar até mesmo um pouco de comida. Lembrou-se da mãe, de quando ela depositava em seu bico aquele alimento já mastigado, de um sabor inigualável, o qual jamais provaria semelhante em sua vida.

- Deixa filha, ele não vai consegui comer. – Disse a mãe fitando a ave e passando a mão por entre o cabelo da menina.

- É, mas o que a gente faz com ele mãe? Ele ta sofrendo muito.

- Estou vendo, só que infelizmente eu não sei o que fazer.

A garota teve uma idéia:

- Já sei mãe, a pétala de rosa!

Genial! Isso sim poderia resolver o problema. Uma pétala que tinha poderes milagrosos e curativos, assim cria todos da casa.

A pequena acolheu o filhote nas mãos, o envolveu com a pétala, levou-o junto ao peito. A mãe e a irmã ao redor. Ela ergueu os olhos aos céus, fez uma oração:

- Deus, se for pra esse pequeno animalzinho inocente continuar sofrendo com tanta dor, eu prefiro que o Senhor o leve para perto de Ti e acabe com tudo isso.

Uma lagrima desceu queimando a sua face, ela deteve com um dos dedos e pôs sobre a cabeça do pássaro. Novamente olhou-o nos miúdos olhos e despediu-se:

- Adeus!

- Obrigado. – Sussurrou o passarinho.

Todos ouviram e todos se calaram enquanto a avizinha fechava os olhos e dava o ultimo suspiro. Mas tarde o restante da família saberia daquele fato e chorariam juntos com quem fosse capaz de se sensibilizar com a dor de um pequeno filhote de pardal.

Tiago Mota
Enviado por Tiago Mota em 19/07/2010
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