Mirabela- O amargo sabor do destino - Continuação -

E o senhor Ulisses prossegue com suas explicações, tentando fazer com que a filha entenda, tudo o quanto ele aprendera ao longo destes anos.

- Mirabela, D.Vaggio é um mafioso. A máfia funciona da seguinte maneira: na arvore genealógica da máfia, há: O chefe, o subchefe, entre o chefe e o subchefe há o consigliere. Logo em seguida vem os capos, depois os soldados e por último os associados.

- Nossa! eu não entendí nada ainda.

- É o seguinte filha; o líder de cada quadrilha é conhecido como chefão ou dom.

- Agora entendo! por isso Dom Vaggio.

- Isso mesmo! As discussões mais importantes são tomadas por eles, no caso, por ele, D.Vaggio. E o dinheiro apurado pela familia, acaba fluindo em sua direção. A autoridade do chefão é indispensável para resolver diferenças e manter todo mundo na linha.

Neste momento Mirabela encontra-se encantada com toda a sabedoria do pai. Seus olhos estão imóveis, sua boca está entreaberta de tanta admiração.

Ela o acompanhava com o olhar a cada passo que o velho Ulisses dava, enquanto que ela, sentada assistia a tudo deslumbrada, como se estivesse assistindo ao maior dos espetáculos. Para Mirabela, o pai sempre fôra motivo de admiração, e agora não era diferente. Para ela, era como se percebesse de repente, que tudo estava igual. Que o tempo não passara, que continuava a mesma menininha de antes, sempre ouvindo com alto teor de deslumbre, aos inúmeros discursos do pai. Discursos estes, muitas vezes exagerados, porém cheios de amor e muito inteligentes.

Não! ela não estava sonhando. Por quê pensar isso agora? seu pai estava alí, do seu lado, como sempre fôra no passado. Sempre com suas histórias fabulosas e muito sábias, e aquilo, sinceramente não era um sonho. Por um momento ela sorrir satisfeita. A vida lhe proporcionara pequeninas gotas de felicidade, mesmo que, estas gotinhas durassem somente alguns minutos.

E como que despertando, ela pergunta ao pai:

- Pai, e eu? que papel eu desempenho na 'familia' D.Vaggio?

- Você. É triste para mim dizer isso. Mas você desempenha o papel do subchefe. Poderá até substitui-lo quando ele estiver velho, ou correndo risco de ir para a cadeia.

- Nossa! ele bem me disse isso. Falou que muita gente gostaria de está no meu lugar. Não é a tôa que o Carlão briga tanto por este lugar, chegando até a me odiar por isso.

- Neste caso, o Carlão passa a ser o capo, ou um dos capos. O que para ele representa um alto rebaixamento, já que os capos estão abaixo dos subchefes.

- Mas, o cargo do Carlão é tão baixo assim, pai?

- Não, não é! o capo age como um gerente, controlando sua própria célula na familia. Sua função é cuidar da operação de atividades específicas.

- Ah! mas continua sendo mais baixo o seu cargo que o meu. E isso ele não perdoa.

- É mas, a função dele é fazer muito dinheiro. A receita desses negócios ilícitos fica com ele, o que sobra é repassado para o subchefe e o chefão. No caso, você e D.Vaggio. Já os negócios sujos ficam por conta dos soldados, e..

- Mas, eu também faço negócios sujos. Esta parte é a única que eu sei. Os soldados ocupam o posto mais baixo entre os homens feitos. Eles fazem parte da familia, mas têm pouca autoridade, não é isso?

- Correto! eles ganham relativamente pouco dinheiro. Ainda têm os associados, não são membros, mas colaboram com os soldados e capos em diversos empreendimentos criminosos.

- Pai, e o tal consigliere? que faz ele?

- O consigliere não é considerado parte da hierarquia da familia. Sua função é atuar apenas como conselheiro.

O senhor Ulisses para um pouco, depois volta-se para a filha Mirabela com um olhar de curiosidade.

- Mas, o que você disse? que também faz o serviço sujo dos soldados?

- Dos soldados e dos associados. Já sequestrei, assaltei, ajudei arrombadores. Só não matei..

O senhor Ulisses se desespera ouvindo aquilo, e aproximando-se da filha, acaricia-lhe os cabelos dizendo-lhe:

- Filha escute: eu prometo que vou fazer de tudo para tirar você desta vida, nem que seja a última coisa que eu faça na minha.

Ela porém levanta a cabeça e encarando o pai de forma decidida lhe diz: - Agora é tarde pai! agora quem não quer mais sair desta vida sou eu..

- Mirabela, minha filha você não sabe o que está dizendo, esta vida é triste e...

-.. E para que eu iria querer largar esta vida fracassada? para voltar a viver uma outra vida mais fracassada ainda?

- Por quê mais fracassada ainda?

- O senhor não sabe o que foi a minha vida antes de conhecer a quadrilha de D.Vaggio.

- Não me diga que sua vida era pior antes? isso é impossivel, qualquer sofrimento não chega perto do que é o submundo do crime.

- Não! pior não era, mas era uma vida falsa, de mentira. Agora não! agora tudo é verdadeiro. Apesar de tantas crueldades, D.Vaggio parece ter sido o único a acreditar em mim, ele botou fé em mim. Veja que ironía deste destino; um criminoso enxergar somente as minhas qualidades e nunca os meus defeitos. Coisa que as pessoas que eu tanto amei nunca souberam fazer. D.Vaggio, em momento algum me considerou incapaz do que quer que fôsse.

Nunca me considerou uma pessoa burra, e sim alguém que precisava aprender. Ele me disse muitas vezes que não existe ninguém incapaz. O que existe, é desinteresse por parte daqueles que se dizem sem capacidade para nada.

Sabe pai, D.Vaggio as vezes lembra minha avó.

greice
Enviado por greice em 09/11/2010
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