O Homem e a Eternidade

Um certo homem queria solucionar o mistério da vida, indignado com a não eternidade, indagou a sua entidade superior.

_ Qual o propósito da vida, sendo que nos faz amá-la, sabendo ao certo que de nós será tomada. Pra que todo esse amor, estes momentos bons... aprender a amar pessoas pra depois ter de viver sem elas... saber que tudo tem um fim... ter a única certeza de que tudo se acaba e ter que acreditar na incerteza de que não foi tudo em vão. Responda-me, pois não aguento mais viver tamanha aflição...

_ Diga-me pra que queres a eternidade?

_ Hora para poder aproveitar a vida em todo sempre, poder amá-la sem perder nada, conhecer de tudo, ver de tudo... estar sempre com quem amamos...

_ O que te faz amar tanto a vida?

_ Os bons momentos, as paixões, a beleza da natureza, conhecimento, a felicidade...

_ Se eu te pedir para me citar o melhor momento da sua vida, seria agora?

_ Não, de longe. É sim um momento de aflição, de dor... por tantas incertezas que me cercam.

_ Então diga-me o seu momento mais feliz.

_ A primeira vez que tive um amor correspondido, foi uma coisa aparentemente simples... um olhar e uma certeza.. há de amar e ser amado. Foi breve, mas me causou uma felicidade sem fim. Até hoje tive momentos a se comparar, mas nunca me fazer mais feliz.

_ Todas as pessoas que você amou, apenas as perdeu para o fim de suas vidas?

_ Não, na verdade ainda não perdi alguém a quem amasse mais, claro, perdi pessoas conhecidas. Mas já vi a dor de quem perdeu... e só de pensar em perder quem amo, já me desespero.

_ Compreendo, mas ainda não respondeu minha pergunta totalmente, ainda tens a todos que amou?

_ Bom... já tive paixões, amores, que hoje não são como antes... confesso que há outras que tenho desafeto e outras que hoje restou apenas a indiferença.

_ Agora me diga, já viu um filme do qual gostou muito?

_ Bom não entendo o que isso acrescenta ao caso, mas sim.

_ Você conseguiria vê-lo por anos a fio, caso ele continuasse?

_ Há imagino que não, seria muito chato e claro em determinado momento não teria mais enredo, ficaria repetitivo.

_ Bom tenho que lhe dizer que depois dessas perguntas, posso lhe garantir que a eternidade de certo não é o que procuras.

_ Como não?

_ Bem quando me falou o porque a queria, citou o amor a vida, as coisas belas que ela oferece, a permanência ao lado das pessoas que ama e a dor de viver sem elas. Pois bem, acaba de me falar que uma história prolongada perde o enredo fica repetitiva, posso lhe afirmar que a eternidade tornaria a vida monótona, com passar de um tempo já não haveria o que conhecer, restariam apenas o conhecimento do novo, que por fim lhe traria a sensação de ser nada mais que um ciclo vicioso...sem fim. A vida oferece coisas belas e sempre oferecerá, pessoas que amamos e pessoas de bem sempre encontraremos também, porém há as que não são boas, as que já não amamos e as que nos decepcionam. Não é preciso a morte para levar quem amamos, as vezes o próprio tempo se encarrega disso. Por fim, compreenda o que lhe faz agarrar-se tanto a vida, são os bons momentos que teve. Como você mesmo disse são breves e maravilhosos. A eternidade que procura está na efemeridade desses momentos. Viva e não se preocupe com fim, deixa que ele se escreva só.

Débora Castro
Enviado por Débora Castro em 07/12/2010
Reeditado em 07/12/2010
Código do texto: T2658893
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