Mirabela - O amargo sabor do destino - continuação -
Mirabela o ouvia silenciosamente, como se estivesse deixando-o desabafar toda a sua fúria. E ele estava irredutível, falava e gesticulava sem parar. Andava de um lado a outro como um louco.
- Não entendo como eu pude ser tão burro e tão cego ao mesmo tempo. Toda aquela encenação de mocinha pura que ia á igreja todos os domingos com a vovó, toda aquela pureza de uma menininha inocente, era na verdade, um golpe, um grande golpe para pegar o trouxa aqui, não era?
Ele encosta-se com as duas mãos firmes na mesa e com a cabeça baixa, fixando o olhar para o chão, mantendo-se alguns segundos em silencio, rejeitando toda aquela situação. Ele balançava a cabeça negativamente de uma forma quase que incontrolável. Como que não querendo acreditar. Depois, com os braços cruzados, ele volta-se para ela novamente:
- Tudo uma farsa! e eu me deixei cair como um patinho. Na verdade, você sempre esteve de olho no meu dinheiro. Por isso me enganava fingindo-se de santa. Escuta! há quanto tempo o esquema vinha sendo armado? na verdade, você tentou se casar comigo para se dar bem, e como não conseguiu, decidiu juntar a bandidagem para sequestrar o velho e cobrar o resgate. É isso?
Neste momento, Mirabela se descontrola e grita alto:
- CHEGAA!!! Você sim, é um desgraçado, um infeliz. Se alguém aqui foi feita de boba, esse alguém fui eu. Você me enganou! sempre me dizendo que a tal da Lindamar nada mais era do que a sua amiguinha, e casou-se com ela. Me enganou também quando me disse que não me trocaria por nenhuma universitária metida a besta. E o que você fez? casou-se com a universitária metida a besta. Porque, na realidade, eu era apenas uma diversão para você, enquanto que ela era mulher para casar.
- Ora! cala essa boca! como que você pôde ser diversão para mim, se eu sequer podia chegar perto de você? se nunca rolou nada entre nós. Se até a sua mão, se eu chegasse a tocá-la, para você seria um pecado terrivel. Sua golpista! a única coisa mais séria que houve entre nós, foi aquele beijo na festa de aniversário do meu amigo e ainda foi um beijo roubado, porque você nem queria me beijar. Sinto dizer, meu bem, mas seus planos foram por água abaixo.
- Pois, fique sabendo que eu nunca tive nenhum interesse na porcaria de dinheiro do seu pai. Eu o sequestrei somente para me vingar da humilhação que ele me fez passar naquela festa.
Ironicamente, Santiago começa a bater palmas: - Muito bem! vejo que você está falando corretamente. Até o seu linguajar era uma farsa. Procurava falar errado para se fazer de mocinha simples e sem estudos quando na verdade tem uma ótima dicção. Escuta, até onde você achava que chegaria?
- Você não é ninguém para me julgar! eu sempre amei você. Você foi meu único e verdadeiro amor. E o que eu ganhei com isso? nada! Se eu não valho nada, você menos ainda.
De repente, Santiago força uma estridente gargalhada, ironizando-a:
- Já pode parar de representar, sua máscara já caiu. Ora, faça-me um favor! [ ] E entortando a boca imitando-a, ele repete as palavras de Mirabela: - Você foi meu único e verdadeiro amor. Que patético! aposto que já deitou e rolou com todos aqueles homens que andavam com você. Os seus comparsas.
Ouvindo aquilo, ela se descontrola e vai com tudo para cima dele, gritando muito: - Você me respeita, infeliz! apesar da minha atual condição, não sou o que você pensa. Ainda tenho alguns principios.
- Então, você vai me convencer de que continua a mocinha pura e virgem de alguns anos atrás?
- Não preciso lhe convencer de nada! Eu sei de mim. O fato de ser uma bandida, não quer dizer que eu também seja uma vagabunda.
Santiago tenta pôr um ponto final áquela conversa, e com um ar de cansaço e agitação, ele encerra o assunto:
- Chega! para mim esta conversa já deu o que tinha que dar. A mim pouco importa se você saiu com um, com dois ou até com a quadrilha inteira de homens. Não é da minha conta mesmo.
O sentimento de ódio é tão imenso dentro dela, que ela tem vontade de esbofeteá-lo até sangrar: - Nunca mais apareça aqui, maldito. Eu te odeio com todas as minhas forças.
Santiago sai devagar, olhando para ela e balançando negativamente a cabeça com um ar crítico: - Vou ter imenso prazer em não olhar mais para esta tua cara dissimulada.
E quando Mirabela se afasta, sendo levada pela carcereira, não consegue segurar as lágrimas e chora copiosamente, de ódio e tristeza.