Mirabela- o amargo sabor do destino - continuação -

E a detenta Florence continua a explicar para Mirabela, tudo sobre o seu esquema de fuga:

- É o seguinte: esta carcereira, a Olga, é... digamos assim, uma amiga minha muito íntima. Nossa amizada é coloridissima [ se é que você me entende]! eu conseguí com ela, cópias de duas chaves: a primeira é de uma das celas e a segunda é a do portão de saida. Presta atenção! - E ela continua- na semana que vem, { eu ainda vou escolher o dia mais propício}, vamos encendiar um colchão. Antes do incêndio, o portão da nossa cela estará somente encostado. Depois que o incêndio estiver acontecendo, a Olga corre para o portão da nossa cela, dando a entender que ela o abriu para que nós não morrêssemos queimadas. Assim que começar o alvoroço das mulheres da nossa cela, eu côrro e abro a outra cela para que a balbúrdia aumente cada vez mais, nos camuflando. Nesse interim, eu, você e as outras que estão por dentro do esquema, corremos para o portão de saida e a Olga sempre estará com os olhos fixos em nós.

Depois que eu abrir o portão e nós conseguirmos fugir, a Olga corre para o portão de saida e o fecha. Nós temos que está a postos, nos posicionando cada uma nos seus devidos lugares. Entende?

Mirabela olha-a com uma expressão de curiosidade: - Escuta! e o restante das mulheres? não estão sabendo do esquema?

- Não! somente algumas aceitaram. Existem outras que estão quase terminando de cumprirem a pena, e não querem se arriscar! Outras têm medo, umas covardes! E o restante, se quiserem vão depender da sorte, pulando o muro ou até mesmo passando pelo portão se fôrem rápidas e espertas.

Muito satisfeita, Mirabela toca a palma de sua mão na palma da mão de Florence numa forma de cumprimento, fechando o trato.

- Negócio fechado! estou dentro!

Ao olhar para trás, Mirabela percebe a presença de alguém vindo ao lado da carcereira Olga. Uma figura estranha de óculos escuros, longa barba, e uma saliente barriguinha. Era o seu pai, o senhor Ulisses usando todos aqueles disfarces. Ele pede a Olga que libere a saida de Mirabela da cela por alguns minutos. Ela então a encaminha até o senhor Ulisses que estava irreconhecível. E enquanto o acompanha, ela permanece confusa. Ao parar em frente á ela, ele então se apresenta falando baixinho:

- Sou eu, seu pai! não está me reconhecendo, filha?

Assustada, ela o fita com os olhos rasos d'agua e o abraça fortemente: - Pai! que barriga é esta? e esta barba então?

Elevando um dedo a boca em sinal de advertência, ele pede-lhe silencio:

- Fale baixo! ninguém pode saber que estou aqui. Principalmente aquele infame do D.Vaggio.

- Pai! nem me fale daquele homem. Só em pensar que estou aqui por causa dele, tenho vontade de matá-lo.

E abraçando-a novamente, o senhor Ulisses treme enquanto chora.

- Oh, meu amor! o que fizeram com você?!

- O que fizeram, não! o que ele fez, aquele maldito. Mas, se eu sair daqui, acabo com ele.

- Não diga isso, filha!

- Ora, ora! o que o senhor acha que ainda pode me acontecer? Já perdí minha familia, os poucos amigos que eu tinha, até o homem que eu amo já perdí. Já estou fichada, condenada a passar sei lá quantos anos aqui. O que mais eu tenho a perder? Nada! - E ela reforça ainda mais a sua ameaça: Se eu conseguir sair daqui, pai, eu vou matar D.Vaggio! pode crer que vou!

E acariciando suavemente o rosto da filha, o senhor Ulisses lhe diz:

- Mirabela, filha! não vale a pena se sujar ainda mais por causa de um verme daqueles.

E ela acrescenta: - Pois saiba que não estarei fazendo mais do que a minha obrigação. Se não serei eu a curtir um mundo novo livre daquele criminoso, que pelo menos sejam as outras pessoas. E que não possa restar nada daquele desgraçado, nenhum fruto para as gerações vindouras. Pois, liquidando com ele estarei fazendo um bem para a humanidade. Preciso acreditar, pai, que ainda existe vida após D.Vaggio. Nunca matei ninguém, ele será o primeiro e o último.

O senhor Ulisses a ouvia com uma expressão triste no olhar, e ela, baixando lentamente a cabeça e com um olhar distante, ainda acrescenta:

- A última coisa que ele me ensinou, vou exercitar nele mesmo usando do seu próprio veneno, matando-o.

greice
Enviado por greice em 11/12/2010
Código do texto: T2666340