Tutti Angelis, o menino que não tinha anjo.

Tutti sempre foi um menino alegre, extrovertido até demais, sempre deixava os professores de cabelo em pé, quando não carecas, com suas peripécias. A vida dele era normal, como a de qualquer garoto de quase dez anos, não fosse pelo nome um tanto quanto diferente, que muitas vezes levou o menino a ser motivo de chacotas perante a turma. Tutti Angelis era seu nome, escolhido pela avó, com todo o carinho e amor que ela sentia pelo neto.

Porém ele nem chegou a conhecê-la, pois a avó querida faleceu logo após o nascimento dele, no dia 12/08/1830, tamanha a emoção que sentiu. Contudo, antes de partir, ela mencionou que gostaria que o neto se chamasse Tutti Angelis. Porém não teve tempo de revelar o porquê! E assim deu-se. O menino recebeu este nome, em homenagem àquela que não o pode pegar no colo, mas que o amou desde o dia em que soube da sua chegada!

Tutti sabia que seu nome era especial, que tinha um significado especial, mas não passava disso. Ninguém conseguia explicar para ele quais as reais intenções da avó ao “batizá-lo” assim. As confusões eram muitas, o menino estava sempre metido em alguma briga, ou bate-boca e tudo por causa do nome que carregava.

E assim Tutti Angelis foi crescendo, dentre alegrias e confusões, e quantas, pois como todo bom leonino, não levava desaforos pra casa, resolvia ali mesmo, no ato, na lata! Porém, um dia aconteceu algo que deixou o menino muito triste, sentindo uma sensação de vazio profundo, como se tivessem roubado algo muito importante do seu ser. A professora de história resolveu dar uma aula sobre os “Anjos Cabalísticos” e entregou uma apostila a cada um dos alunos para que pudessem pesquisar o nome do seu anjo e fazer uma apresentação na frente da sala. Foi uma euforia geral, todo mundo querendo saber o nome do seu anjo, porém, quando Tutti a folheou, descobriu que, por força da data de seu nascimento, ele não possuía um anjo cabalístico e isso o deixou extremamente triste e aquela alegria constante que ele apresentava, transformou-se em uma melancolia sem fim.

E pra piorar as coisas, as piadinhas dos colegas vieram sem piedade, chegaram até a falar pra ele fundar o “MSA” (Movimento dos Sem Anjo). Tutti perdeu a alegria, o apetite e até a vontade de levantar da cama. Não comia, não foi mais à escola. De tanta tristeza, o menino adoeceu, deixando a família em polvorosa. O médico da família foi chamado e realizou todos os exames possíveis, mas nada havia que justificasse a fraqueza de Tutti. A mãe chorava e pedia pro filho comer, cantava, contava histórias, mas nada. Tutti só queria um anjo, como todos os coleguinhas. A mãe nada mais podia fazer, a não ser rezar e pedir a Deus e a seu Anjo da Guarda que protegesse o filho, já que ele não tinha um.

E foi numa dessas madrugadas, em que Tutti estava já estava bem debilitado pela desilusão, que o assolava, e que e estava completando os seus 10 anos de vida, foi que ele teve uma visão. Ele não entendeu muito bem na hora, não sabia se estava sonhando, ou delirando por causa da fraqueza. Mas o que ele teve certeza era que estava vendo, pela primeira vez, a não ser por fotos, a sua avó, aquela que lhe deu o nome e que morreu antes mesmo de tê-lo conhecido. Ele a via ao lado de sua mãe, que, desde que ele adoecera, dormia numa poltrona ao lado de sua cama. A avó estava linda, numa túnica alva e resplandecia uma luz nunca vista pelo menino. A emoção que ele sentia era tanta, que ele apenas chorava, sem conseguir dizer nada! E a avó, como que adivinhado seus pensamentos, disse-lhe: - Não digas nada, meu querido, apenas ouça-me:

- Eu sei o quanto está sofrendo desde que descobriu que não tem um anjo cabalístico em especial, mas acontece que você, por si só, já possui uma força angelical muito forte. Tua data de nascimento faz com que você faça parte da hierarquia dos “Anjos da Humanidade”, pois tua alma é iluminada, teu passado é de glória! Com o poder da oratória, influenciaste muitas gerações e agora tens o direito de escolheres o guardião que quiseres e a missão de levar ao teu próximo a palavra “AMOR”. Isso faz de ti um ser protegido por todos os anjos! Por isso o nome que escolhi para ti, meu querido: “Tutti Angelis, que significa “Todos os Anjos”. Agora que sabes que és um missionário, levanta desta cama e reage, viva, queira a gloriosa vida que te foi ofertada!

Dito isso, a avó desapareceu misteriosamente, deixando pra trás apenas uma agradável sensação, um sutil perfume de flores. Tutti Angelis abriu os olhos, percebendo que já era dia e viu sua incansável mãezinha com uma bandeja de coisas gostosas pra ele comer. Como que por encanto, ele sentou-se na cama, com uma disposição e apetite vorazes e devorou tudo que havia no prato. Para alegria de todos, o menino levantou-se da cama como se nada tivesse acontecido. Ele sentia-se livre daquela tristeza e pleno de vontade de viver!

A partir daquele dia, Tutti Angelis tornou-se notório em tudo que fazia. Era o melhor aluno em todas a disciplinas, nunca mais arrumou briga por causa de seu nome. Ao invés disso ele falava sobre o significado do seu lindo nome e aproveitava para contar uma história em que o amor era o personagem principal. Dizem que Tutti Angelis viveu mais de cem anos, sempre pregando em nome de sua missão e nunca duvidando da proteção que ele tinha. Pois de um sem anjo, ele passou a “Senhor de Todos os Anjos”!

Mi Guerra
Enviado por Mi Guerra em 11/03/2011
Reeditado em 25/06/2011
Código do texto: T2841694