O Passarinho Azul

Era uma ave muito bela, de uma cor azul tão especial e diferente, que não havia um nome para aquele tom de azul, a não ser quando se dizia: - Azul como aquele passarinho, você sabe...

As suas asas eram longas e pontiagudas, com aquele azul turquesa ou cobalto, aquela cor dele próprio e o seu peito era um misto da cor das laranjas maduras e dos raios do sol, e a cauda, era escura com raios azulados e dourados combinados.

Quando o pássaro azul chegava com os seus companheiros, aos primeiros raios de sol quente, chamavam a fada com a sua voz fina em chilreios no céu claro e quente e pousavam nos cabos aéreos como crianças num balouço no jardim da sua infância e saudavam o sol e o seu país adoptivo.

A fada vinha correndo de dentro do seu abrigo, alvoroçada olhando o céu para saudar os seus amigos e maravilhar-se com a sua alegre chilreada.

Apenas havia uma imperfeição naquelas aves tão belas e alegres: - Elas não cantavam como outras aves famosas, apenas soltavam os seus chilreios semelhantes a pios, mas eram tão bonitas com a sua cor azul e dourada que ela se encantava todos os verões com a sua chegada ao bosque!

A fada demorou a descobrir onde era a casinha daqueles seus amigos, que de manhã chegavam em alegres bandos saudando o sol nascente, até que um dia teve a revelação: - Os seus amigos tinham os seus ninhos em pequeninas grutas escavadas nas encostas saibrosas do monte em frente e de lá saíam de manhã e regressavam á noite para descansar.

Mas...um dia chegaram umas máquinas estranhas ao monte em frente da casinha da fada, e começaram a escavar com um barulho estranho e deitando um fumo escuro, que assustou a fadinha que tossiu aflita.

Dia após dia, as máquinas deitaram todas as árvores abaixo, e abriram longos caminhos deixando a pele da terra em ferida, arrancando a sua suave pelagem verde.

Também arrasaram o cume do monte e a fadinha aflita via desaparecer as grutinhas das aves azuis, sem saber que fazer. Mas que podia fazer uma fada contra aqueles humanos que queriam destruir a floresta?

Pelo menos era Inverno e os seus amigos tinham ido passar uns tempos naquele outro país a sul, seguindo o verão e só voltariam quando o sol voltasse a aquecer, mas voltariam para onde, interrogava-se a sua amiga desolada.

Então, naquele inverno as chuvas redobraram de intensidade e as pequenas grutas que restavam foram inundadas pela água em enxurradas lamacentas que fizeram desmoronar as paredes de argila e areia entulhando as casinhas dos seus amigos.

A pobre fada também ela aflita tentando proteger a sua casinha da fúria da tempestade, olhava desolada para a destruição e pensava tristemente nos seus amigos de cor azul tão linda.

Mas então, os dias foram passando, as chuvas ficaram mais espaçadas e depois veio o frio intenso e a neve tudo cobriu com o seu manto branco enquanto a fadinha ficava dentro do seu palácio tentando manter o calor do verão e esperando pelo seu amado que vivia longe num país cheio de sol a sul, como as aves azuis.

Mas os seus amigos voltavam sempre e o seu amado ela não sabia quando chegaria, vivia apenas com a esperança de que ele um dia chegaria belo e único, com uma cor tão diferente e especial como os seus amigos alados e ela até sabia que ele também chegaria voando acompanhado dos seus amigos dos quais ele já lhe tinha falado nas mensagens que lhe fazia chegar através do espaço profundo, usando a sua magia para se comunicar.

Então naquele dia, quando a fadinha abriu a janela, o céu estava tão azul, tão brilhante e iluminado pelos raios do sol nascente, em cores rosadas, anil, verde e amarelo, de tantas tonalidades diferentes que parecia um fantástico arco-íris, só que não havia nuvens.

No entanto a fadinha nunca tinha visto um céu assim tão belo e olhando a sua varinha pousada no seu suporte especial, viu que do seu topo saíam também raios luminosos iguais aos que iluminavam e coloriam o céu.

Então a fada ouviu as vozes chilreantes dos seus amigos azuis e soube que a primavera estava a chegar, mas ficou a pensar onde iriam os seus amigos dormir nessa noite com os seus ninhos nas grutas, destruídas.

No entanto eles não pareciam preocupados e a fadinha resolveu sair para os saudar e descobrir o motivo porque estavam tão alegres e despreocupados e o céu tão luminoso e colorido.

Então ao sair a porta da sua casa, e ao levantar o seu olhar, a fada ficou a mirar com um semblante misto de alegria e espanto, e na sua face doce abria-se um sorriso molhado de lágrimas que irreprimíveis corriam pelo seu rosto, numa torrente de emoção e amor, pois que rodeado pelas aves azuis, um esplendoroso dragão se mantinha no ar, batendo as suas longas asas de bronze e ouro em movimentos lentos, e a seu lado, um imaculado corcel de batalha, de cor branca refulgente, abria as fortes asas e igualmente se elevava no ar em suaves movimentos.

Sobre o dorso do fantástico quadrúpede, um cavaleiro com um longo manto negro que flutuava no ar, deixando a descoberto a sua cota de malha entretecida de finos elos prateados, se equilibrava com elegância apertando a montada com as suas pernas esguias revestidas de calça justa e escura que se sumiam dentro de longos botins de couro negro chapeados a fino metal.

A fadinha ficou estática e incrédula, sem poder acreditar na visão fabulosa que os seus olhos alagados de lágrimas mostravam, enquanto o seu sorriso nervoso contradizia o seu choro que era apenas uma reacção de extremas emoções, pois aquele era o seu amado em carne e osso, autêntico como ela sonhava há tantas primaveras que a vinha finalmente visitar acompanhando os seus amigos azuis.

O seu amado com um sorriso desmontou e enlaçando-a pela cintura colocou-a no dorso do dragão onde ela se aninhou sem medo e então foram todos voando pela floresta, vendo a desolação provocada pelas máquinas, mas o seu amado conduziu-os para um local ainda virgem a norte, e lá desmontaram numa clareira, enquanto os pássaros azuis se espalhavam chilreando alegremente pois que viam por entre as árvores alguns montes de encostas argilosas e logo começaram a escavar novos túneis para construírem os seus ninhos.

Então o seu amor, com a ajuda do seu cajado de mago e dos seus companheiros, começou a construir também uma cabana com ramos de arvores tão finamente entretecidos e adornados com flores tão belas e perfumadas que a fadinha via perante os seus olhos maravilhados, um palácio construído com árvores vivas e suas ramadas entrelaçadas, como ela nunca imaginara ser possível.

Enquanto isso ela colhia bagas doces e frutos sumarentos para a sua refeição, que tomaram sentados no tapete perfumado de fina relva onde flores brancas alvejavam, acompanhados de goles de água da cascata que se formava na fonte pura e cristalina ali ao lado.

Quando a tarde estava no seu final, o seu belo palácio estava pronto para a receber, e as aves azuis voltaram chilreando alegremente por sobre a clareira, com os bicos cheios de ervas indicando que estavam a construir também os seus ninhos, e então o seu amado pegando-lhe ao colo levou-a para dentro do palácio vegetal e deitou-a suavemente no leito formado de folhas macias e penugens de corolas de flores, tapado pela sua capa negra de cavaleiro, e ela sentiu os seus lábios nos dela e o seu corpo aconchegando-a com firmeza e calor e fechou os olhos, deixando-se embalar pelas doces sensações daquele amor tanto tempo ansiado.

De manhã quando o sol voltou, tocou a face dos dorminhocos por entre as ramadas e os alegres chilreios dos pássaros azuis indo para a sua faina diária de procurar insectos e raminhos para firmar seus ninhos, encheu a clareira de alegria e sonhos realizados!

Arlete Piedade