ASAS DA LIBERDADE

ASAS DA LIBERDADE

Manhã de sábado,temperatura agradável, nuvens esparsas,vento sudeste,próprio para saltos, e este dia,marcava o aniversário de nossa equipe de Paraquedistas,ASAS DA LIBERDADE.

O Aeroclube,situado no anexo da pista de pouso principal do Aeroporto de São José dos Campos,abrira suas portas,e centenas de pessoas,chegavam para comemorarem juntos,o nosso aniversário.

Nosso diretor Social,Rafael,também PQD,meu amigo,meu irmão de esportes,se preocupava em prestar esclarecimentos e informações as pessoas que estavam visitando o Aeroclube,às mais variadas perguntas feitas,e,contando passagens com saltos em que participara quando ainda morador em São Carlos.Viera residir em São José dos Campos,depois do falecimento de seu irmão Adilson,também PQD,morto em Salto na cidade de Bauru,e, hoje, nosso Diretor e também piloto,com muitas horas de Vôo.

Outra pessoa a quem merecidamente se prestaria homenagem seria a uma amiga,PQD,que nos deixara recentemente,vítima de um acidente aeronáutico que lhe tirara a vida. Isto aconteceu na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, durante um Campeonato que, inclusive eu participei.

Estávamos reunidos no setor de dobramento de Paraquedas,Eu,Fernando,Alemão Búfalo,Guará,Sacci,Julião,Amarildo e Delegado.Estávamos discutindo fazermos um salto e formar uma Estrela de nove pontas.Tinhamos ainda, Dirceu,e Gustavo, com filmadoras,para gravar o evento.Todos reunidos, estudávamos as possibilidades, os prós e os contras. Nada deveria sair errado,para nos que já saltávamos a mais de dois anos, estávamos nos sentindo bem, um dia especial,para um sábado mais especial ainda.

Vou falar um pouco de Alemão Búfalo,PQD com mais de 1,90 de altura,jovem,alegre,e,pertencia a um grupo de motoqueiros,daí o apelido, pouco mais de 30 anos.

Guará, juntou-se ao nosso grupo, a um ano, quando perdêramos seu irmão Otávio, em queda livre e um possível desmaio,ocorrendo um charutamento.

Primeiro, depois de revisarmos os equipamentos fomos para a pista,e,embarcamos em duas aeronaves, seria uma demostração de salto de precisão,a mosca,estendida a beira da pista, nos daria a direção dos saltos.A primeira equipe,depois da aeronave ganhar altura,lançou o peso,para orientar a direção do vento, e posicionado a aeronave, começaram os saltos,cada equipe, compunha-se de seis participantes,tínhamos PQDs convidados também para o evento.A multidão, embaixo, aplaudiam cada salto realizado e pouso próximo a mosca.Sentiamos, no ato da saida da aeronave,a realização do sonho de Ícaro,o poder de voar,de controlar o equipamento e do pouso suave em solo. Das duas equipes, selecionados os que acertaram a mosca,premiados,foram aos hangares, para redobramento dos equipamentos, para o grande salto,a formação da Estrela de nove pontas.

Rafael, na minha chegada ao hangar, chamou-me de lado,e em tom baixo, alertara para que preparássemos uma brincadeira com um dos convidados,colocaríamos talco em seu equipamento,que durante a abertura, explodiria, dando um “banho” perfumado no usuário do equipamento. Isto, não deveria acontecer comigo, pois havia aprendido que cada um PQD deveria confiar tão somente no equipamento de seu uso,eu não confiaria saltar,se não dobrasse eu mesmo meu equipamento.A confiança de cada um é sua capacidade de expor sua própria vida, e isto aprendi vendo em exemplos e superstições que aprendia durante meu ensinamento como PQD. Até cito um exemplo: Em aeronave que se vá saltar, tipo aviões de pequeno porte, capacidade de oito PQDs,dizem dar azar, colocar a mão direita em qualquer parafuso de fixação das hélices...lembrei-me, que quando estava chegando no hangar, fui solicitado pousar para uma foto ao lado de uma jovem, e colocara minha mão na fixação da hélice direita da aeronave... detalhe que não me passou pela lembrança, como agóra,depois do acontecido.

Era chegada a hora,da Equipe saltar e brindar os assistentes com a formação da Estrela.Fomos para a aeronave, ,acomodamo-nos e aguardamos o momento , revisando os detalhes do salto.Estranho é que senti o batimento cardíaco subir, a adrenalina tomar conta de meu corpo,mas como já estava acostumado com saltos em equipe, pensei ser esta um emoção momentânea por ser este um dia especial.Nosso co-piloto nos deu aviso de aproximação da altitude e ponto de salto,levantamo-nos cada um fez a ultima revisão do equipamento e iniciou-se a saída da aeronave, um, dois três,quatro,cinco seis,sete,oito, saímos em queda livre, e procuramos a formação...cada um libeirou sua adrenalina,saboreando o momento e iniciamos a formação da esperada Estrela de oito pontas...outras aeronaves estavam também com outras equipes no ar,o espetáculo seria muito bonito.

Depois de alguns momentos,iniciamos a formação da Estrela,rodamos,deixamos traços nos céus durante a queda livre,e finalmente nos separamos.Ao girar para me afastar do grupo,senti-me descontrolar minha queda,mas logo tornei a me autocontrolar,e tive adescida suave,solando em harmonia quase junto aos demais integrantes da equipe. Aplausos,alguns colegas correndo, outros, ao longe,a porta do hangar,em pé,aplaudiam enquanto aproximava-me da porta principal. A medida que aproximava-me do hangar,passaram por mim,o Guará,O Amarildo, o Fernando,também com os seus equipamentos, mas não me responderam,como se não percebessem minha presença.Ao chegar,compreendi tudo...Selma, a amiga que comentei no inicio deste relato,que havia se acidentado,aplaudia-me,vagarosamente,com os olhos cheios de lágrimas,juntamente

com outros paraquedistas,dentre os quais reconheci Adilson,irmão de Rafael,nosso diretor social.

Finalmente, prestara uma justa homenagem nas ASAS DA LIBERDADE !

Julio Piovesan

30-03-2011