Duda no "Mundo das Coisas Perdidas"

Duda estava desesperada a procura do seu guarda-chuva desaparecido. O tempo estava tão feio, e pelo visto não melhoraria tão cedo, e ela precisava ir até a casa da Maíza fazer o trabalho de ciências. Ela já estava de capa e galochas, mas a chuva era intensa e ela realmente precisava do seu guarda-chuva. Procura vai, procura vem, pergunta daqui e dali, e a Luzia sugeriu-lhe:

- Já procurou debaixo da sua cama, Duda? Ao que a menina respondeu:

- Sim, já, procurei em tudo que é canto e não acho de jeito nenhum!

- Ah, Duda! Olha direito lá naquela sua bagunça! Eu já estou cansada de tanto arrumar suas coisas menina! Toma jeito! Olha de novo debaixo da sua cama, aposto que está lá!

- Tá bom, Luzia, vou olhar de novo! E lá se foi a Duda, de volta para o quarto, olhar debaixo da cama novamente.

Mas a bagunça era tanta, que Duda entrou debaixo da cama para procurar melhor. E, quando tentava afastar suas coisas de lado para ver se enxergava o guarda-chuva, Duda viu algo estranho. Era uma luz em forma de redemoinho, um tanto brilhante, bem ao canto da parede, que parecia não encostar totalmente no chão. Duda olhou aquilo, admirada, e percebeu que parecia com aqueles portais de desenhos animados, que levam as pessoas para outras dimensões. Apesar do medo, Duda esticou o braço e encostou-se a tal luz e, no mesmo instante, foi puxada para trás dela. Duda fechou os olhos, pois sentiu uma espécie de enjôo, um frio intenso na barriga. E quando ela resolveu abrir os olhos, qual não foi a surpresa que teve! Estava em um mundo totalmente diferente, onde havia coisas e mais coisas espalhadas pra tudo que era lado.

Duda limpava os olhos, abria e fechava, mas continuava ali, naquele lugar tão estranho, mas ao mesmo tempo tão divertido. Parecia uma grande seção de achados e perdidos. Eram prateleiras e prateleiras lotadas de coisas, das mais variadas. Desde coisas simples até as mais estranhas. Uma placa pregada na parede não deixava dúvidas de onde Duda estava. Os dizeres eram os seguintes: “Mundo das Coisas Perdidas!” Ao ler a placa, Duda abriu a boca para dizer algo, mas fechou logo em seguida, de tão surpresa que estava com a situação.

As prateleiras eram altíssimas, a perder de vista, eram extremamente organizadas, por data, nome de quem perdeu, tudo etiquetado e no seu devido lugar. A menina ficou maravilhada com tanta organização, ela nunca tinha visto nada igual na vida. E, num impulso, correu para examinar mais de perto os tesouros encontrados por ali. Mas assim que ela colocou a mão em uma das prateleiras, um alarme escandaloso começou a soar. E Duda, sentindo-se muito mal com aquilo, encolheu-se num canto e começou a chorar. Atraídos pelo alarme, apareceram por ali dois homenzinhos minúsculos e orelhudos, e foram logo indagando:

- Quem é você, o que faz por aqui?

- Eu sou a Duda, vim parar aqui sem querer! Entrei debaixo da cama para procurar meu guarda-chuva e tinha um portal que me puxou até aqui! Eu juro que não tive culpa!

- Huuummmm, Duda né? Já sei! Você é aquela menina que perde tudo né? Eu te conheço e não é de hoje! Você me dá um trabalhão para catalogar tudo! Quando eu acho que terei uma folguinha, lá vem você perdendo mais coisas!

- Mas seu... seu... seu quem?

- Malaquias é o meu nome! E este é meu ajudante Malvino, mas ele não fala.

- Ah sim! Mas vocês tomam conta de tudo isso aqui, sozinhos?

- Sim, Malvino e eu somos muito organizados e competentes, a não ser por uma gafe que ele cometeu hoje, não é mesmo Malvino? E Malvino esconde-se a trás de Duda, com vergonha de ter se esquecido de fechar o portal que dava pro mundo dos humanos.

- Ah, agora que eu entendi, vocês abrem este portal e vão pregar peças nas pessoas! São vocês que escondem nossas coisas e trazem pra cá! Que coisa feia! Isso não se faz, ouviram?

- Espere aí, senhorita Duda! Não é bem assim não! Nós só escondemos as coisas de pessoas desorganizadas, que vivem numa bagunça sem fim, que nunca colocam nada no lugar! E saiba que a senhorita tem a maior prateleira de coisas perdidas deste mundo!

Duda ficou parecendo um pimentão, de tanta vergonha que ficou da justa bronca que havia levado. E, com um ar mais humilde, perguntou:

- Será que eu posso ver minha prateleira, por favor? Ao que Malaquias respondeu:

- Claro que pode, mas somente te será permitido olhar, tocar jamais! Somente olhe, entendeu?

- Sim, entendi! Mas onde estão todas as coisas que eu perdi?

- E Malaquias, fazendo um sinal para que a menina o seguisse, entrou em um corredor que parecia sem fim. E, após vinte minutos caminhando, eles chegaram em frente ao “Mundo das Coisas Perdidas da Duda”. E ela, num misto de espanto e admiração, pode rever tudo o que já havia perdido em sua vida! Eram seções de material escolar, brinquedos, bolinhas, livros, sapatos. Mas as duas que mais lhe chamaram a atenção foram as de pés de meia e de guarda-chuvas. Então era isso, era para lá que iam os pés de meias perdidos. Tinham de todos os tamanhos, cores e personagens. E ela se lembrou de alguns, de outros mais ou menos, mas a sua admiração, juntamente com a vergonha de ter perdido tanta coisa, só foi crescendo. A seção de guarda-chuvas era bem menor, mas não era tão pequena não. Afinal, cada vez que saía com um guarda-chuva, ela o perdia. Simplesmente esquecia.

- De repente, Duda deu um grito! Visualizou a sua seção de eletrônicos perdidos. E lá estavam sua câmera fotográfica, seu último celular e seu MP4, dentro da bolsinha transparente que ela havia perdido. E Duda não resistiu, levou a mão para tocá-los, mas o tal do alarme disparou novamente, assustando a menina!

- Eu te falei para não tocar, disse Malaquias!

- Mas essas coisas são minhas! Isso não é justo! Eu quero as minhas coisas de volta! Eu nunca mais vou reaver as minhas coisas? E Malaquias:

- Não é bem assim. Tem coisas aí que já perderam o prazo de recuperação, mas tem outras que ainda estão temporariamente por aqui. Só dependerá de você tê-las de volta!

- Mas o que eu tenho que fazer? Perguntou a menina.

- Ser mais organizada, prestar atenção onde larga suas coisas, arrumar seu quarto constantemente. Enfim, colaborar com a pobre da Luzia que não é de ferro!

- Depois de ouvir isso, Duda escutou outro alarme, só que mais baixo e suave e, ao fundo, a voz de Malaquias dizendo:

- Organize-se, organize-se, organize-se....

Duda abriu os olhos, assustada, olhando pros lados, procurando Malaquias e Malvino, mas só o que viu foi a sua bagunça e a Luzia parada na porta com o seu café da manhã. E, sem entender muito o que havia acontecido, ela perguntou:

- Luzia, quanto tempo eu dormi? E o trabalho de ciências que eu tinha que fazer? Cadê a chuva?

- Calma menina! Você dormiu o suficiente para o seu descanso de cada dia. E o seu trabalho é hoje a tarde, na casa da Maíza, esqueceu? E quanto à chuva, imagino que realmente choverá, só que mais tarde, porque?

E sorrindo, ao perceber que tivera só um sonho estranho, Duda disse-lhe:

- Por nada Luzia, por nada! Traz aqui esse café, que eu tenho muito o que arrumar dentro desse quarto! E Luzia, estranhando muito a atitude da menina, perguntou:

- Credo, o que houve com você? Tá doente? E ela:

- Não Luzia, não estou! Somente acordei!

Mi Guerra
Enviado por Mi Guerra em 06/06/2011
Reeditado em 06/06/2011
Código do texto: T3018094