Pequena princesa... que cresceu!

A pequena menina correu por aquele extenso corredor, fracamente iluminado por algumas tochas. Adentrou um quarto muito grande e luxuoso, cheio de quadros e com uma cama grande e bem arrumada, no centro. Passou por tudo, sem sequer mover os olhos para o lado e seguiu por uma porta cristalina, chegando a uma sacada, onde estava um homem. Não muito baixo e já um pouco calvo. Usava roupas pomposas.

A menina trajava um vestido preto muito brilhante, feito de seda pura. Tinha a pele alva e os cabelos negros longos. As orelhas, levemente pontudas, e olhos castanhos, amendoados, demonstrando sangue élfico. Seus olhos eram muito belos. Impossível esquece-los.

- Papai, papai! – a menina chegou gritando.

A lua brilhava. Onipotente naquele céu sem estrelas. Um prateado celestial manchando o azul escuro límpido. Um imenso verde cobria toda extensão de terra, desde a sacada até onde os olhos alcançavam. E na sacada daquele palácio imenso, talhado em pedra prateada, com janelas de cristal e torres altas, estavam duas figuras. Duas pessoas. Pai e filha.

O homem se virou. Exibia feições cansadas, mas ainda assim abriu um sorriso para sua filha. Abriu os braços e a pequena criança foi envolvida num abraço.

- Minha querida, o que você faz acordada a uma hora dessas? – O homem tinha a voz fraca e confortante. – Você deveria estar dormindo. Já é tarde!

A menina olhou para ele e, com lágrimas nos olhos, apertou-o ainda mais forte.

- Papai, porque a mamãe não volta?

- Sua mãe esta cuidando de sua avó. Eu já lhe disse isso antes. A vovó está doente. A mamãe vai cuidar dela até ela melhorar.

- Eu sonhei com ela, pai. Com a mamãe. Ela pedia minha ajuda. Dizia que queria me ver. Ela estava bonita como sempre, papai. E disse que eu podia vê-la. O senhor me deixa ver a mamãe, papai?

O velho olhou para o céu sem estrelas e começou a lembrar-se de sua esposa. Uma lágrima correu por todo o rosto enrugado pelo tempo. Era uma elfa muito bela. Branca como a neve, o cabelo louro, quase como o ouro, e os olhos eram castanhos e amendoados. Tão parecidos aos de sua filha. Já havia quase um ano que ela havia falecido, mas ele nunca teve coragem de contar a verdade à menina. Para a criança, a mãe estava na casa de sua avó, que estava com uma doença desconhecida e precisava de cuidados.

O velho rei Zelod Winkle pegou sua filha e sentou-a na sacada.

- O que foi, papai? Eu não vou poder ver a mamãe? Ela disse que eu podia ir vê-la.

O monarca desviou os olhos para o chão e fechou-os, por um segundo, meditando, e voltou a abri-los, fitando o horizonte.

- Olhe estas terras, minha filha. Tudo que seus olhinhos conseguem enxergar, e até além. Tudo, tudo isso pertence a nosso reino. Nós temos um dos reinos mais prósperos e pacíficos de Alorye. Toiey é um reino muito querido por seu povo e com aliados fortes entre todo o povo do continente. Não há uma nação sequer que tenha inimizades conosco. E um dia essa terra abençoada e feliz será governada pela mais bela e bondosa rainha que este mundo já viu. E quando isso ocorrer o reino será mais próspero e a população mais feliz, do que eles têm sido até os dias de hoje. Todos terão orgulho de sua rainha.

A menininha olhou para seu pai. Ele tinha um brilho magnífico nos olhos enquanto falava. Pensou que o rei estava feliz com o reino que havia construído e que em alguns anos seria de responsabilidade dela, mas não era isso. Os olhos do monarca estavam cheios de lágrimas, por isso seus brilhavam tanto. Um brilho muito bonito. Um brilho de amor e saudade.

- Todo este reino, minha filha – continuou – será seu, Princesa Danda Winkle.

•••

Quando a noite já começava a cair, numa vila pequena e esquecida, no reino pacifico de Toiey, alguma coisa tirava a paz da população.

Eram sete bárbaros. Criaturas bestiais, mais parecidas com animais. De homem, pouco tinham. Apresentavam cicatrizes imensas e as cabeças nuas. Cada um carregava um machado de guerra, muito afiado. Não eram nativos de Toiey, não existiam membros desse povo em Toiey. Eram estrangeiros. Seres vindos de uma terra estranha e sem dono, sem lei. Onde apenas o mais forte sobrevive e o fraco é caçado como presa.

E era isto que os bárbaros faziam ali. Estavam famintos. Pilhavam a vila para poder se alimentar e se divertir. Gostavam de matar pessoas. Já haviam matado todos os guardas, que tentaram impedi-los de entrar na vila. Alguns outros corpos também estavam caídos no chão. Não se sentiam satisfeitos em matar apenas um ou dois. Era preciso saborear um pouco de cada um. Matar aos poucos, fazer sofrer. Quanto mais melhor.

As crianças gritavam, amedrontadas. As mulheres imploravam, em vão, para que eles deixassem os mais jovens vivos. Mas os bárbaros eram impiedosos e atacavam todos que avistavam. Gargalhavam alto, enquanto seus machados lançavam esguichos de sangue ao longe, cada vez que eram erguidos, após acertar um pobre inocente.

O pequeno povoado já estava condenado. Não tinha salvação. Aquele povo iria morrer, os bárbaros devorariam a comida deles e depois partiriam para outra vila, levando consigo os objetos que encontrassem e lhes agradassem. E no próximo vilarejo que encontrassem repetiriam o ato. E assim eles iriam fazer, até que alguém conseguisse detê-los. E foi um grito de dor, do maior deles, que anunciou que alguém os desafiava.

Todos sete se voltaram para trás, olhando para a entrada da vila. As faces dos camponeses, que antes demonstravam um medo constante, agora estavam cheias de esperança.

Ninguém sabe o que aconteceu exatamente desde o instante em que os bárbaros fitaram a misteriosa figura que estava parada na entrada da vila, até o momento em que, todos sete, fugiram amedrontados pela direção contrária.

Tudo o que viram foi os setes caindo, após pisaram no chão afetado por uma magia. A terra se tornou escorregadia e os bárbaros tombaram. A pessoa que antes estava parada na entrada deu um salto e caiu diante dos bárbaros, fitando-os. Em seguida de seu peito saiu uma luz azulada e uma explosão de água atingiu os bárbaros. Seus corpos ficaram dentro de um buraco. Ainda respiravam. Com um leve movimento com a mão fez uma onda surgir e expulsar daquele lugar os corpos de seus adversários. Eles haviam sido derrotados. A cidade estava salva.

Os moradores se aproximaram em festa. As crianças corriam para perto da moça e todos estavam muito felizes.

A salvadora daquele povo era uma linda jovem. Pele alva e cabelos negros longos, os olhos, castanhos e amendoados, chamavam mais atenção que suas orelhas, levemente pontudas. Sua roupa, uma calça branca até abaixo do joelho e uma camisa turquesa larga, tudo coberto por um sobretudo azul escuro, era algo tão reluzente que os moradores pensaram se tratar de um anjo.

Foi um velho ancião que, num sorriso emocionante, revelou a identidade da moça.

- É nossa princesa. É Danda Winkle, a filha do rei Zelod.

A população ficou paralisada e, um por um, foram se curvando. Dos mais jovens aos mais velhos, todos estavam com os joelhos no chão e com a cabeça baixa, perante a ilustre maga.

Danda abriu um sorriso fraterno e mandou que todos levantassem.

- Quero apenas um lugar para passar a noite. É tudo que preciso.

- O templo é o local onde temos as acomodações mais dignas de vossa alteza, mas mesmo assim ainda é muito humilde comparado ao que está acostumada.

- Aceitarei aquilo que me designarem. Não faço questão de luxo ou conforto. Quero apenas um local onde eu possa descansar por esta noite, antes de seguir viajem.

- Então venha comigo. – falou o velho – A casa de Delana está sempre aberta àqueles que desejam uma cama macia. Vamos, o templo fica por aqui!

O ancião conduziu Danda até o templo local, em homenagem a Delana, a deusa da natureza, mãe dos elfos e dos povos mais pobres e fracos. Ali, naquela humilde instalação, a princesa adormeceu tranqüila, com a sensação de dever cumprido.

Mestre Silfer
Enviado por Mestre Silfer em 09/06/2011
Código do texto: T3024946
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