Lembranças e futuro de uma princesa...

Recebi muitos elogios de uma amiga em meu conto "Pequena princesa... que cresceu!". Encontrei este conto que faz parte do livro que ia escrever das aventuras da princesa Danda... resolvi publica-lo em homenagem a minha querida amiga de letras, Elayne Aguiar (http://www.diariosdoces.blogspot.com/).

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Os primeiros raios de sol atravessaram os vidros da enorme janela e tocaram na pele suave do rosto da princesa. Ela despertou docemente, mas logo se apressou. Teria que seguir viagem logo, havia pouco tempo e muitos assuntos a serem solucionados. Vestiu os trajes simples que gostava de usar. Não era apegada ao luxo que as princesas costumavam ter.

Subiu a enorme escada de mármore e refez o caminho até o quarto de seu pai, como tantas outras vezes.

- Pai? O senhor está acordado? – perguntou Danda, sentando-se à beira da cama do rei Zelod.

- Estou minha filha – o rei abriu os olhos, sempre ternos e tristes – Mas o que você quer, acordada a uma hora dessas?

- Vim me despedir do senhor...

- Como assim se despedir? – o rosto do rei tomou feições estranhas. Ele estava triste e confuso – Para onde você vai?

- Estou em uma missão, não posso lhe fornecer muitos detalhes, pois seria muito perigoso. Vim pedir sua benção...

O rei sabia que não havia como impedi-la. Sua filha já não era mais a menininha que costumava adentrar seu quarto, chorando pela falta da mãe. Ela agora era uma mulher adulta, podia tomar decisões próprias. Além disso, era uma das mais poderosas magas que Zelod conhecia. Mesmo assim a idéia de ver sua menina partir não o agradava nem um pouco.

- Filha, eu realmente não entendo este súbito interesse em partir de Toiey, mas não importa o que você tem em mente, eu te abençôo e desejo que tenha a proteção de Keyzin.

- Obrigada, papai, eu sei que o senhor terá muito orgulho de mim, um dia.

- Eu já tenho minha filha, eu já tenho...

E dizendo isso eles se abraçaram e a princesa desejou que aquele abraço pudesse se repetir outras vezes...

Danda se levantou ligeira. Seu rosto estava molhado. Retirou a coberta de cima do corpo e sentou na beirada da cama. Esse não era apenas um sonho. Danda estava recordando o dia em que saiu de casa. O dia que abandonou seu pai para seguir sua missão. A saudade do pai era imensa. Ela nunca tinha passado tanto tempo longe dele. Mas era necessário prosseguir com a missão.

A jovem Princesa colocou seu sobretudo. Cobriu o rosto com o capuz e saiu, seguindo seu destino...

Danda seguiu por uma planície extensa, completamente coberta de uma grama verde muito macia. Uma grama um pouco mais alta aparecia em alguns pontos e balançava ao soprar do vento. Os belos cabelos negros de Danda esvoaçavam ao vento, deixando a Princesa ainda mais bela. Ela caminhava serenamente, apreciando a paisagem ao redor. Toiey era um reino muito belo, e não existia pessoa no mundo que acreditava nisso mais do que Danda.

A jovem se deteve um momento. Já caminhava há horas e acreditava que já era hora de descansar. Sentou-se na relva macia e bebeu um pouco de água. O calor era sufocante. A princesa ergueu seus olhos. Perdida em muitos pensamentos lembrou-se do dia em que sua vida mudou. O encontro com Lord Yanji e seu discípulo, há anos atrás mudou sua vida para sempre...

Era uma tarde fria. O inverno já havia chegado e a temperatura começava a cair. Duas pessoas surgiram perante a grande porta de mármore do castelo Sopubo. Era um castelo alto, totalmente feito de mármore negro. Ficava numa parte mais alta do litoral, tendo a porte principal voltada para o continente e uma enorme sacada voltada para o mar. Um encantamento fazia com que as pedras do castelo emanassem um brilho eu poderia ser visto há uma considerável distancia.

Os dois forasteiros pararam à frente da porta. Era um senhor e um menino. O homem, um senhor com pouco mais de quarenta anos, vestia uma armadura vermelha, que cobria o torso e os ombros. Da cintura aos joelhos quatro placas metálicas, uma de cada lado do corpo, faziam a proteção. Duas bainhas adornavam a cintura. Uma longa, finamente trabalhada. A outra curta, e pouco mais simples. Ambas levemente curvadas. Toda a vestimenta era extremamente luxuosa. Os olhos eram amendoados, num castanho-escuro. Trazia os longos cabelos negros presos num coque. Um bigode, curto e fino, se destacava na pele levemente amarelada. Pertencia ao clã dos samurais. A elite dos guerreiros do reino oriental.

O menino vestia trajes luxuosos. Um enorme quimono verde, feito de seda, adornado com desenhos de um dragão-serpente, símbolo de Shamle, o deus da Honra. O menino tinha os olhos cor-de-mel, e os cabelos negros curtos e um tanto crespo. Não aparentava mais de dez anos.

O senhor bateu três vezes na porta. Ela se abriu fazendo um forte estrondo. Um enorme salão surgiu à frente dos dois. Longas escadas e muitas portas por todos os lados. Um tapete azul claro revestia toda a sala, e cobrindo cada uma das escadas havia longos tapetes num tom esverdeado.

Do topo da escada mais ampla surgiu um ancião ao lado de uma mocinha. O homem já estava bem de idade. Era um pouco calvo e sem pelos na face. Os olhos, azuis, cintilavam, em contraste com sua pele enrugada e levemente avermelhada. Um manto azul claro cobria-o do pescoço aos pés. Trazia um cajado de madeira nas mãos. A menina era de uma beleza impressionante. Os cabelos negros, soltos, iam até acima do ombro. Sua pele era branca, e os olhos, amendoados e castanhos. Tinha orelhas levemente pontudas. O menino que acompanhava o samurai deixou escapar um suspiro de admiração ao vê-la.

- Seja bem-vindo, Lord Yanji. Estávamos a sua espera.

O samurai subiu as escadas junto de seu pupilo e ao alcançar o topo fez uma reverencia ao mago.

- Como vai, Mestre Keryx? Este é meu discípulo, Idnam.

O garoto de curvou perante o mago.

- Discípulo? Mas ele não é oriental.

- Idnam é de Kaog. É um órfão. Estou cuidando dele. Vai se tornar um ótimo samurai.

- É de confiança? Sabe que iremos tratar de assuntos muito sérios.

- É meu sucessor. Será ele quem receberá os ensinamentos mais importantes do clã dos samurais. Ele é parte importante da conversa.

- Pois bem. Esta é a jovem Princesa Danda Winkle – Yanji fez uma reverencia à princesa, seguido de seu pupilo – Venha. Vamos para um local mais adequado.

Os quatro seguiram por diversos corredores até chegarem a uma biblioteca enorme. Enormes estantes, abarrotadas de livros, cobriam todas as paredes da sala. Sentaram-se numa mesa circular. Ali começaram a conversar.

- Princesa Danda, daqui há alguns anos um terrível demônio será despertado – começou Keryx, com sua voz gutural – Este demônio irá destruir todo o mundo conhecido em questão de dias. Apenas o cumprimento de uma profecia poderá destruir este terrível mal. Yanji está tentando decifrar a profecia, mas ela está numa língua que ninguém se mostra capaz de entender. Eu tenho um acordo com ele, e quando estiver próximo o momento desta terrível tragédia ter inicio, você deverá procura-lo. Você irá ajudar os samurais no que eles precisarem.

- Eu? Mas porque eu, Mestre?

- Você tem o maior potencial mágico que já vi. Será de grande utilidade para eles. Não podemos revelar muita coisa, mas você deve ajuda-los.

- Alteza – a voz grave do samurai ecoou pela sala – Ninguém tem certeza da natureza da profecia. Não sabemos nem mesmo se ela realmente mostra-nos como destruir este demônio. Vamos precisar de toda ajuda possível. Por favor, ajude-nos!

Danda, embora confusa, aceitou. Sentia-se importante. Iria ajudar a salvar o mundo.

- Preste atenção, Idnam. É você quem auxiliará Danda quando chegar a hora. Procure por Idnam, alteza. Vocês terão que ajudar aquele que pode salvar nosso mundo. Se ele realmente existir...

Idnam e Danda deixaram seus mentores a sós, tratando de assuntos importante e particulares.

Os dois jovens ficaram no corredor, um de cada lado. Idnam fitando Danda, desviando o olhar ao mesmo tempo em que corava, toda vez que seus olhos encontravam os dela.

- Deve ser legal viver como samurai. Saber se defender. Enfrentar monstros para salvar o povo. Se tornar um herói.

Idnam engasgou nas primeiras palavras, mas conseguiu responder.

- Na verdade, eu ainda não sou nada disso. Pretendo ser. Mas você também será. Não ouviu o Sensei falar? E, além disso, você é maga. Magos são fortes... – prosseguiu num sussurro – e você também é muito bonita...

Danda conseguiu ouvir. Deu uma risadinha e uma leve corada.

- Mas sou uma princesa. Todos ficam me mimando, nunca deixam que eu faça aquilo que eu quero.

- Isso é normal. Os filhos do Imperados também são muito protegidos, principalmente as meninas. Os filhos homem têm, pelo menos, o treinamento samurai, as moças nem magia podem aprender. Vivem trancadas no palácio.

- -E... elas devem sofrer...

Idnam percebeu que ela estava ficando triste.

- Bonito castelo. Você vive aqui?

- Não. Moro no palácio real. Existe um portal em meu quarto aqui que leva direto ao quarto do palácio. Não consigo ficar longe do meu pai.

- E sua mãe?

- Papai diz que ela está cuidando da vovó. Seus pais moram com você?

- Não os conheci. O sensei me criou. Tenho ele como um pai.

Os dois ficaram conversando um bom tempo. Estavam se tornando ótimos amigos.

- Quer ver meu quarto?

- Posso?

- Claro. Venha!

Os dois subiram um lance de escadas que terminou em frente a uma bonita porta de cristal, encantada magicamente para refletir imagens, impedindo que se visualize o interior do quarto. Danda tocou numa pedra de prata, circular, cravada no local da maçaneta e a porta se abriu.

- Entre.

Idnam nunca tinha visto algo tão belo. O quarto emanava um brilho azul. Todos os móveis feitos de cristais de diversos tons de azul. E uma enorme sacada, com vista para o mar.

- Aqui eu pratico magia – disse apontando para a sacada – Quer ver?

O jovem, abobalhado, fez que sim com a cabeça e se aproximou da moça.

Danda começou a se concentrar, e gotas de água subiram do Oceano. Ela fez as gotas rodopiarem no ar, guiou-as por um longo tempo, antes de faze-las cair pesadamente no mar, despertando Idnam. O aprendiz de samurai estava observando a maga. Era imensamente bela. E enquanto fazia a magia, seus olhos brilharam, emanando poder.

- O que aconteceu com seus olhos?

- Keryx falou que eu concentro o meu poder nos olhos.

- A maga capaz de concentrar o poder nos olhos. Discípula do grande mestre Keryx. Princesa Danda Winkle, filha do rei Zelod Winkle, herdeira do trono de Toiey e a mais bela jovem que meus olhos já avistaram. Esse seu poder é incrível.

Danda dá um leve sorriso e a porta se abre num estrondo. Os mestres entram.

- Idnam, vamos! Temos alguns assuntos importantes a tratar antes de regressarmos. Temos que nos apressar.

- Sim senhor, sensei.

Idnam se aproximou de Danda.

- Quero que fique com isto. – ele entrega a ela um livro – É um livro de magias. Ele está trancado. Eu tenho a única chave. Será uma forma de obrigar-nos a nos encontrarmos novamente. Até breve, princesa.

Idnam se curvou, mas logo Danda agarrou-o num abraço e ali se despediram, prometendo se reencontrarem para cumprirem seus destinos.

A princesa seguiu, perdida em seus pensamentos. Aproximava-se da região onde seu mentor vivia. E era para o castelo dele que Danda rumava. Andava por uma região florida, perfumada e muito bela. Uma bela rara e incomum, como a da moça que atravessava o roseiral. Era as terras que pertenciam à avó de Danda, e era ali que ela passara sua infância. Brincando em meio às flores, desafiando-as com sua beleza anormal.

Enquanto passava por aquele lugar, que tantas recordações trazia, a Princesa lembrou-se de seu pai. O rei sempre dissera a sua filha que não existia flor naquele local ou em qualquer outro ponto do mundo, que superasse a beleza da jovem. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Danda. Atravessou toda aquela perfeição e caiu sobre o chão num ruído surdo.

Ainda que não tenha ouvido som algum sendo provocado pela lágrima, despertou Danda do transe. A saudade do pai era enorme, mas tinha que prosseguir com sua missão.

Caminhou por uns três ou quatro dias, antes de chegar às terras pertencentes a Keryx. Logo que passou pelas plantações, onde muitos camponeses trabalhavam, foi recebida com entusiasmo pela população. Os mais velhos viram a jovem princesa crescer, estudando magia com o senhor daquela região. Os jovens haviam nascido e se criando com a princesa por perto, alguns até já haviam brincando junto com a Princesa. As crianças conheciam histórias fantásticas de Danda, que a tornava uma heroína na visão infantil.

Seguiu por entre os camponeses, tratando-os muito bem e dando um pouco de atenção a todos. Finalmente alcançou as portas de mármore de Sopubo. Os grandes portões abriram a sua frente, e com um sorriso no rosto ela correu para dentro, para os braços de seu mentor. E assim se abraçaram, mestre e pupilo, num abraço que mais parecia de um pai em seu filho.

Keryx separou-se de sua discípula e a olhou alegremente.

- Você cresceu bastante. Tornou-se uma mulher admirável.

- Fui muito bem instruída. Tive o melhor professor do Reino.

O velho mago sorriu, mas na mesma hora seu rosto tomou uma feição melancólica.

- O que traz você a Sopubo? – Keryx já sabia a resposta, mas mesmo assim quis fazer a pergunta.

- Mestre, vim buscar o livro. Quero saber se posso leva-lo.

Uma lágrima escorreu pelo rosto do conjurador e ele se dirigiu, docemente, a sua discípula:

- Princesa Danda, não posso impedi-la de cumprir seu destino. Um destino que eu ajudei a construir. O livro é seu. Eu sabia que esse dia iria chegar. Venha, vamos pega-lo.

Os dois seguiram por numerosos corredores até chegarem a um quarto escuro, que se iluminou fracamente com um comando de voz de Keryx. Sobre um pedestal, protegido por várias armadilhas mágicas, estava o livro. Uma forte proteção antimagia envolvia a sala. Apenas Keryx sabia a forma de anula-la. E assim ele fez. Depois, uma a uma, ele desarmou as armadilhas. E assim eles alcançaram o livro.

Keryx abriu espaço e permitiu que Danda se aproximasse. A Princesa tocou o livro e sentiu uma forte energia envolvendo-a. Nunca antes ela havia sentido uma certeza tão forte de que aquele era seu destino.

Mestre Silfer
Enviado por Mestre Silfer em 14/06/2011
Código do texto: T3035042
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