O alvorecer de um Sol antes já visto – Parte II

Era cedo. O sol podia brilhar em uma luz tão branca e ofensiva que fez os olhos dos cinco corpos celestes fecharem com a dimensão que cada segundo mais se alastrava por aquele céu estranho e sombrio. Airon, Nanael, Daniel, Caliel e Haziel. Todos estavam assustados, embora a coragem habitasse a pouco em vossos corações, temiam tê-la deixado escapar nessa viagem astral para o Plano da Terra. Afinal será que realmente tinham ido ao lugar errado? O céu e o sol formavam uma tonalidade cinza obscura, diferente do cotidiano desses anjos habitantes do Distrito de Marte. O céu foi sempre conhecido por eles com uma tonalidade amarela ligeiramente alaranjada como o amanhecer do dia e jamais foi diferente.

- Será que o Pôr-do-Sol, aquele que nos indaga a acordar para a batalha ao amanhecer do dia jaz nesse plano meus irmãos? Indagou Airon destemido caindo em sua tentativa de esconder seu lado temente da situação.

- Não tema Airon, disse Nanael. Estamos unidos em nome de nosso Pai todo poderoso, Demiurgo, e jamais seremos derrotados em nossa missão.

Era uma pena que seus corações e mentes ainda estivessem iludidos com a bondade exagerada encontrada na Cidade de Prata. Se continuassem assim, em pouco tempo iriam jazir nas terras desconhecidas da Orbe de Satânia pensava sozinho um pouco atrás Haziel, o mais sábio e antigo do grupo.

- Meus Irmãos, não temam. Manifestou-se Haziel.

- Como estamos em forma de Invólucro, uma forma espiritual, enxergamos em preto e branco. Isso é normal, esperava que fosse de vosso conhecimento.

- Estando nessa forma não iremos deixar rastros e sequer seremos atingidos por nada, a não ser “dano mágico”. Concluiu com jeito de sabe-tudo Haziel, sorrindo em ter lembrado da matéria primeiro que os outros.

- É verdade. Disse então Daniel. Agora começo a lembrar-me dessa aula. Não podemos esquecer do Hadjar que também pode nos ferir.

Contrariando as idéias de Daniel, Nanael indagou rindo do medo que por incrível que pareça havia dominado o grupo.

- Ele é raríssimo, ainda mais nesse plano meu irmão. É ilusão sua acreditar que alguém irá nos atacar aqui com tal metal.

Enquanto essa discussão ocupava os breves momentos após a passagem astral dessas criaturas de um mundo distante, Mário Villa Nova, Principado responsável pelas terras do estado do Rio Grande do Norte acabara de receber a mensagem de Marcelo Slaparta.

- Mais anjos? Estou começando a achar que meu domínio é um Shopping Center da Cidade de Prata! Dizia em fúria como se a muito tempo esse calo estivesse sendo maculado.

- Calma meu senhor, são apenas anjos de passagens, jovens anjos. Dizia então o serviçal de Mário.

- Jovens? Isso é o pior de tudo Alfredo, mais anjos jovens. Não agüento mais! Estou cansado de limpar a sujeira desses malditos. Se dependesse de mim, destruiria todos. Sem exceção...

- Você sabe que isso é comprar briga com as castas meu senhor. E ainda mais, puxar os olhos do Conselho para vossas ações. Continuava tentando acalmar Mário; Alfredo, O serviçal.

- Eu sei Alfredo, Eu sei. Não precisa me lembrar de coisas tão óbvias.

- Saia já. Preciso de um tempo a sós comigo mesmo.

Após a saída, Alfredo encostou o ouvido na porta para tentar absorver algo de novo. Ele sabia que Mário tinha sérios problemas de expressão e costumava constantemente falar sozinho. Principalmente aquelas coisas que não eram contadas para ninguém, eram ditas em tais momentos. Após algum tempo de silêncio, Mário começou a falar como era previsto por Alfredo.

- O anel. Suspirou como se fosse um fardo pesado que estivesse carregando. Será que mais anjos vieram buscar o anel? Voltava a falar em um tom baixo, meio que levemente irritado.

- Será que vai ser sempre assim?

- Destruo uma pequena falange e então virá outra. Mais uma destruída e então virá outra. Irei acabar sendo descoberto. Voltava então, Mário, a permanecer em silêncio.

Passou-se então cerca de um minuto e nada mais pôde ser ouvido por Alfredo. Era hora de comunicar seus contatos do que havia acontecido e do que poderia acontecer. Com certeza era uma informação “quente” para seus superiores na Cidade de Prata, afinal havia sido mandado para cá nesse objetivo; Descobrir mais sobre Mário.

- Bem meus irmãos, está na hora então de colocarmos em prática o que nos foi ensinado em Paradísia, falou Haziel. Todos se lembram perfeitamente do poder angelical de disfarce? Não se esqueçam, ele foi ensinado a nós nos primeiros anos de treinamento. Concluía a ordem Haziel.

Por ser o mais bem sucedido do grupo foi escalado como Líder da Falange, apesar de não ser tão diferente dos demais.

- Vamos antes de tudo fazer uma prece a Demiurgo para nos guiar em nossa batalha! Exclamou Caliel, o mais religioso e puro do grupo.

Todos se uniram, deram as mãos e em uma oração silenciosa começaram a rezar o pai nosso. Quando a oração teve seu fim, Airon foi o primeiro a abrir os olhos. Ficou meio sem entender o motivo da escuridão que a pouco não havia no local. Segundos depois, um a um soltavam as mãos e tentavam apalpar algo em vossas frentes perdidos em uma espécie de vácuo de escuridão. Ouviram todos então uma prece de Caliel:

- Meu pai, todo poderoso. Criador do céu e da terra dê-me forças para combater tal escuridão que assola meus irmãos.

A partir de quando a frase se tornava longa seu som era distorcido. Logo, todos foram presos em um silêncio mortal por onde apesar de não respirarem sentiam-se asfixiados. Caliel então, invocando seu poder no círculo mágico, conjurou uma esfera de luz conseguindo então ver que nesse momento, já estava sozinho. Porém, no fundo de uma reta horizontal que parecia algo como o fim de uma caverna ele viu asas. Um homem com cerca de 1,80 e 2 pares de asas brancas e compridas se aproximava. Caliel sabia que ter asas não era algo tão difícil no mundo sobrenatural, mas apenas anjos dedicados e mais antigos ultrapassavam o limite de duas asas. Após alguns segundos, com um sutil riso acompanhado de um verso calmamente pronunciado a criatura desfere uma frase ao pobre anjo:

- Irás jazir pombo inocente.