O alvorecer de um Sol antes já visto – Parte III

Caliel estava aterrorizado. Apesar de estar em sua forma de invólucro e não passar de uma forma espiritual, aquele ser portador de asas angelicais podia vê-lo e ainda mais caçoar de sua divina existência.

- Pombo inocente? Falou em tom de raiva Caliel. Guarde suas palavras para si mesmo criatura das trevas. Em nome de Deus todo poderoso te ordeno a sair desse recinto.

Caliel tentava, mas não conseguia esconder o medo que sentia de estar sozinho sem seus irmãos frente a uma criatura sobrenatural jamais vista. Após uma leve risada e balançar na horizontal para ambos os lados à cabeça, a criatura até então desconhecida desfere ao pobre anjo uma ordem em tom severo:

- Revele-se em uma forma material, pombo inocente. Voltando a caçoar da santíssima existência de Caliel.

Sabendo que em sua forma espiritual não iria ser capaz de atingi-lo, Caliel se conjura em um disfarce material por onde logo após a metamorfose retira uma espada de suas costas e desfere um golpe quase certeiro ao peito do ser desconhecido. Por pouco talvez Caliel tivesse conseguido apunhalar o peito esquerdo da criatura, mas o nervosismo e a velocidade espantosa pela qual se esquivou foram mais que suficientes para que Caliel atingisse em cheio, o ar rarefeito que por ali existia. Após o golpe meio sem equilíbrio Caliel cai de joelhos por traz da criatura, enfiando sua espada no solo como meio de apoio.

- Retire-se já! Ordeno-te criatura das trevas, retire-se. Apesar de não ter sido sequer tocado ainda, Caliel estava dominado por um pavor o qual jamais havia sentido. Ele queria com toda certeza fugir, mas não havia buracos nesse recinto obscuro onde se encontravam no momento. Começando a se aproximar, a criatura levantou Caliel pelo pescoço e o imprensou na parede até que Caliel pode sentir um furo na região inferior abaixo de seu peito direito.

- Como posso ser atingido?

- O que você é?

- O que você quer?

Eram frases que jorravam da boca de Caliel enquanto ele se movimentava rapidamente tentando escapar de seu predador. Ele estava tremendamente assustado, estava sendo atacado por uma criatura poderosíssima, criatura que dominava muito bem a magia ou era portadora de uma adaga forjada de Hadjar, ambas coisas não esperadas por ele. Após alguns segundos de "pensamentos" de dor, medo, fúria, vergonha, Caliel já se sentia fraco. Será que o mais crente do grupo iria ser destruído logo na sua primeira missão, temia Caliel.

- Calma Caliel. Não irei destruí-lo, falou então calmamente a criatura. Continuando a frase segundos depois:

- AINDA.

- Quem é você que tem conhecimento de meu santo nome criatura das trevas? Falou Caliel.

- Meu nome é Mário, não precisa chamar-me de criatura. Sou um corpo celeste como você e apenas estou defendendo meus domínios.

- Mário Villa Nova? Gaguejava a interrogar, Caliel incrivelmente assustado.

- O mesmo, ao vivo, pena por pena. Dizia Mário sorrindo feliz com o medo que havia causado em Caliel.

- Irei fazer-lhe algumas perguntas e gostaria de ter uma resposta completa a cada uma delas, para o seu próprio bem meu irmão. Indagava calmamente Mário, como se matar esse jovem anjo fosse apenas mais um de seus afazeres cotidianos.

Mário não gostava nem um pouco de visitas em seus domínios, principalmente quando essas visitas eram de jovens celestes. Estava cansado de ficar levando carões e ter que limpar a sujeira deixada por eles. Ultimamente havia descoberto vários itens mágicos pelos bairros mais antigos da capital, e não queria compartilhá-los com ninguém.

- Não me machuque, eu só te imploro isso. Gaguejava Caliel. Infelizmente, o medo havia superado sua fé e agora o objetivo de Mário se cumprira.

- Quem te enviou aqui e por quê?

- Estávamos a bastante tempo sendo treinados por Márcio Castro, um dos paters da Paróquia de Santa Maria... a resposta foi interrompida por uma tosse seca resultante da batalha a pouco travada.

- Nossa missão ainda não nos havia sido revelada, mas a pouco Mário Slaparta, Bispae da Paróquia de Santa Maria tomou nossa tutela em nome de um Magistrati que não sei o nome.. e em nomine do conselho nos enviou para essa missão.

- A adaga pressionou um pouco mais a região das costelas de Caliel que resultou em um grito;

- Capturar um item da Cidade de Prata! Berrou Caliel enquanto se esticava do golpe que havia sido estocado em suas costelas.

- Que item? Continuou de forma manipulativa em tom sério e de olhos frisados nos de Caliel, Mário.

- Não sei. É verdade! Acredite em mim, gritava Caliel. Não nos foi informado, seria uma informação a ser dada após a chegada na Terra. Eu juro.

- Em nome de Demiurgo! Exclamou Caliel.

Preso aos olhos de Caliel em meio sua manipulação barata Mário não havia notado os movimentos seqüenciais nas mãos do jovem anjo, agora uma luz enorme crescia em suas palmas e Mário não tinha menor idéia do que seria aquilo.

- Demiurgo, rogo por tua ajuda. Pai nosso que estais no Céu, santificado seja o vosso nome. Venha a nós ao vosso reino, seja feito a sua vontade. Assim na terra como no céu.

A partir de quando a oração se completava as luzes só tendiam a aumentar nas palmas de Caliel. Quando então a oração findou, as mãos de Caliel uniram-se formando uma bola de luz concentrada de proporções de assustar qualquer um. Caliel nunca havia conseguido finalizar esse feitiço, nem muito menos com toda essa intensidade. Concerteza, as mãos de Deus estavam ajudando-o nesse momento de desespero. Apenas o fato de olhar para ela já deixavam Mário praticamente cego. Com as mãos protegendo os olhos e o rosto Mário começou a se afastar. Até que as nuvens repletas de escuridão começaram a se separar, repleta de lacunas, dando vida às árvores que existiam ao redor dos dois e aos corpos de seus quatro irmãos desmaiados ao chão. Eles estavam em uma espécie de jardim no último andar de um edifício. Eram plantas reais, apesar de não estarem em seu real habitat. Mário estava assustado, presumiu Caliel. Será que seria vencido dessa vez por jovens?

- Realmente confesso jovem pombo. Subestimei você e seus amigos. Disse como sempre, calmamente acompanhado de risos irônicos.

- Mas não cometerei o mesmo erro duas vezes.

Em menos de um segundo as luzes nas mãos de Caliel se extinguiram e as trevas voltaram a se unir uns dois metros acima do solo sobre controle de Mário. Aquela bola de energia maligna emanava uma aura pesada o que deixava tanto Caliel quanto seus irmãos recém-acordados em um estado de enjôo. Todos caíram enjoados e sem forças, quando Mário recitou uma das últimas palavras que deveriam ser ouvidas por tais anjos.

- Vão embora anjos desgarrados. Falando em tom severo.

E toda a energia maligna sumiu. Então repentinamente uma voz pode ser ouvida por traz de Mário e isso não era nada bom.

- Chegou a sua hora, anjo maldito. Indagava alguém desconhecido até então no ambiente, por traz de Mário Villa Nova.

- Mas.. o que é você? Assustado Mário perguntava.

- Agora é a sua vez de temer, antigo Irmão. Disse o ser desconhecido até pouco. Trovões rasgaram os céus, uma chuva forte capaz de furar o solo e nuvens pesadas e escuras cobriram tal visão de Mário. Era o fim, concerteza..