Adão e Eva - mudanças no Paraíso!

Adão, sem nada melhor para fazer, saiu a passear pelo jardim do Éden. A rotina do dia a dia e a cabeça vazia começavam a mexer com a sua imaginação. A paz que experimentava, segundo seu Criador, duraria para sempre. "Por toda a eternidade!" lhe dissera Ele. Palavras carentes de entendimento para quem desconhecia o oposto...

Começou, então, a conjecturar sobre a possibilidade de mudanças, sem saber de onde surgia aquela inquietação ou a justificativa para o seu desassossego.

Eva também comentara com ele sobre essa sensação de vazio que de vez em quando tomava conta do seu ser. "Coisa estranha - dizia ela, sinto falta de algo, mas não sei explicar o que é... Temos um ao outro, levamos uma vida tranquila, na verdade tranquila demais... Algo me diz que não é o bastante, que pode ser diferente! Talvez até melhor ou pelo menos mais interessante."

O Senhor, obviamente, lia o pensamento dos dois e ouvia seus comentários cada vez mais frequentes e questionadores. Resolveu, então, conversar com eles. Assim que os viu juntos, lhes disse:

"- Precisamos fazer uma reunião, nós três, e é do interesse de vocês dois. Algum compromisso nas suas agendas?..."

Deus sabia ser espirituoso...

Claro que não tinham compromissos e sequer sabiam o significado real daquelas palavras. Apenas sorriram embalados naturalmente pela inocência e completamente alheios ao que poderia advir desta inesperada confabulação. Mas perceberam, intuitivamente, que haveria novidades no Paraíso.

Deus, então, retomou a palavra.

"Sei das suas aflições, do inquietamento que se instala em suas mentes e já esperava por algo assim. Vocês foram criados com algumas ramificações do cérebro desconectadas. Foi proposital. Queria saber até onde o livre arbítrio os levaria e quando se libertariam do marasmo de uma vida a dois sem projetos futuros, sem desafios tentadores e produtivos e, principalmente, sem grandes novidades. Posso mudar isso, mas haverá consequências..."

"Que tipo de mudanças e quais seriam as consequências?" - quis saber Adão.

"Posso mudar a constituição física das células em seus corpos e conectar a libido em seus cérebros. Isso os tornará fisicamente atraentes e poderão procriar como os demais animais - que vocês conhecem tão bem e cujos instintos já tiveram oportunidade de observar e cuja reprodução estão habituados a acompanhar."

"E isso será bom?" - perguntou Adão.

"Naturalmente que sim, como tudo que faço..." (Deus provavelmente era leonino)

"E as consequências?"

"Essas mudanças vão alterar radicalmente a constituição de seus corpos e o comportamento das células será outro. O consumo de energia será enorme e o que era eterno neste plano deixará de ser. Suas células libertarão sementes para constituir outras vidas, mas o preço será a falência da matriz. Vocês envelhecerão e com o tempo voltarão ao pó de onde vieram. E todos que vierem depois, geração após geração, passarão pelo mesmo processo."

Desta vez foi Eva quem questionou:

"Pelo que vejo entre os animais, e imaginando que não poderá ser diferente com nós dois, fico a pensar se não seria doloroso para mim..."

"Não se preocupe com isso. Na primeira vez talvez estranhe um pouco pelo inusitado da situação, mas depois...

"Depois o quê? Sentirei dores ou não?"

"Pelo ato em si não, mas depois..."

"Mas depois o quê, meu Deus?!!! (nasceu aí a insegurança da mulher... e a sua capacidade de questionar tudo!)

"Este será, infelizmente, um preço que você deverá pagar: as dores do parto! Mas estará preparada para elas... e para isso vai praticar todos os meses até se habituar. Ou se conformar..."

"Adão sentirá dores também?"

"Sentirá sim, no lombo! Sua vida mansa vai acabar, deverá trabalhar para o sustento da família. A vida de passarinho, livre de compromissos, acaba aqui..."

"Eva não terá que trabalhar?" - reclama Adão.

"Teórica e aparentemente sim, não teria! Mas na verdade será o contrário..."

"Não entendi!" - refletem os dois simultaneamente.

"Nem tentem entender..."

Estava criada, a partir daí, a primeira e constante polêmica: quem ficou, de fato, com a maior parte do trabalho?

O homem reclama (ou afirma) que a mulher fica o tempo todo em casa, numa boa, sem preocupação com horário para trabalhar, sem necessidade de viagens, sem cartão de ponto para bater, assistindo tranquilamente todas as novelas, todos os filmes da sessão da tarde, descansando à vontade... Entretanto, não é ela a primeira que levanta, prepara o desjejum para todos, cuida da limpeza da casa, da louça, da roupa, prepara a comida e cuida das crianças (banho, vestuário, escola e tudo o mais...) e ainda deve esperar o marido limpinha, perfumadinha e, paradoxalmente, descansada e atraente?...

Ela, por sua vez, reclama o tempo todo que na outra encarnação quer nascer homem: que acorda sempre bem disposto, que canta despreocupado no banho enquanto a mulher ralha com as crianças por motivos incompreensíveis. "Mulher é muito estressada..." ele diz. "Homem é tudo (sic) safado!" ela retruca.

Hoje a mulher optou por trabalhar fora e entrou no mercado de trabalho de igual para igual. Mas continua, naturalmente, trabalhando dentro! Enquanto o homem (folgado!) descansa no sofá, assistindo sua Tela Quente ou acompanhando o desempenho do seu time e o desenrolar do calendário esportivo. E ela lá, na cozinha, pilotando fogão ou se estressando com as crianças...

Mas, voltemos à Terra...

"E então, o que vocês querem?"

Após uma pequena discussão sobre o que não achavam certo, mas que na verdade era irrelevante naquele momento, a decisão óbvia:

"Fala pra Ele, Adão..." (não adianta reclamar, a mulher já começou mandando...)

"Somos pela mudança... e seja o que Deus quiser!" (quem manda é ela, mas quem bate o martelo sou eu...)

"Sim, eu quero! Quero muito ver no que vai dar tudo isso... Afinal, vocês são minha melhor experiência e ela ainda não acabou. Bem que a Deusa previu que isso aconteceria e disse que esperaria para ver. Agora, portanto, quem quer ver sou eu..."

E todos vimos... Só não vimos, ainda, a Deusa (certamente maravilhosa - pois somos todos feitos à imagem e semelhança) escondida neste imenso Universo de Deus... Deve ter, certamente, seus motivos. Pois Deus, indiscutivelmente, sabe sempre o que faz!

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 26/08/2011
Reeditado em 15/07/2020
Código do texto: T3183202
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