O alvorecer de um Sol antes já visto - Parte IV

Pôde ser visto ao alto uma pequena falange se aproximando do alto prédio o qual residia Mário Villa Nova. Eram cerca de seis anjos totalizando sete junto ao desconhecido por trás de Mário. Tudo se resolveu na pobre mente insana de Mário quando seus olhos poderam ser desviados para trás e pôde então reconhecer a voz e a face de seu mais antigo servo, Alfredo. A voz de Mário palpitava como as batidas lentas que um coração deveria ter:

- Alfredo? Tentou indagar por mais que sua gagueira dificultasse.

- Richard La Croix.

Acompanhada de sua apresentação era desferida mais uma frase para Mário em tom de revolta:

- Servo dos pecados.

O diálogo curto teve seu fim quando os seis anjos desceram com suas enormes asas brancas e apontaram suas diversas armas para Mário, indefeso no recinto. Os seis anjos que acompanhavam Richard estavam com as mais diferentes armas e armaduras. Quatro eram protegidos por armaduras épicas de um material semelhante ao aço que protegia o peitoral, ombro e pequena parte do braço. Um elmo podia separar seus olhos e deixar os cabelos longos mais presos perante o pescoço. Portavam desde arcos a espadas enquanto os outros dois vestiam sobretudos e estavam carregados de armas de fogo. Quando todas as armas presentes no recinto poderam realmente mirar em um ponto imaginário exatamente no meio do crânio de Mário ele disse revoltado:

- Como pôde me trair seu desgraçado! Confiei todos os meus segredos a você. Dei a ti o que nenhum outro daria. Você merece arder nas chamas eternas do inferno!

Nem sequer um segundo após o término de seu breve discurso, Mário por mais que estivesse prepotente, foi atingido por flechas em suas pernas, que o levaram a cair de joelhos ao chão na tentativa de se apoiar com as palmas das mãos.

- Nos conte tudo sobre O anel Mário. Talvez desse modo sua punição seja um pouco mais breve. Disse Richard.

Richard estava com os punhos cerrados e a mão direita levantada reta. Deu entender que se abaixasse seria um dos últimos suspiros de Mário.

Mário não era burro, sabia que com certeza o Serviço Secreto da Cidade de Prata infiltrara Richard em seus domínios para absorver dados sobre os ocorridos nas últimas décadas. O anel de Tenebrus não estava mais seguro.

De repente no clima de tensão Mário soltou uma risada. Ele realmente estava fadado a arder nas chamas do inferno e talvez rir fosse o melhor a fazer.

- Vocês não podem possuí-lo.

- Vocês não podem possuí-lo! Disse Mário em tom de desespero.

- Nunca o possuirão. Nunca! Ele gritava sem parar.

Meio aquele diálogo, os jovens anjos estavam caídos de bruços apenas observando tal cena. Logo em sua primeira missão darem de cara com o serviço secreto da Cidade de Prata, itens poderosos e um anjo corrompido. O que mais poderia acontecer imaginou Nanael? Um frio dominou o ambiente. Os únicos que podiam sentir a alteração de temperatura era Mário e Richard já que estavam com seus próprios corpos ali e não uma projeção astral de sua real essência como os demais. Enquanto Richard olhava para os lados sem ter a menor idéia do que acontecia ali, Mário levantou-se, arrancou de suas pernas as flechas e olhou para os lados como se esperasse algo. Tentáculos de um material viscoso e escuro feito piche subiam por todos os lados do edifício. Enquanto no início eram menos de uma dezena, segundos depois eram quase uma centena. Eram finos como braços, porém compridos como um prédio de poucos andares. Somando-se começaram a formar uma espécie de cúpula que trancafiou a todos ali. Por trás da cúpula de trevas atravessavam várias criaturas. Guerreiros materializados através das sombras estavam armados com espadas e lanças enquanto tinham suas peles repletas de uma cor escura e tudo era negro: suas armas, armaduras e cabelos. Pouco a pouco cada vez mais guerreiros atravessavam a cúpula para o lado interno. Antes mesmo de o terceiro conseguir atravessar por inteiro aquela barreira Richard baixou o punho dando entender que a batalha deveria começar. Enquanto os dois anjos portadores de armas de fogo atiravam à distância nas criaturas de trevas os quatro guerreiros épicos deram partida a uma série de ataques corpo a corpo contra Mário. Quando o primeiro guerreiro levantou a espada, o principado olhou em sua direção e berrou em fúria:

- Dê partida de minha cidade.

E em seguida olhando para o outro disse novamente:

- Saia de minha cidade seu verme.

Uma ventania puxou os dois guerreiros e os retirou daquela cúpula para bem distante. Momentos antes do buraco gerado pela sucção na cúpula ser fechado os outros podiam ver os dois anjos assustados serem puxados por algo mais poderoso que eles e a levá-los para algum lugar longe dali.

Com certeza Mário tinha a intenção de utilizar desse poder angelical mais vezes, porém uma espada atravessou seu rosto rompendo de uma bochecha a outra. Ele foi jogado ao chão cuspindo sangue e um pedaço de sua língua. Havia sido Richard e Mário agora estava furioso. De seu bolso ele retirou uma caixinha rústica com entalhos semelhantes a um olho. Ao abrir tal caixa acendeu uma chama de menos de três centímetros. Essa chama se estendeu a uma esfera com mais de um metro e meio de diâmetro e foi em sua direção. A chama desferida por Mário acertou em cheio o peitoral de Richard explodindo sua armadura em pedaços enquanto ainda acarretou um grande dano de impacto. Os outros dois guerreiros que estavam cada vez mais próximos vindo por cima de Mário estavam prontos para empunhar suas espadas em seu crânio, porém Mário fez surgir seus quatro pares de asas e recuou cerca de 50 metros acima próximo ao limite da cúpula em uma velocidade que sequer foi vista pelos outros dois anjos épicos. Suas asas eram tão grandes e belas que deixaram os cinco jovens assustados. Esse foi o momento escolhido pelos cinco para iniciarem a participação na batalha, porém após as últimas ações de Mário com certeza concordaram em ficar apenas na platéia. Apesar de sua super-velocidade, seu manuseio com o item mágico e desvio dos demais golpes estava ferido gravemente. Se ele continuasse ali não demoraria muito para cair ao chão e ser capturado. A cúpula das sombras começou a criar uma abertura junto aos tentáculos sombrios que a formavam por onde Mário começou lentamente a se retirar. Suas mãos estavam ensopadas de sangue, pois estavam tentando parar a hemorragia que se formava em sua face. Quando realmente achou que já estava fora da cúpula e a mesma deu início a união dos tentáculos para fechar, um laço prendeu seus pés e o puxou para dentro. Richard havia lançado aquela corda dourada que emanava uma luz e começou a puxar pouco a pouco Mário para dentro. Em desespero, o fugitivo colocou suas asas a trabalho e começou a batê-las querendo se retirar de dentro da cúpula, porém sem sucesso. Não houve jeito e logo ele já estava novamente dentro da cúpula e a menos de 30 metros do piso da cobertura. Os cinco jovens correram e começaram a ajudar Richard com a corda. Enquanto não haviam notado, os guerreiros sombras somavam-se em mais de cinqüenta. Richard não podia ficar naquela brincadeira com a corda e deixou então apenas os cinco jovens puxando-a. Enquanto os dois atiradores e os dois guerreiros épicos lutavam contra cerca de 30 sombras humanóides, Richard já estava destruindo com sua espada de duas mãos os outros vinte. De repente, nota Caliel afastando-se da corda e dando saída de olhos fechados em direção a um dos limites horizontais da cúpula. Ele andou com os olhos fechados e as mãos erguidas como na intenção de apalpar algo. Quando Caliel então abriu seus olhos as sombras retiraram-se em uma velocidade surpreendente dando origem a um homem encapuzado que não parava de entoar cânticos e realizar movimentos seqüenciais com suas mãos. Ele era o controlador daqueles guerreiros e da cúpula, Caliel pensou. Em desespero e feliz por ter descoberto algo que pudesse salvar o dia ele gritou:

- Aqui! É ele! Ele está controlando as sombras desse local.

Um dos anjos vestido de traje e armas épicas voou ao alto e retirou de suas costas seu arco. A flecha que de suas costas fora também retirada era dourada e sua ponta era mais alongada, chegando a ter uns quinze centímetros. Quando a atirou um trovão rompeu o centro vertical da cúpula dando origem ao céu e a flecha penetrou no peito direito do feiticeiro. Todas as sombras sumiram como fumaça, quando jogada em um meio onde se faz menor que os outros gases presentes. Richard vendo a posição de Mário próxima ao solo voou rapidamente em direção a ele e o amarrou com o resto da corda. O feiticeiro saiu mancando, tentando correr com falta de ar e cuspindo sangue, até que Richard olhou para um dos atiradores e fez:

- Retire tudo que conseguir da mente dele. E lembre-se, não o mate. Apague sua memória.

Richard mudou seu olhar para Mário e disse:

- Chegou à hora de seu julgamento verme.

Um golpe atingiu a cabeça de Mário repentinamente o que causou-lhe um desmaio. Os cinco jovens estavam reunidos na frente dos outros quatro e todos se olhavam surpreendidos pelo desempenho do grupo. E então disse Richard sorrindo feliz pela captura:

- Parabéns garotos, a primeira parte de sua missão foi cumprida.