2 - O Principe dos Sonhos

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Morpheus caminhava por um bosque com pinheiros altos e arbustos cheios de frutas vermelhas. A estrada era de tijolos vermelhos e bem organizados. Lembrava a historia de Alice no país das maravilhas. O céu estava alaranjado e cheio de luz. Em cima de um morro gramado, um pequeno castelo luxuoso com apenas uma torre no meio. Ele caminhava em direção ao castelo. Ao longe, escutava uma melodia doce e serena.

Saindo do bosque, um campo aberto de grama rasteira e um vento morno, mas refrescante, se estende além do horizonte. Um homem estava sentado numa pedra, tocando uma melodia numa harpa. Seus dedos dedilhavam rápida e habilmente o instrumento. Pássaros e alguns animais estavam ao redor. A cena lembrava Orfeu, o poeta e musico da mitologia grega, que vivia cercado por animais a fim de escutar sua harpa.

O homem que tocava a harpa era esguio, cabelos lisos e penteados para trás. Usava uma manta preta que cobria todo o seu corpo, com alguns detalhes tribais em azul. Seus olhos, todo ele, eram escuros, sem nenhuma luz de vida.

Morpheus tinha parado a alguns metros de seu irmão, Sandman, e contemplava o som de sua harpa. A melodia o fazia voltar ao passado, quando era um simples neófito nos desígnios do mundo do sonhar e sua missão.

Sandman parou de tocar e olhou sobre o ombro para seu irmão.

- Está há muito tempo ai?

- Um pouco, mas pude apreciar a música. – disse Morpheus, vendo os animais se afastando lentamente.

O poeta-músico olhou para o horizonte, taciturno. Se levantou de repente, dando alguns passos para frente, como se tivesse recebido uma revelação divina. Ele olhou de lado para Morpheus e sorri de leve, como um corte em sua face.

- Estive pensando muito, irmão. Pensando sobre meu futuro.

- Por isso me chamou?

- Sim. Vamos caminhar um pouco.

Então, os dois passeiam lado a lado pelo campo aberto, deixando o vento balançar suas veste negras e seus cabelos. Passam alguns minutos em silêncio. Morpheus olhou para ele, intrigado, e corta o silêncio com sua voz calma e serena.

- Você está pensando em seu futuro?

Sandman sorriu, sem qualquer entonação de sentimento.

- Sim. Meu futuro. Há mais de dois mil anos que sou um dos sete senhores do sonhar. Vivendo através dos sonhos de outras pessoas. Salvando-as delas mesma. E qual o significado disso tudo, se eu também não posso sonhar?

Morpheus se surpreendeu com essa pergunta. Os senhores dos sonhos, acreditava, não foram criados para sonhar e sim para ajudar os outros a terem seus próprios sonhos. Serem guias num mundo tão incerto e espiritual. A vida humana gira em torno dos seus sonhos. É o sonho que rege destinos, vontades, alegrias, desejos, medos... através dos sonhos, milagres podem ser realizados, mensagens podem ser entregues. Para quê os senhores dos sonhos deveriam sonhar se eles próprios faziam parte do sonho? Morpheus olha hipnoticamente para frente, para as montanhas ao longe, não acreditando que escutara aquilo. Sentiu uma moleza franca nas suas pernas.

- Onde você quer chegar, Sandman? – perguntou friamente Morpheus. – você sabe que isso nunca aconteceu a nenhum de nós antes. Por que esse desejo repentino de querer sonhar. Não há necessidade de nós termos isso, já que temos o poder de manipular os sonhos. O que você espera com esse seu desejo? Não vê que é... – Morpheus fecha os olhos, odiando aquela conversa. – que é irracional.

- Irracional? – sorri Sandman, mas por trás de seus olhos negros, Morpheus percebe que não estava rindo e sim ironizando de forma misteriosa. – sonhar e viver a realidade são coisas simplesmente fantásticas. Ansiar, desejar, medo... tudo isso é extremamente gratificante. É único. Cada momento, cada sonho, podem ser transformados em momentos únicos. Sonhar e realizar o seu sonho tem algo a ver com o mágico. Acredite, Morpheus, na beleza de ser independente e ter o livre arbritio para isso.

Morpheus fecha os punhos com raiva.

- O que você pretende? – perguntou, engolindo em seco.

- O que pretendo é que não se volte contra mim por querer sonhar. Por querer...

Morpheus o olhou, esperando. Mas Sandman não falou mais nada. Observou o céu do sonhar, as nuvens rosas e tênues. Pousou o olhar em seu irmão, desconfiado de toda aquela história. Sandman sorriu, e seus olhos se fecharam.

- Até mais irmão. Preciso pensar.

E com essas palavras, Sandman caminhou até seu castelo. Morpheus o acompanhou com o olhar, pensativo.

davifmayer
Enviado por davifmayer em 22/12/2006
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