As borboletas inesperadas

Pela janela de madeira já desgastada pelo tempo, a pequena Liz observava seu jardim.

Aquele mesmo jardim... De tempos atrás, que costumava ser repleto das mais diversas cores, perfumes e sons. Aquele humilde canteiro com flores que presenteava a pequenina menina com horas de devaneios pelos campos mais lindos de sua imaginação.

Ela preferia ficar ali durante o tempo que desse, naquele exato local, com os cotovelos apoiados na base da janela velha, do que brincar com sua boneca de pano. Nada lhe dava mais satisfação, nada lhe trazia mais felicidade! Era tudo o que ela precisava... Ouvir, observar e sentir a natureza.

Mas agora... Tudo tinha desaparecido! Aquele jardim de antes não existia mais... E em seu lugar deixou apenas a terra rachada e folhas secas espalhadas pelo chão. Nem uma margarida sequer sobreviveu para ver o sol raiar...

Então a pequena começou a chorar... E chorou durante horas a fio, como se cada lágrima escorrida pelo seu rosto representasse uma pétala de flor caída no chão. O que havia acontecido com seu jardim? Seria castigo? Será que ela fora uma menina má com sua mãe e seu irmão durante os últimos meses? Será que ela não teria feito suas orações todas as noites? Ou será que as flores teriam ficado bravas porque ela porque, de repente, esqueceu-se de regá-las algum dia? Não... Liz nunca se esqueceu de lhes dar água... Disso tinha absoluta certeza.

Em determinado momento, já cansada de tanto chorar, baixou sua cabeça, pois não podia mais suportar olhar para aquilo que seu jardim tinha se transformado...

Foi quando aconteceu...

A pequenina sentiu uma brisa e logo levantou a cabeça para que as lágrimas secassem, e então, como num passe de mágica, ela avistou uma linda borboleta verde voando e vindo parar em seu parapeito. A Borboletinha fechava e abria as asas rapidamente mostrando os lindos desenhos que possuía na parte interna de suas asas.

“ Mas como é possível? Não existem mais flores aqui para que essa criaturinha venha nos visitar...

Mas o importante é que ela está aqui...” Pensou Liz.

E, logo em seguida, a borboleta saiu voando novamente...

Cheia de felicidade, a menina foi contar à sua mãe sobre a visita inesperada:

- Mamãe! Uma linda borboletinha verde veio me visitar esta manhã!

- Minha querida, eu sei que você está muito triste por conta da seca que assombrou o nosso jardim. Mas é impossível que tenham borboletas vivendo por aqui... Pois elas não sobreviveriam! Você deve ter sonhado...

No dia seguinte, assim que despertou, lá foi Liz novamente para a janela chorar de saudade...

Então, uma segunda borboleta, dessa vez azul, veio voando em sua direção. Mas dessa vez, ela não parou no parapeito da janela. Ela entrou no quarto e voou durante alguns minutos...

Como se estivesse fazendo uma apresentação de ballet, a borboleta ia e vinha, pousava em cima da cama e levantava vôo... Até que foi embora, rumo ao céu...

Liz foi até a cozinha, puxou a saia da mãe e disse mais uma vez:

- Mãe, uma nova borboleta veio me ver hoje! Uma azul da cor do céu...

- Liz... Escute bem... Eu sempre lhe ensinei a dizer a verdade, lembra? Não quero mais que a senhorita fique inventando histórias sobre borboletas! Estamos entendidas?

Mais uma vez, na manhã seguinte, Liz foi até o parapeito da janela, mas não mais para chorar e sim para esperar a visita das borboletas...

Uma grande e bela borboleta vermelha e roxa veio dos céus e parou diante da menina... Ficaram as duas ali... Se olhando, como se estivessem numa espécie de conversa. E no final, a borboleta fez o de sempre... Partiu...

Liz saiu gritando

- Mãe, Mãe! Dessa vez a senhora precisa acreditar em mim... Eu vi uma enorme borboleta vermelha e roxa!

- Chega menina! Chega dessas suas invenções! Já estou cansada de escutar essas mentiras...

Uma semana se passou, e nenhuma borboleta mais veio visitar a pequena.

Lá estava Liz ainda dormindo, debaixo das cobertas, apesar dos cocoricós das galinhas que ciscavam ali por perto quando sua mãe veio lhe acordar.

- Liz... Minha querida, acorde! Há uma grande surpresa para você... Acho que aconteceu um milagre! Olhe depressa pela sua janela... Ande...

A menina saltou da cama e foi logo ver o que tinha acontecido...

Seu jardim! Seu jardim estava lá, só que agora um jardim muito maior, que cobria todo o seu quintal... Todas as flores tinham voltado, ainda mais coloridas e mais bonitas!

Sua mãe lhe perguntou:

- O que é que você fez minha filha? Eu sinceramente não entendo como...

- Ah mamãe... A última borboleta que esteve aqui me disse para não perder a fé... E eu simplesmente nunca deixei de acreditar... Nunca duvidei por um segundo sequer que elas tinham estado aqui, comigo!

Mesmo que parecesse algo impossível e mesmo que a senhora não acreditasse em mim...

A mãe então olhou para a janela e viu pousar ali as três borboletas, uma do lado da outra... A verde, a azul e a majestosa vermelha com roxo.

“ Muitas vezes, nossos jardins secam e tudo parece perdido... Mas nunca duvide de que um novo jardim está esperando por você lá na frente, muito melhor e muito mais bonito... Mesmo que te digam o contrário ou que te pareça algo improvável... Basta ter paciência, e saber esperar a chegada das borboletas aos poucos...”

Ju Lefky
Enviado por Ju Lefky em 30/12/2006
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