4 - O Principe dos Sonhos

4 – O Príncipe dos Sonhos

Morpheus estava deitado na relva verde de um campo imenso, iluminado por uma luz artificial vindo das montanhas do sul. Um vento suave soprava os galhos e folhas dos arbustos. Deixava seus pensamentos vagarem como ovelhas no pasto, sem direção, sem rédea, sem limite. Seus pensamentos pairavam sempre sobre seu irmão e sobre o seu estranho comportamento. Onde já se viu senhores dos sonhos desejarem sonhar? A idéia era ridícula, mas não podia deixar de se preocupar. Sentiu que algo nunca antes visto estaria para acontecer. Uma inquietação perfurante e incansável. Respirou profundamente, fechando os olhos e tentando imaginar o que Sandman estaria planejando.

Mas eis que um calor repentino e cinco sombras o circulam como pedras num altar de sacrifício. Abriu os olhos lentamente, observando cada um dos cinco senhores dos sonhos. No rosto de cada um, preocupação. No rosto de cada um, algo indecifrável que significava problema. E muito sério.

De um salto Morpheus ficou de pé, olhando impaciente para cada um deles, sem dizer uma palavra. Então, ele fixou em um homem baixo e forte, usando uma espécie de bata vermelha púrpura. Seus olhos brilhavam como dois sóis.

- O que houve? – perguntou Morpheus, engolindo em seco, já imaginando o que acontecera.

- Nosso irmão mais velho... – começou o homem que tem dois sois no lugar dos olhos. – ele está fazendo algo muito grave e estranho a nossos olhos.

- O que é Jim?

- Ele está mantendo uma mulher em coma.

Morpheus ficou estupefato. Que idéia louca! A missão dos senhores dos sonhos era guiar as pessoas para fora dos sonhos, seja para a vida ou para a morte. Essa era a predestinação de todos eles. O que Sandman estava pretendendo com isso?

- Sabemos que ele andava estranho... Mas isso já é demais, não acha Morpheus? – perguntou Jim, virando de perfil, mostrando apenas um dos seus fascinantes olhos.

Jim era uma lenda na Pérsia antiga, onde os mais sábios e velhos narravam o poder dele. De restaurar um reino a destruí-lo. Sempre foi o mais terrível dos senhores dos sonhos, preferindo se esgueirar nos pesadelos dos outros, mostrando coisas terríveis para o infeliz poder achar a saída do sonho. Para ele, o paraíso tornava-se maravilhoso e próximo, quando antes se caminhava uma longa jornada pelo inferno. Os senhores das sombras, em conversas reservadas, o chamava de O Inquisidor dos Sonhos.

Morpheus olhou duramente para Jim.

- O que pretendem fazer?

Um homem alto e magro, com olhos feitos de diamante brilhando abaixo de sua manta, deu um passo em direção a Morpheus. Era o mais estranho e misterioso dos Senhores dos Sonhos, agindo sempre de forma reservada no mundo dos sonhos. Um ser imprevisível, falando pouco e em raras ocasiões. Sempre envolto em sua manta cinza brilhosa, escondendo sua face nas sombras, parecendo um fantasma vagando pelos sonhos das pessoas.

- Não vamos tomar nenhuma decisão trágica. – sussurrou Demov, fitando firmemente Morpheus. – esperamos que antes você o convença a voltar a ser um senhor dos sonhos. Tenho minhas suspeitas do por que ele está agindo assim, mas não importa. Se ele não voltar com você, nós quem iremos atrás dele sem nenhuma misericordia.

- Por que eu, por que isso? – perguntou Morpheus, na defensiva, com um nó na garganta.

- Você é o mais próximo dele entre nós. Talvez a você ele escute. Não queremos destruí-lo, portanto, tenha sucesso em sua missão.

- Ou não tenha. – Jim encarou Morpheus com um sorriso maldoso. – há muito tempo ele vem agindo de forma negligente com os sonhos, em nossas reuniões e em nossas batalhas contra os Inconscientes. Se ele não voltar, eu mesmo terei o prazer de caçá-lo.

Morpheus engoliu em seco, temendo o poderoso Jim e a sua fúria. Virou-se para Demov, com suplica. Ele jogou a cabeça para o lado, movendo toda a sua manta suavemente, desviando o olhar de Morpheus.

- Os senhores dos sonhos não devem se comportar como deuses. Você sabe disso. – respondeu Demov, sem se virar. – há muitas preocupações pairando em nossas existências para nos preocuparmos com Sandman. Ache-o e traga-o de volta, ou ele vai deixar de existir.

davifmayer
Enviado por davifmayer em 07/01/2007
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