O Bufão e o Violino

Numa época em que a vida tinha pouco valor, onde reis coroados pelo Divino viviam a guerrear em nome do Santo Deus, alguns homens utópicos imaginaram um mundo, onde a razão, o cavalerismo e a civilidade seriam marcas de um novo éon.

Naqueles tempos as coisas mudavam drasticamente, fosse pela guerra ou fosse pela doença, mas um velho bufão tocava seu violino de aldeia em aldeia, trazendo raros sorrisos para aquelas pessoas tão sofridas.

Pensem nisso: Qualquer palavra colocada errada, poderia significar ser queimado numa fogueira, mas o velho bufão não tinha medo de nada, afinal ninguém o levava a serio e seguia tocando suas trovas falando de Cristo, cavaleiros, donzelas, dos infiéis muçulmanos, dragões e santos.

Curiosamente, o bufão, dizia que Santo André devia ser uma pessoa anormal, pois possuía cinco cabeças e dezoitos pés, pois cada um desses membros se encontravam nas igrejas das cidades do leste, conquistadas recentemente pelos otomanos.

Mas o bufão também tinha sentimentos, amores perdidos na dolorosa estrada da vida e o violino chorava as magoas da donzela que a peste havia levado, nunca mais amou e andava errante naquele mundo estranho.

O violino lhe sussurrava nos ouvidos:

-Por que estamos numa guerra que não é nossa?

- O Senhor Leonardo Da Vince sabe dessas coisas. – Respondeu o receado bufão. – Encontrei-o em Florença, ele inventa umas coisas esquisitas, você sabe... - Sabe uma coisa que ninguém nos tira? – O Nosso conhecimento.

-Mas ter conhecimento, não é perigoso? – Num tom maior perguntou o violino.

-Sim... Mas para nós não há perigo, afinal somos os loucos da rua, ninguém nos leva a serio. Vou te contar um segredo. – Suspirou o bufão. - Um dia chegaremos a lua.

- Que bobagem. – Desafinou o violino.

- Quem viver verá, mas por ora vamos seguir por esta estrada e que ela nos leve aonde Deus quiser.

- E o Senhor Leonardo Da Vince? Não vamos visitá-lo? - Perguntou harmoniosamente o violino.

- Outro dia nós o visitaremos e perguntaremos sobre estes negócios de guerras e pestes, mas não hoje...

E ambos partiram pela vereda ladeada pelas arvores do bosque, tendo como guia o pôr do Sol medieval, sem destino, sem rumo, sem direção e sem ninguém esperando, apenas a solidão e a tristeza de saber que o mundo é assim, mas, apesar de tudo, ainda ter esperança que o dia de amanhã será melhor do que hoje e entender que sorrir é o melhor remédio.

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