O Caminho de Oya

A deusa Oya caminha sob as estrelas. Ela atravessa a longa estrada barrenta onde seus pés escuros apalpam a terra. Seus olhos aterradores repousam sobre tudo ao redor.

Uma árvore muito antiga que ali estava foi testemunha de sua passagem. Silenciosa e fresca. Sem flores mas frondosa. Abrigo para a noite. Oya deitou-se em suas raízes e descansou no embalo da noite.

Transformou-se em água e foi embebida pelas raízes. Misturou-se ao rio das profundezas e foi levada pela rocha ao mar. Oya gigante, Oya linda, caiu inteira na imensidão.

Qual não foi sua surpresa quando a cuia de um pescador a tomou. Jogou-a sobre o corpo para aliviar o calor, sentindo perfumes de escuridão. Chegando em casa ele pôs-se a contar estórias de mar e estórias de rio e trajetos de terra. De sua boca saíram coisas tão inimagináveis que ele não compreendia, mas contava. Falou de estórias de princesas aprisionadas, de homens velhos ao redor de fogueiras, de velhas bruxas e suas casas em florestas esquecidas, de antigas pedras, de homens amaldiçoados em navios e crianças doces que chegavam órfãs em terras estranhas. Sua mulher ouvia tudo e os fantasmas que ali estavam também. Sem que o pescador percebesse eles atingiram seu corpo, como fluidos de ar, perpassavam sua cabeça e encorajavam-no a dizer pela sua boca o que Oya tinha visto no mundo.

Um dia ao deitar-se, sonhou com uma árvore. Silenciosa e fresca. Sem flores mas frondosa. Abrigo para a noite. Sonhou que se deitava sobre suas raízes e transformado em água foi levado pela rocha ao mar.

- Vieste me encontrar pescador, devolve-me o que de mim tiraste outro dia.

Eram grandes olhos que o olhavam do fundo do oceano como que nus. Ele, de mãos vazias, levantou-lhe a cabeça e disse:

- Oya és tu, não posso te devolver o que agora pertence a mim, pois o que é teu misturou-se ao que em mim não se toca.

Ela ouvindo isto, transformou-se em fúria e vestindo-se com o vento foi rapidamente à superfície movimentando os ares com tanta força que eles se debateram e chocaram-se criando trovões e raios. O destemido pescador, nada falava.

-Então vai ser tua sina ter que sobreviver ao mar.

Acordando-se com uma leve tristeza mas possuído por um mistério, ele olhou pela janela o seu pequeno barco e o vento morno o fez lembrar o que acabara de sonhar. Teve vontade de procurar uma árvore e em segredo lhe falar.

Mila Mariz
Enviado por Mila Mariz em 12/03/2012
Código do texto: T3549087
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