128 – UM MORTO SONHADOR...

Culpam-me por não ter sido, culpo-me por ter sido, nas lembranças o que foi e o que não foi ainda entrelaçados, esvanecida a esperança o sonho morreu. Carrego culpas por ter amado, por não ter amado, alguém teria que ser o culpado pelo sonho que morreu. A noite fez alturas sem luar e sem estrelas... A cor da meia noite a tudo serenou e silenciou. Meu pensar estrondosamente também fez alturas, enluarado e estrelado, estou sonhando um sonho que já morreu!

Num efêmero pingo de luz na cruz perdido, resplandece o sonho que o morto sempre sonhou:

- Das vezes em meus momentos de melancolia me consigo ver alma adentro por inteiro e sinto que se me subtraíssem os sonhos eu nada seria. Venha amor! Na finda da noite olores perfumados da terra afloram, embriagam e enlouquecem almas perdidas no farfalhar desta brisa fria açoiteira de ciprestes uivantes e que nas sepulturas estremecem aqueles que dos sonhos estejam apartados, eternos seremos enquanto ousarmos a sonhar, pois a vida também é um sonho e é preciso acordar para senti-la. Acorda amor! Um sonho lindo nos espera!

Com os olhos intumescidos que da luz desprovidos foram, o morto insiste e tateia em miragens mirabolantes e sedutoras, sonha que está vivenciando o sonho que sempre sonhou:

-Venha amor! Vamos nos vestir de nós mesmos, despir das falsas felicidades e sem ressentimento algum nas abissais lixeiras dos desencantos as nossas máscaras haveremos de sepultar, permitiremos assim que tudo o que fomos e tudo o que sonhamos se abracem e entrelacem numa espiral mirabolante, vamos dançar, rodopiando sempre e é assim que bailam os ensandecidos em devaneios aloucados, almas rebeldes do sono da morte libertadas, que no entorno da fogueira giram num frenesi incontrolável, loucos despidos de limites e imposições que se abrasam no avassalador capricho dos desejos. Venha amor! Vamos bailar na cadência de beijos e abraços, dançaremos sobre este tapete ardente, braseiro de almas na iluminação, e neste redemoinho amalucado dançaremos assanhando assim para os altos labaredas polvilhadas de faíscas amarelecidas que salpicando irão estrelas pelo firmamento, nossas cores haverão de se misturarem num efêmero devaneio de felicidade... Acorda amor! Um sonho lindo nos espera!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 28/06/2012
Reeditado em 26/02/2013
Código do texto: T3749247
Classificação de conteúdo: seguro