Diálogo na floresta
No momento exato da trágica transição entre o dia e a noite ela estendeu as patas, esticou-as... quando ouviu:
- Psiu! Quer libertar-se das tantas coisas que a impedem de correr livremente?- Como sabe o meu segredo?
- Esse seu jeito inseguro de olhar e caminhar.
- Claro que desejo ser liberta, respirar sem medo de ser devorada.
- É mais simples do que pensa.
- Qual o alicerce desse seu ‘simples’?
- O amor!
- O que é o amor?
- Um olhar, uma conversa... em que você vai e volta feliz. Ah! Um toque suave que faz o sangue seguir o caminho atravessando, sem receio, todas as barreiras do corpo. Um coração disparado de um jeito bem distinto de quando o medo insurge.
- Nunca senti isso. Só o temor de ser abocanhada na quietude da floresta.
- O amor precisa ser conquistado e não acontece num estalar de dedos. Digamos que é um processo... e um processo exige movimentos lentos e precisos, mas também exige coragem. Vejo que sua caixa de sentimentos permanece vazia.
- Como sabe?
- Vi nos seus olhos. Eles ainda procuram.
- Psiu! Quem é você? Por que se esconde nesse lusco fusco?
Fez-se o silêncio do início da noite...