O CASAMENTO DE {lua nova} COM O PRÍNCIPE ENCANTADO

(usando frases e expressões criadas por João Guimarães Rosa ao longo de sua obra)

{lua nova} era uma brancaflor ingênua e sonhadora que gostava de imaginar que gerava namoro com o Príncipe Encantado com quem sonhava todas as noites. Nunca teve pesadelos portanto seus sonhos eram sempre bons, e, se de madrugada acordasse abria a janela e passava a contemplar a lua vivendo momentos agradáveis com a sua mente. Morava com os pais numa casa simples mas de bom ensejo, e, da mesma janela onde a noite olhava as estrelas, de dia passava horas a observar os campos de pronto reverde, bonitos de querer bem, onde mansas cabras pastavam e fogosos cavalos esgalopeavam. Quando o tempo mudava, ela, divagante e demorosa ficava a observar, lá longe, o brilho dos relâmpagos faiscando no céu. Certa noite num dos sonhos o Príncipe falou que tinha um assunto importante à tratar com ela e pediu que no dia seguinte o esperasse no bosque, embaixo de uma grande mangueira que lá existia. No outro dia lá estava {lua nova} no lugar combinado, triste, em desacordo de coração pois já haviam passados muitos minutos além da hora marcada e o Príncipe não aparecia, quando de repente ouviu-se uma voz: “Hei {lua nova} Estou aqui.” Ela virou-se e não é que era o Príncipe Encantado? Sim, ele mesmo que sem nenhuma explicação plausível saíra dos sonhos e se materializara ali, perante ela. Sorrindo cumprimentou-a beijando-lhe a boca, em seguida com ela ao lado sentou-se num tronco de árvore que estava ali, caído ao chão. Passando a mão carinhosamente nos cabelos da donzela disse que a amava e que gostaria muito de se casar com ela. {lua nova} com o coração aos pulos disse que também o amava e que aceitava se casar com ele, mas, primeiro teriam que falar com Dona Angelina e Seu Álvaro, seus pais, pois eles é que dariam a palavra final. O Príncipe concordou e marcou para o domingo vindouro um encontro na casa de {lua nova} para formalizar o pedido. Desanoiteceu e o galo cocoricou naquela manhã de domingo de céu azul e alto tempo. Dona Angelina aguardava a chegada do Príncipe tomando um saboroso café passado em coador de pano acompanhado de deliciosa broa de centeio. O Príncipe chegou e muito educado pediu vênia de licença para entrar na casa, em seguida falou à Dona Angelina não ser ele uma pessoa dita normal já que era encantado, mas, que amava sua filha e com sua bênção e permissão desejava se casar com ela. Explicou também que iam morar no Reino Encantado onde não havia dor nem maldade, onde as casas eram de ouro maciço e as ruas cravejadas de brilhantes. Disse que toda semana traria sua filha para visitá-la e falou também que poderia levar a ela e Seu Álvaro para visitarem o Reino sempre que assim desejassem. Dona Angelina afastou-se a um canto e chamou por Seu Álvaro que na sala ao lado jogava truque com seus amigos, confabulou com ele em voz baixa e depois de algum tempo voltou e deu seu aval consentindo com o casamento. {lua nova} e o Príncipe Encantado ficaram muito contentes, deram pulos de felicidade e consultando uma folhinha na parede logo marcaram a data do casamento. Sem maiores delongas ficou combinado que no dia do enlace seria oferecida uma festa aos convidados e que logo após a mesma o Príncipe viria buscá-la para viajarem para o Reino Encantado, onde viveriam. Superando todas as expectativas a festa foi um sucesso absoluto. Para animar os convidados foi contratado um trio formado por um sanfoneiro, um zabumbeiro e um violeiro que muito concentrados tocavam e cantavam com bastante empenho, fazendo breves intervalos somente para irem rapidamente ao banheiro ou para tomarem um gole de cerveja. Das pessoas presentes as mais animadas eram Tereza Pingo Dágua, Rute Gira Sol e Brasileira Arco Iris, todas primas de {lua nova}. Alegres e sorridentes nunca se separavam, cochichavam no ouvido umas com as outras depois riam tapando a boca. Vestidas com suas melhores roupas estavam sempre se arrumando entre si, e, enquanto Gira Sol afastava uma mecha de cabelos da testa de Pingo Dágua, esta retirava com o lenço um pontinho minúsculo do rosto de Arco Iris que por sua vez arrumava a gola do vestido de Gira Sol. Agitadas, falando em voz alta e andando de um lado para outro com suas saias esvoaçantes, chamavam a atenção de todos. Festa vai, festa vem, grupos de convidados aqui e ali conversavam amenidades quando lá fora bateram palmas de mão. Era um poeta amigo de {lua nova} que chegava de Minas Gerais um pouco receoso, com medo de não ser reconhecido já que a algum tempo estivera ausente, mas, ao ver a hospitalidade com que foi recebido e a reação da noiva que de imediato o reconheceu e o recebeu com abraços, logo ficou em repagos de tranqüilidade e agradeceu as muitas bondades a ele dedicadas. Corria o tempo, os convidados aguardavam ansiosos a chegada do Príncipe e quando todos esperavam que o herói surgisse montado num fogoso corcel negro ou numa elegante carruagem, eis que ele aparece, pasmem, num tapete voador. Mas quem somos nós pobres mortais para entender as coisas da magia e do encantamento? Ele chegou num tapete voador, sim, e daí? O que se pode fazer? Nada! Não podemos fazer nada além de aceitar os fatos. {lua nova} sem se preocupar se tapetes voadores, Príncipes Encantados e outras coisas do gênero eram pra se aceitar nos dias de hoje, sem pensar duas vezes embarcou no tapete ao lado do seu amado que sem acionar acelerador algum ou engatar qualquer tipo de marcha simplesmente saiu pela janela voando rumo ao horizonte onde foi diminuindo de tamanho, diminuindo, até se transformar num pontinho para em seguida desaparecer completamente.

Assim como os finais dos bons contos de fadas eles também foram felizes para sempre.

FIM

JotaCF
Enviado por JotaCF em 12/09/2012
Reeditado em 02/10/2012
Código do texto: T3878336
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