SELENA A FEITICEIRA (1 TEMPORADA) CAP. 1

— CAPÍTULO UM—

COMO DESCOBRI QUE EU ERA UMA BRUXA E DE COMO GANHEI O MEU TALIMÃ.

Ganhei esse talismã que me volteia o pescoço, ontem à noite quando completei quinze anos de idade. Fora um presente dado por minha avó paterna, Dulce.

Às vezes, fico impressionada com a capacidade que tem o nosso cérebro de nos trazer à tona, coisas cujas tínhamos por esquecidas, com total exatidão e limpidez. O cérebro humano é algo formidável.

Sou até capaz de me lembrar detalhadamente como fora o exato momento em que fui presenteada com esse amuleto:

Dançava juntamente com algumas primas e amigas minhas. Contorcíamo-nos selvagemente ao som duma animadíssima, música da Hillary Duff: Reach Out. Transpirávamos de tanto bailar. Até que meu pequenino e rechonchudo irmão me puxa pela barra do meu vestido. Fazendo com isso me abaixar (pois, ele batia-me aos joelhos) para eu dar-lhe os ouvidos:

-- A vovó Dulce está te chamando lá na biblioteca.

Nem tive tempo de lhe perguntar o que ela queria, pois tão logo o pequeno, Isaac, pôs- se a costurar celeremente na espessa multidão de dançarinos que ali se requebravam. O que será que ela queria comigo? Fui me questionando dessa forma durante todo o percurso do jardim, onde estava rolando a minha festa, à biblioteca onde dona Dulce me esperava.

Enfim, cheguei. Suspirei. Ia bater na porta quando...

-Pode entrar Selena.

Como ela soube que era eu do outro lado da porta? Torço a maçaneta da porta e adentro na grande biblioteca. Ela estava sentada na velha poltrona de couro em que papai adorava passar as noites, lendo os poemas malditos de Baudelaire. A face de Dulce estava muito misteriosa. Tinha-a tensa imóvel. Os únicos membros que se moviam livremente eram seus olhos que me fitavam. Aqueles olhos azuis eram como se você estivesse imersa num gigantesco oceano.

- O Isaac disse que a senhora estava me chamando..?

- Sim, mandei-o chamá-la. Sente-se, por favor, minha filha. Preciso conversar com você. - disse-me indicando um divã a sua frente. Era um divã com estampa floral. Ao sentar defronte dela senti uma espécie de atmosfera, uma aura que paradoxalmente transmitia conforto e força.

-Eu preciso lhe dar algo... -Disse – me minha avó retirando de uma algibeira um...

***

Quando vi em minhas mãos aquele lindo colar (para mim era um colar) senti algo inexplicável. Fora uma espécie de atração imediata. O colar portava um medalhão com formato de sol. No medalhão havia vários símbolos entalhados, qual vovó me explicara:

- Esses símbolos que antecedem aos raios solares são os doze estigmas cujos representam os signos do zodíaco ocidental.

Fiquei olhando para ele. Era pesado, muito provavelmente feito de ouro. Mais ainda permanecia uma dúvida a me cutucar a mente:

- Vovó, porque a senhora esta o dando a mim?

A velha olhou para o gigantesco relógio de pêndulo ao lado da porta por onde eu entrara. Era meia noite. Depois me voltou com aqueles olhos encarando-me durante alguns instantes. Retribui o olhar. Queria ao fundo dessa história, não era garota de ’meia palavra’ ou era tudo ou era nada. Vendo provavelmente a audácia presente no meu olhar esta começa a me dizer:

-Eu lhe dei este talismã porque você é a única mulher da nossa família. Isto é: você é a única Estradivarus fêmea que além de mim restara. Porém, isso não é tudo. E o que vou-lhe contar agora será algo em que talvez você não acredite...

-Acreditando ou não. Pode me contar vovó...

Ela assentiu a com a cabeça. Olhou para os lados como quem busca encontrar a palavras certas. Respirou e junto essa respiração veio-me a resposta curta e grossa:

- Você é uma bruxa.

Perguntei-lhe, pois não conseguia acreditar no que ouvia:

- O que a senhora disse vovó, Dulce?

-Você é uma bruxa minha filha.

Dei uma gargalhada. Ela só podia estar ficando maluca. Bruxa era criatura de contos de fadas. Não acreditava nisso.

-Então, me prove... -disse desafiadora. - se a senhora for mesmo uma ‘bruxa’.

Quando lhe disse isso ela abriu-me um sorriso de garota travessa.

-Sem nenhum problema. Irei fazer uma pequena demonstração. Só peço que você se segure ao divã.

Um detalhe que me havia escapado veio à tona: D. Dulce possuía um talismã assim como o meu só que um pouco maior.

- Está preparada Selena? – Interpelou-me a velhinha levantando-se da poltrona de papai.

E eu desdenhosa lhe respondi:

-Sim, D. Dulce.

O que acontecera comigo fora uma das coisas mais extraordinárias que já acontecera em toda minha vida. O que irei contar talvez para vocês leitores não faça o menor sentido, contudo fora a mais pura verdade.

D. Dulce aproximou perto de mim e energicamente segurando com as duas mãos o talismã disse:

-Livitus mobiles!

E dum rompante o divã em que eu estava alojada começou a deixar o chão. Agarrei-me nele como que estivesse agarrando minha vida. E começou a subir ,subir, subir e subir até que minha cabeça tocou o teto da biblioteca. Com isso olhei apavorada para baixo e vi a bruxa Dulce sorrir um sorriso tão angelical quanto os dos querubins de Michelangelo da capela cistina. E foi aí que ela me grita:

-Então, agora você crê em mim?

Entre a curiosa e a apavorada grito-lhe:

-Sim, acredito!!!

- Descendere mobiles hachora.

Meu divã fora descendo, descendo e por fim chegara ao chão. Agora quem ria era minha vó.

***

E fora desse modo que, eu, Selena ganhei este talismã. Acho engraçado como o destino parece com uma criança travessa que nos surpreende a qualquer momento, como se nos espreitasse numa esquina para nos pregar um susto... Logo após do acontecimento do divã vovó me disse com a cara mais risonha e zombeteira deste mundo: “Vou lhe ensinar a dominar os poderes deste talismã.” Depois disso baloucei a cabeça em concordância e voltei para festa, na qual tocava uma baladinha romântica, lenta para os casaizinhos dançarem juntos, unidos corpo –a- corpo. Não fiquei muito tempo. Dancei apenas duas ou três músicas e fui direto para o meu quarto sem me despedir de meus convidados.

Não consegui dormir naquela noite. Meu cérebro girava em torno de mil pensamentos ao mesmo tempo. Pego a pedra em minhas mãos. Estava gelada, sem vida. Me atento para seus detalhes. Havia lavradas atrás de si, inscrições em uma língua para mim irreconhecível. Ainda bem que teria muito tempo para pensar, pois entrara em recesso escolar.

***

O dia amanhecera nublado. Papai e mamãe como sempre já tinham saído de casa. Iam trabalhar. Como sempre nós (eu e meu irmão) tomávamos o café da manhã, a sós na grande mesa da cozinha.

- Dona Dulce, ligou. Falou que estaria aqui antes do almoço. – Avisa-me Helena a nossa cozinheira.

Que estranho. Pensei consigo. O que d. Dulce queria? Seria que ela começaria a me dar aulas de como usar o talismã hoje? Se fosse seria um máximo! Mal podia esperar o momento. Será que conseguiria aprender a usá-lo?

***

-Onde está Selena?- Ouvia-a perguntar a Helena. Estava na biblioteca. Lia Rachel de Queiroz. O Quinze. Os passos de vovó se aproximavam. Tec-tec era como seus sapatos castigavam o assoalho.

Os nós de seus dedos batem na porta: Toc-toc. E sua boca me pergunta:

-Selena, você está ai?

Ao que lhe respondo:

-Sim, entre.

Ponho o livro na mesa de centro, levanto do divã e vou recebê-la. Usava um vestido de estampa de rosas. Rosas vermelhas e brancas, as suas preferidas. E usava um óculo de lua cheia roxo. Formava uma figura totalmente hilária. Só não desatei a rir porque a atmosfera do ambiente não propiciara tal. Carregava no ombro direito uma bolsa de couro curtido antigo.

-Preparada para nossa aula?

Perguntou-me. Contudo, antes olho para o relógio na parede e disse:

- Só se for depois do almoço...

Meu estômago roncava feito um motor de trator. Estava morta de fome!

***

Vovó nos acompanhara no almoço. Suco de laranja, arroz, salada e bife grelhado. Logo após de encher meu tanque vou à biblioteca. Vovó demorou a vir. Eu estava morta de ansiedade!

CONTINUA...

Raffael Petter
Enviado por Raffael Petter em 25/10/2012
Código do texto: T3951815
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