imagem: Internet


Pra quem um dia já foi ou sonhou com Lottar ou Allanis...


----------------------------------------




 
ASDREN
Lottar
 
 
Lottar não era um mágico de primeira grandeza mas se tornara um dos três guardiões do Templo de Kal’Halmar, graças a indicação de seu pai, que pouco antes de morrer o indicara ao grande sacerdote. Na verdade nunca quisera ser mago. Sempre sonhara ser um paladino, lutar pela honra, defender sua terra, em batalhas como sempre imaginara, desde criança, quando brincava com seus amigos de infância, o Príncipe Khandar, Allanis e Celina. Príncipe Khandar assumira o trono há cerca de um ano quando seu pai desaparecera misteriosamente. Allanis, antes ingênua, tornara-se a mais linda e eficiente arqueira das forças aliadas. Sempre acompanha o Príncipe Khandar nas batalhas pelo reino, o que era motivo de ciúmes secretos por parte de Lottar. Celina, morena, muito linda e ágil se tornara maga e se interessara por Khandar, mas esse nunca lhe dera esperanças. Desaparecera junto com o pai de Khandar, não se tendo notícias de ambos. Era um grupo de amigos muito unidos quando jovens e ainda, sempre que possível buscavam se encontrar. Lottar sonhava se aventurar pelo reino combatendo injustiças e conquistando garotas, ser recebido em Asran, capital do reino, como herói... Tinha ambições. Mas seu pai fizera outros planos para ele. E dizia que um bom mago tinha muitas responsabilidades e exigia mais sacrifícios que os demais, portanto deveria aprender e treinar os segredos desde cedo, e ainda assim nunca estaria pronto; ser mago era um desejo do pai, não dele.
 
Ser um dos guardiões do Grande Templo de Kal’Halmar havia sido sua rotina em um longo tempo. Não podia se distanciar muito, nem por períodos de tempos muitos longos, não mais que dois dias, a não ser quando as duas luas, Kallehir e Halmar estivessem alinhadas no céu, no período noturno, o que acontecia a cada dois anos, e durava cerca de vinte dias, ampliando ainda mais o potencial dos dois portais energéticos do templo. Período em que apenas um mago conseguia controlar os dois portais ao mesmo tempo, podendo o outro se ausentar. O portal sob a responsabilidade de Lottar, ficava na extremidade norte do Templo, com o símbolo da lua de Kallehir, levando também esse nome – Portal de Kallehir; na extremidade sul, o portal sob a responsabilidade de Conniel, com o símbolo da lua de Halmar, recebendo também esse nome – Portal de Halmar. Da mesma forma havia um período em que as duas luas se alinhavam, e óbvio, não podiam ser observadas, alinhavam durante o dia, e afetavam os portais de forma negativa exigindo obrigatoriamente a presença dos dois magos.
 
Havia outros templos com portais semelhantes, de menor importância, freqüentado pela população comum em busca de curas de doenças, mas devido sua localização, aquele tinha um poder muito maior que os demais. O Grande Templo de Kal’Halmar ficava ao norte do pequeno povoado de Sidar, região árida, mas muito rica em cristais, a nordeste do Reino de Asdren. Poucas pessoas eram permitidas a entrarem no templo. Apenas a elite do reino ou os agraciados com honrarias em combate. Pelo portal energético do norte, buscavam-se bênçãos e purificações dos deuses, com amplificação de seus potenciais, preparando-os para o combate. O portal energético do sul, direciona a energia para a cura de males e enfermidades originadas de combates. Assim funcionava o templo: Um portal preparava e o outro recuperava.
A Noroeste do reino encontravam-se os bárbaros Côrnios aliados aos Ogros, inimigos do reino.
 
Lottar saira poucas vezes dali, depois que assumira o posto de guardião do Templo Norte. Vez ou outra saia montado em Gaspia, um hipogrifo, que ganhara de seu pai. Um animal de beleza incrível; e raríssimo. Veloz como um raio. Lottar soubera adestrá-lo muito bem. Ao contrário do imaginário popular, um hipogrifo necessitava de repouso de tempos em tempos para o vôo, podendo percorrer, nesse período por terra enquanto recompõe suas energias, além de não poder voar onde o ar era rarefeito, portanto em altitudes elevadas. Mas tanto no ar como em terra era muito ágil e veloz.
 
Mas Lottar se cansara da rotina que tinha. Não se conformava em bajular a elite. E ainda assim, quando apareciam por ali. Tinha seus momentos de estudos. Aprimorava a magia, mas também treinava lutas com espadas e escudos, como um paladino. A época em que as duas luas de Érida se alinhariam se aproximava e não seria tão necessária sua presença no templo. Tinha tudo planejado. Tiraria suas tão desejadas férias. Lutaria como sempre desejou. Poderia se lembrar e contar aos seus filhos daqueles dias com orgulho. Teria algo que contar.
 
- Pelos deuses, Lottar! – lhe disse o mestre Deh’aju, grande sacerdote do templo – Fomos informados pra que estejamos preparados, pois estamos esperando um ataque a qualquer momento em Asdren e você querendo sair a passeio por Érida? Tem idéia do que está dizendo?
 
- Na verdade, sim. E não vou sair por aí, a esmo. Estamos na época do alinhamento. Você e Conniel podem muito bem darem conta do recado sem mim. Pretendo ir pra frente de batalha. Posso ser mais útil lá do que aqui.
 
- Como se nem sabemos onde vai haver o ataque mais pesado?
 
- Certamente ao norte. Segundo apurei com Khandar, tem havido muitos conflitos nas Terras Escuras.
 
- Príncipe Khandar tem tido dificuldades em controlar os rebeldes naquela região. Os Côrnios tem se aproveitado disso... Mas não acho uma boa idéia você se ausentar.
 
- Mas...
 
- Sem mas, Lottar. Fique de prontidão.
 
Deh’aju se afasta deixando o jovem candidato a guerreiro contrariado. Mas este ainda não de dera como vencido. Não podia sequer imaginar os seus combatendo, defendendo sua terra, e ele, ali, mofando, sem poder ajudar da melhor maneira que imaginava. Tinha direito àquele período de folga. Partiria com ou sem permissão.
 
Faltavam quatro dias para o período de folga. Decidira partir antes que Mestre Deh’aju pudesse impedi-lo. Depois se explicaria, levaria uma bronca, e tudo se acalmaria. Ao anoitecer, tendo tudo preparado, energiza-se no Portal do Norte, ainda ali, abre uma caixa antiga que ganhara de seu pai, onde se encontra um par de braceletes, forjados pelos antigos em um metal raro em Érida. Com a força mágica do portal os braceletes são fixados nos antebraços de Lottar; e apenas a força do portal poderia tirá-los. Veste-se também de um colete protetor, porém que permite uma boa movimentação. Àquela hora o templo já estava vazio. Apenas ele vagava por ali; dois ou três guardas em cada extremidade. Lottar olha pro alto e vê aqueles dois globos luminosos e radiantes, sente a força das duas luas, vibrando levemente no cristal sob o templo, porém sente que vibra em ondas diferente de outras ocasiões. Seu pai lhe alertara para que não ausentasse do templo quando sentisse vibrações diferentes; podia significar perigo iminente. “Perigo há” – pensa ele – Soube que haverá uma revolta dos habitantes das Terras Escuras, lideradas por Obhar. Certamente irão se deslocar em direção a Lassard, a antiga capital das Terras Escuras, próxima à costa oeste. É hoje um importante centro comercial. Devem se reunir em algum ponto mais ao norte. Mas onde? Seria vital se conseguíssemos descobrir e anteciparmos os movimentos deles... Khandar me disse que partiria para Lassard. Eu também vou, mas vou tentar investigá-los pelas costas, dando uma pequena volta”. Lottar se apressa e sai. Vai até um anexo, onde deixara preparado alguns pertences pessoais, que necessitaria durante a viagem, e onde aguardava também Gaspia, ansiosa para mais um passeio à noite. Monta em seu hipogrifo e parte a toda velocidade, rumo norte, com o vento roçando seu rosto, sentindo-se livre.
 
- Finalmente! Um pouco de ação. Ainda vão sentir orgulho de mim.
 
Seguindo sempre rumo norte, querendo chegar o mais rápido possível às Terras Escuras, procurava fazer poucas paradas, sempre evitando encontro com curiosos sobre sua montaria. Se um grifo normal já despertava certa curiosidade àqueles mais simples, imagine um hipogrifo, que era um animal raríssimo.
 
No dia seguinte ele cruza as montanhas geladas do norte. Segue por um estreito desfiladeiro, redobrando a atenção enquanto percorre os altos paredões até onde se alargam em uma grande planície, início das Terras Escuras.
 
Lottar sabia que a partir dali teria que ter cuidados dobrados. Estava pisando em terreno minado. O pai do Príncipe Khandar havia derrotado Ogndu, rei das Terras Escuras, e anexado aquelas terras ao reino de Asdren, há muitos anos atrás, eliminando quase todos os membros do antigo clã que a dominava, menos um: Obhar, o filho mais velho de Ogndu, que estava fora quando se dera a derrota do pai. Segundo informações dos espiões do novo rei, Obhar se encontrava em Côrnia. As relações entre Côrnia e Asdren que já não eram muito boas pioraram de vez. Os conflitos se intensificaram e desde então Obhar tem insuflado os habitantes das Terras Escuras contra o governo central em Asran.
 
Lottar pousa com Gaspia em uma elevação, de onde podia-se ter uma boa visão da região próxima. Parecia tudo calmo, exceto por um ou outro grupo de guerreiros responsáveis pela segurança da região. Pensa em se aproximar e obter alguma informação mas acha melhor não revelar logo sua presença ali. Segundo informações que obtivera, haveria uma grande concentração de guerreiros naquela região se deslocando para sudoeste, em direção a Lassard. Será que estaria enganado? Talvez um pouco oeste. Volta a montar em Gaspia e, contornando os povoados que encontra pelo caminho. Cerca de duas horas depois chega a Kália, um pequeno povoado, em uma elevação, próximo à costa, de onde foi possível observar o porto com dezenas de embarcações côrnias ancoradas. Aquela quantidade toda de navios, porém poucos indivíduos cornianos. “Qual a necessidade do deslocamento de tantos navios para aquela região senão para deslocamento de tropas? Receberiam os rebeldes apoio dos cornianos? Neste caso seria declarada abertamente guerra entre as duas nações. “O que será que está acontecendo aqui? Khandar precisa ser alertado pra preparar melhor suas defesas” – pensa logo Lottar.
 
Lottar deixa Gaspia bem protegida e aproxima-se com cuidado, procurando entender ou captar alguma informação sobre o que estava acontecendo. Aproxima-se de uma fortificação entre o porto e o povoado propriamente dito. Detém-se num susto, ao ver uma figura conhecida, em pé, de costas pra ele, com os cabelos negos e longos à altura da cintura. Poderia ser qualquer pessoa, mas aquele jeito de rodar o bastão e jogar os cabelos... “Só pode ser ela!”
 
- Celina?!
Ela para por um instante e se vira calmamente.
- Ora, ora, se não é o bruxo certinho.
- Celina... Você está viva... Que faz aqui? Por quê não disse onde estava?
- E quem se importa com isso?
- Como? Eu me importo e...
Lottar nota o brilho de um colar que Celina estava usando
- Se importa mesmo? Oh... e está olhando meu decote ou minha nova aquisição. Vejo que reconhece esse colar, o Olho de Caspiah.
- O pai de Khandar procurava este artefato quando desapareceu.
- Sim, mas eu o encontrei primeiro e agora ele é meu. Sinto-me bem mais forte agora, meu querido.
- Você traiu Asdren?
- Asdren nunca fez nada por mim... Nem por você! Junte-se a nós e prometo que Obhar lhe recompensará. E eu posso lhe recompensar muito mais – diz enquanto mostra parte de suas coxas bem torneadas – Fique comigo e posso lhe dar muitas glórias, prazer e poder.
- Não sou esse tipo de pessoa.
- Então já fez sua escolha...
 
Lottar sente seu pulso vibrar. Percebe o perigo iminente e instintivamente usa sua magia deslocando-se três metros para a lateral, livrando-se do golpe de Gorpo, um côrnio corpulento. Celina também usa sua magia, uma descarga elétrica, Lottar cai, os dois se aproximam pensando terem vencido fácil a luta, quando sentem uma onda de choque sob seus pés, derrubando-os. Os três se levantam ao mesmo tempo. Gorpo levanta o machado para desferir o golpe fatal mas Lottar usa o golpe que treinara exaustivamente. Deslocamento do ar de forma sucessiva. Gorpo é jogado pra trás, caindo longe, meio tonto. Celina aproveita e tenta novamente a descarga elétrica mas Lottar bloqueia com um campo de força. Celina evoca as forças do Olho de Caspiah e começa a ganhar força, conseguindo minar a resistência de Lottar. Uma imensa descarga elétrica o atinge e ele não vê mais nada.
 
Não sabe dizer ao certo quanto tempo esteve desacordado, mas mesmo que Gorpo não lhe tivesse jogado aquele balde de água, certamente o mau cheiro daquele local o teria despertado. Sua cabeça doía. Tudo parecia meio confuso ainda. Tenda levar a mão ao rosto mas percebe que está acorrentado em argolas presas à parede. Gorpo puxa a corrente o forçando ficar de pé. Ele ouve uma voz conhecida.
 
- Bem vindo do mundo dos sonhos, bruxinho querido.
- Vá pro inferno!
Celina sorri com satisfação. Sentia-se segura.
- Vejo que me trouxe um presente – diz ela apontando para os braceletes que Lottar usava – Pena que para tirá-los de você vou precisar cortar seus pulsos.
 
Gorpo sorri cinicamente, antevendo a cena.
 
- Vocês são loucos. Mesmo que consigam me tiram os braceletes jamais poderão usá-los. Foram lacrados em mim. Precisam serem abertos antes de serem usados novamente por outras pessoas.
 
- Pena que seja assim, meu querido Bruxinho, mas a proposta que lhe fiz ainda está de pé. Basta aceitar. Se justarmos nossas forças, você com os braceletes de Kallehir e eu com o Olho de Caspiah, seremos imbatíveis. Podemos subjugar tanto Khandar como Obhar. Tudo será nosso, Lottar.
 
- Você me espanta. Nunca pensei que pudesse chegar a tanto. Éramos como irmãos. Você devia lealdade a Asdren. Tínhamos um ideal a seguir, lutar para o bem comum...
- Não seja infantil. Não me diga que ainda acredita nessas fantasias.
- São sonhos, esperanças...
- Disse bem: Sonhos. Apenas isso. Bem vindo à realidade, meu caro, onde vale a lei do mais forte. Onde sobrevive quem consegue pisar na cabeça do outro, sufocando-o, e assim conseguindo um pouco de ar puro. É assim desde sempre. E sempre será.
- Talvez eu seja um sonhador. Não concordo que seja assim, e não consigo imaginar onde tenha se perdido, o que levou você a mudar tanto assim, Celina.
- Não seja tão radical. Porque tem que haver razão em tudo? As coisas acontecem e pronto.
- Traição não é um acidente de percurso.
- Eu fiz uma escolha. O antigo rei estava enfraquecendo. Isso porque estava se humanizando demais. Aceitava insultos, dialogava muito. Em outros tempos governava com mãos de ferro. Todos obedeciam e o reino funcionava como uma máquina perfeita. Mas sob influência da rainha deu muita liberdade aos seus súditos.
- E o povo viveu melhor nesse período, não?
- Alguma liberdade, sim. Mas com liberdade ele se achou no direito de não produzir. O povo adora ser controlado, Lottar. Adoram quando lhe digam o que fazer, é mais fácil; dá trabalho pensar.
- Você é louca!
- Nem tanto. Prova disso é que há uma revolução. São bonecos manipulados, pulando das mãos de um senhor para outro. E vamos acabar conquistando tudo. Será um governo do nosso jeito. Usaremos mãos de ferro, sem chance que alguém tenha idéias por aí.
- Khandar não vai permitir.
- Ele é outro fraco. Até há pouco só pensava em se divertir pelo reino.
- Assumiu o trono com muita responsabilidade... mesmo que interinamente. E quando o rei voltar...
 
Celina ri, interrompendo Lottar.
 
- É verdade. O garoto mimado tem se esforçado. Mas não se aprende o necessário da noite pro dia. Quanto ao pai de Khandar... perca as esperanças.
- Que quer dizer?
- Quanta ingenuidade! Ele morreu, Lottar. Eu estava presente quando Obhar lhe cortou a garganta, vingando-se de seu pai. Tá certo que num ato covarde, porque o rei estava com as mãos amarradas às costas. E agora ele completará a vingança tomando todo o reino para si.
- Não consigo acreditar que tenha chegado a tanto.
 
Celina deixa os ombros caírem, num sinal de desânimo, ante a ingenuidade do mago. Este continua:
 
- Pra isso vocês precisam vencer primeiro.
- Neste momento, bruxinho querido, há uma divisão inteira se deslocando para o sul.
- Khandar irá vencê-los.
 
Gorpo ri e puxa as correntes, deixando Lottar nas pontas dos pés e sentido dores nos ombros. Celina continua.
 
- Um pequeno grupo irá distraí-los, mantê-los ocupados, nas montanhas, enquanto o grosso da tropa se dirige à sua capital, fazendo uma pequena volta por dentro. Khandar nem vai saber o que aconteceu.
- Por isso eu não vi ninguém... – diz Lottar, quase que para si mesmo.
- Não é um plano perfeito? Em pouco tempo estarão passando por Sidar, sua linda cidadezinha. Obhar pretende destruir aquele local, juntamente com o templo, minando assim as resistências.
 
Neste momento, lá fora, algo chama a atenção de Celina. Gritos, barulhos de objetos quebrando. Ela olha pra Gorpo e acena com a cabeça, ordenando para que vá ver o que é. Pouco depois ficam no porão apenas Celina e Lottar.
- Enfim sós, Bruxinho – brinca Celina.
 
Lottar não lhe dá atenção. Sabia que era Gaspia armando alguma confusão lá fora. Sabia que poderia vencê-la e tinha que aproveitar o momento. Ele se concentra. Seus braceletes começam a brilhar. No instante seguinte rompem os grilhões que prendiam o mago.
 
- Hum, meu bruxinho tem certeza que quer tentar novamente?
 
Desta vez Celina não contava com a surpresa, nem com a ajuda de Gorpo. Ela tenta neutralizá-lo mas desta vez ele está preparado conseguindo se defender. Lottar se lança contra ela, num misto de corpo a corpo e magia. Após alguns golpes e lançamentos de encantos e mágicas, Lottar consegue lançar um orbe de fogo, atingindo Celina em cheio, deixando-a desacordada. Ele aproveita e toma pra si o colar Olho de Caspiah. Somando-se aos poderes dos braceletes, Lottar tinha em suas mãos um poder incrível agora; mas antes tinha que aprender a conciliar os dois e usá-los. Agora precisava agir rápido e avisar Khandar dos planos de ataque dos rebeldes. Sobe as escadas que o leva ao pátio. Gaspia saltava aqui, pousava ali, acertava um guarda do outro lado com sua garra, todos gritando, tentando pará-la. Ao ouvir um assobio conhecido, ela salta de lado e pousa ao lado de Lottar que a monta, voltando aos ares, voando a toda velocidade rumo sul.
 
Seu maior temor era que colocassem sentinelas no desfiladeiro, atrasando assim a sua volta. Pra sua sorte isso não aconteceu. Sua dúvida agora era: Iria primeiro até Khandar para seguirem juntos ou iria direto para Sidar ajudar na defesa do Templo enquanto um mensageiro alertava o príncipe?  Decidiu-se pela primeira opção. Mesmo sendo um dos guardiões do Templo de Kal’Halmar e ser sua missão defendê-lo, com a vida, se necessário, poderia não haver tempo de ir à Sidar e depois enviar um mensageiro a Khandar.
 
Quatro horas depois encontra o Príncipe Khandar. Haviam vencido fácil um grupo pequeno de rebeldes, e já davam como resolvida a situação.
 
- ... e talvez seja melhor darmos uma olhada na região mais ao norte – opina Allanis após colocar Lottar a par dos últimos acontecimentos.
- Pois eu trago más notícias a vocês – responde ele.
- O que há, Lottar, sempre com seu pessimismo – brinca Khandar.
- Não é exagero. Temos que partir logo pra Sidar. Explico tudo no caminho.
 
Lottar põe o Príncipe Khandar e todo o comando a par dos últimos acontecimentos, ocultando do Príncipe o destino o pai.
 
No dia seguinte, ao aproximarem-se de Sidar, Lottar alça vôo, procurando ter uma visão melhor da região, e localizar a tropa invasora.
 
Pouco depois ele retorna e fala com o Príncipe Khandar.
 
- Eles estão se aproximando de Sidar. Nós ainda demoraremos cerca de meia hora. Creio que chegamos tarde.
- Talvez não. Você consegue chegar mais rápido com Gáspia. Ela consegue voar com duas pessoas?
- Sim, se não forem muito pesadas.
- Allanis, vá com ele.  Devem ter evacuado a cidade assim que notaram a aproximação dos rebeldes e o único lugar seguro é o templo. Vejam se conseguem retardá-los ao máximo até a nossa chegada.
 
Sem diminuírem a marcha, Allanis salta sobre o hipogrifo, abraçando Lottar. Sem perder tempo Gáspia alça vôo seguindo a toda velocidade.
 
Ao aproximarem-se de Sidar, Lottar percebe que Khandar acertara nas previsões. A cidade estava vazia. Haviam enviado todos que não podiam lutar para o sul. Os que ficaram e os reforços procuravam defender principalmente o templo do ataque invasor. Era desproporcional o número de combatentes. Seria questão de tempo até invadirem e destruírem tudo.
 
Gaspia pousa na área central, em forma de praça. Seus passageiros saltam e se dirigem ao muro de proteção preparando-se para combate.
 
Lottar e os outros resistiram quanto puderam. Muitos tombaram, mas derrubaram muitos também. Ele pode finalmente lutar como um verdadeiro guerreiro. Às vezes mesclava espada e magia, numa combinação surpreendente, porém perfeita. Ora ajudava Allanis, tirando-a de algum apuro, ora era ela que o ajudava. Os dois funcionam como uma extensão um do outro, como uma máquina perfeita. Não puderam evitar que mestre Deh’aju fosse ferido, nada tão grave.
 
Quando Khandar chegou o exército rebelde já havia invadido o templo. Muitos já se encontravam dentro do templo, inclusive Obhar. Estavam tão preocupados com o interior que se esqueceram do lado de fora sendo pegos de surpresa. A luta segue equilibrada por cerca de uma hora, quando a tropa de Khandar começa a levar vantagem. Lottar lutara como sempre imaginara, mesclando sua magia com golpes de espada.
 
Já visivelmente em desvantagem, Obhar desiste de continuar a invasão até Asdren. Reúne um pequeno grupo e se dirige à parte norte do templo. Lottar pressente as intenções do invasor e tenta impedir. Obhar lança seu machado na direção de Allanis. Para defendê-la, Lottar lança sua magia do gelo, conseguindo detê-lo, porém é tempo suficiente para que um dos homens de Obhar lhe crave uma flecha no ombro esquerdo, diminuindo o poder de ataque do mago. Sem perder tempo e num ataque direto, Obhar destrói o Portal de Kallehir, batendo em retirada com o que resta de seu exército, em direção às Terras Escuras.
 
Khandar ainda consegue reunir um bom número de combatentes para perseguir Obhar.
 
- Não é sensato, Khandar – contesta Allanis.
- Não podemos deixar que fujam. É nossa chance de acabarmos com todos.
- Se chegarem às montanhas geladas, desista. Aquele desfiladeiro pode se tornar uma armadilha fatal pra você.
- Fique tranqüilo. Não pretendo correr nenhum risco... desnecessário. Você não vem?
- Não. Vou tentar organizar as coisas por aqui... e... ver como está Lottar.
- Sei. Entendi – diz Khandar com ironia e sai antes que possa ouvir qualquer protesto.
 
Pouco depois.
 
- Como está, Guerreiro?
- O ombro? Nada sério. Mas estou cansado, Allanis. Acho que falhei em defender o templo. Era minha responsabilidade.
- Apenas parte foi destruído. E você não falhou. Conseguiu avisar Khandar a tempo, e impediu um ataque à nossa capital. Você foi grande Lottar.
- Não vejo da mesma forma, Allanis. O Portal de Kallehir foi destruído. Será difícil reconstruí-lo, se é que será possível. Preciso pensar sobre o que pretendo fazer daqui pra frente.
- Não é fugindo que se revolvem os problemas, Lottar.
- Não estou fugindo. Apenas preciso me afastar de tudo e colocar cada coisa em seu lugar, identificar e classificar cada sentimento, me organizar, e aí sim, estarei pronto novamente.
 
Lottar conta pra Allanis sobre Celina, e sobre o pai de Khandar, mas omite sobre o Olho de Caspiah.
 
- E pra onde você vai?
- É segredo. Falo apenas pra você, caso precise falar comigo. Me procure se for urgente. Preciso realmente de um tempo sozinho pra refletir. Quando estiver pronto eu volto. Eu sigo pras cavernas de Maltigard.
- Não vai esperar a volta de Khandar?
- Melhor não.
 
Cerca de meia hora depois Lottar monta em Gaspia e alça vôo seguindo direção nordeste. Usava os braceletes e no pescoço, o Olho de Caspiah.
 
Allanis o observa até sumirem entre as nuvens.
 
- Até breve, Lottar. Até breve, meu querido.
 
 




Walter Peixoto
26/10/2012




 
Walter Peixoto
Enviado por Walter Peixoto em 01/11/2012
Reeditado em 26/12/2012
Código do texto: T3964312
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.