ARTHUR O MAGO (1ª Temp.) CAPÍTULO UM

—CAPÍTULO UM—

TETH RETORNA AOS VIVOS

A lua reluzia belamente. Jorrava o seu brilho prateado por sobre toda a vegetação daquele decrépito lugar. O vento frio e cortante que ali passava varria todas as folhas podres caídas no chão.

O lugar parecia estar abandonado, pois se percebia que há muito não faziam-lhe a manutenção das sepulturas. Via-se por ali, ervas – daninhas afixadas por todos os lugares, formando um extenso manto vegetal, sobretudo nos túmulos. Era um ótimo convite aos animais notívagos como os morcegos que faziam dos mausoléus empoeirados sua morada.

Apesar disso o coveiro do lugar não tinha medo de fazer a sua ronda. Com sua lanterna de mão vistoriava cada frecha do lugar para ver se não havia nenhum drogado ou bêbado dormindo por ali. Albert fora contratado pelos moradores da cidade para zelar pelo lugar. Aceitara o emprego sem nenhuma objeção. Já era aposentado e ganharia três salários mínimos e ademais o serviço não lhe exigiria muito, tinha que só zelar pelo lugar para não ser depredado. Esse dinheiro que recebesse armazenava no banco, pois queria conhecer a Europa, um sonho que tinha desde menino. Não tinha filhos nem mulher (houvera apenas uma mulher em sua vida que morrera de câncer nos ovários que estéril não pudera lhe dar filhos), só tinha um cão e um gato que sempre lhe faziam companhia durante sua excursão por aquele campo santo.

O gato preto de olhos amarelos se chamava: Teco. E o cão vira-lata de pelugem marrom com branco denominava-se: Tuco. Apesar das diferenças e as rixas entre as espécies eles mantinham-se em plena harmonia. Nunca arredavam de perto do zelador.

Estava prestes a finalizar a sua ronda da noite. Bom, quase. Pois no mausoléu da família Estradivarus havia uma luz bruxuleante a brincar no breu.

-- Que será isso? Será que são uns daqueles garotos da rua doze, enchendo a cara novamente?—pergunta-se o velho.

Estava a poucos metros do mausoléu. Decidido a ver o que se passava dirige-se imediatamente pro local. Chegando lá, encontra três jovens. Que falavam quase num sussurro, mas que dava para uma vez ou outra entender do que falavam. Assistira a tudo com olhos arregalados.

***

Havia naquela sala mortuária três mulheres de cabelos muito esquisitos. Albert ficara ouvindo o que elas conversavam:

-- Onde você pegou esta garota, Beth?-- pergunta a de cabelo tirante a azul royal escuríssimo que a noite podia ser confundido com preto.

-- Peguei-a quando saía duma lanchonete. Estava só, então aproveitei a oportunidade. – respondera a de cabelos alaranjados como suco de cenoura.

--Deixou alguma prova, isto é: tem certeza que ninguém vira você ou ela?

-- De modo algum Milena, fiz ela adormecer com um murro na cara e depois tele transportei-me para cá como ordenado.

-- Bem, acho que podemos iniciar o nosso ritual. Marla traga-me o espelho. Vamos que não temos a noite toda minha filha. – disse Milena impacientando-se com a mulher de cabelos verdes como pepino.

--Qual espelho?

-- Ora, qual espelho? Aquele redondo de moldura dourada. Vamos que a meia-noite se aproxima.

Marla procura, procura entre as bolsas que pertenciam a cada uma delas até que o encontra:

-- É este aqui?-- pergunta levantando-o.

-- É lógico que é né, tapada!!-- fala Beth tomando o espelho das mãos de Marla entregando para Milena que o pôs sobre um túmulo que havia ali, ao meio da sala.

-- Agora traga aquela adaga de osso.

-- Que adaga??

Milena estaca. Encara Marla por alguns segundos e por fim diz:

-- Faça um favor para mim e para você querida?

-- Qual?

--Fique de boca fechada. Beth pegue-a, é aquela com baía crivada de rubis. E aproveite traga o livro.

Beth retira a adaga de um dos bolsos da bolsa que ali estava no chão e pega o livro de capa preta que estava na outra bolsa.

Os itens foram depostos no tampo da sepultura. E neste ínterim Milena aproveitara para trazer a jovem que deitada no chão ressonava sossegadamente.

--Comecemos então o ritual: Sangue da filha de Eva. – rasga a pele da jovem seqüestrada da qual se faz escorrer um filete de sangue muito rubro. – Teth deusa da lua e das trevas saia desta maldita prisão em que a encerraram. -disse pingando gotas de sangue no espelho. A gota deslizou no espelho parando no centro deste. E de repente a gota como que absorvida pela superfície fosca daquele é absorvida, sugada para dentro deste.

E Milena não cessava de repetir o seguinte estribilho:

-- Retorne deusa, retorne e saia das profundezas da obscuridade!!

As outras duas lhe acompanhavam. O espelho imóvel instantes antes em cima do sepulcro, num rompante ergue-se no ar e fica a levitar estático.

E Melina diz como que conversasse com o espelho:

-- Aqui mestra aqui esta sua oferenda... - fala apontando para garota decaída no chão. Era uma garota de aproximadamente duns vinte anos de idade, cabelos alourados, pele branca e macia e donas de olhos verdes folha.

O espelho após ouvir estas palavras voa até a oferenda estacando sobre esta. E um liquido viscoso e denso de cor acinzentada começa a escorrer da superfície espelhada dele. Liquido que se move rapidamente na direção da jovem que dormia desavisada. Aquela gosma subia o corpo da moça agilmente até que adentra pela boca desta, que faz com que essa começasse a se debater loucamente no chão como se lutasse contra um invasor que lhe quisesse dominar o corpo. Contudo, a luta já estava ganha, pela aquela criatura gelatinosa.

A garota aquieta-se por uns instantes. Depois de poucos segundos de silêncio inquietante essa se levanta. Como se nada houvesse acontecido passa a as mãos pelo seu corpo como que se o checasse para ver se lhe faltasse algo.

-- Onde estou servas?—pergunta a garota com uma voz muito guinchante.

As bruxas haviam a muito cessado aquele seu canto ritualístico, assistiram a tudo de braços cruzados e com sorrisos de ponta a ponta no rosto. E fora Milena quem decidira responder a pergunta:

-- Vossa senhoria está numa cripta. Acabamos de executar o ritual de ressurreição...

--Sei disso tola! O ritual em que me tirara daquele maldito espelho em que eu fora aprisionada... - Estava defronte das bruxas.

-- Teth, nossa altíssima sacerdotisa da lua o que farás agora que retornaste... - pergunta Milena já que as outras duas ficaram emudecidas com Teth.

-- Começarei minha vingança o quanto antes contra família Estradivarus. Pois por culpa destes malditos vim a ser aprisionada neste espelho durante séculos. Passarei por cima de tudo e todos se necessário. -Ao dizer isso os olhos, da bruxa da lua, mudaram de uma cor verde folha para um vermelho intenso, como sangue. E seus cabelos começam a esvoaçar.

***

Alberto assistira a tudo com olhos arregaladíssimos. Quem eram aquelas três jovens de cabelos multicolores? E aquela jovem de cabelos louros com voz guinchante? Devia ir imediatamente ir à polícia? Não, pois se fosse à delegacia elas poderiam não estar mais ali, quando retornasse com os policiais. E além do mais eles não iriam acreditar em suas palavras se dissesse:

-- Vi um grupo de bruxas com cabelos coloridos como de palhaços de circo que diziam que queriam se vingar de uma família denominada Estradivarus.

O delegado muito provavelmente lhe perguntaria:

-- Seu Alberto o senhor tem como provar?

Ao que Alberto lhe responderia:

-- Bom, tenho Teco e Tuco que assistiram tudo juntamente comigo. —diria indicando os seus amigos animais inseparáveis.

Com toda certeza o delegado Silva iria rir-lhe de sua cara e mandá-lo internar-lo no velho hospício da cidade. O jeito seria ele mesmo ir ter com elas, enfrentá-las.

Contudo, nem tudo parece ser fácil como a teoria mostra. As pernas do velhote lhe bamboleavam, as mãos lhe tremelicam fazendo com que a lanterna que estas segurassem lhe dançasse em suas mãos e quase caísse ao chão.

-- O que vocês acham que devo fazer amiguinhos?- interroga o zelador de túmulos para seus animais. Eles como lhe entendessem aqueles sons humanos, encaram seu dono e depois o pórtico da cripta.

-- Está bem.Vocês venceram, vou enxotar aquelas malucas de cabelos coloridíssimos. - E põe-se a descer a cripta. O pobrezito mal sabia o que lhe esperava lá, embaixo...

***

-- Vamos logo sair deste maldito lugar!! Espero que tenham arranjado algum lugar para eu executar meus planos... - Falara a sacerdotisa às outras três que lhe assistiam caladas, sem ousarem soltar sequer um suspiro.

-- Sim, senhora. Encontrei um ótimo lugar para morarmos enquanto pomos nossos planos em andamento. Eu pensara em tudo. Os Estradivarus moram nesta cidadezinha nos quinto dos infernos onde encontrei esta casa...

--Sim, chega!! Já ouvi demais. Arrumem logo as coisas para podermos sair logo daqui. Interrompera Teth. Levaram pouco tempo guardando em suas mochilas de couro: a adaga, a moldura, o livro grande de capa preta e dentre outras coisas inúteis que trouxeram. Ao terminar a arrumação, Milena, voltou-se para Teth que estava a um canto da cripta a observar tudo:

-- Acho que podemos ir agora senhora...

-- Cale-se! Ouço algo... - ordenara. E apurando os ouvidos:- - Escondam-se, alguém vem vindo...

Ao dizer isso ela profere uma palavra que as sibilas desconheciam:

--Noctes profundu!!!

E de repente as luzes como que engolidas desapareceram daquele recinto. E tudo permanecera num silêncio angustiante. Albert, com medo paralisa no penúltimo degrau. Não via um palmo a sua frente ou em quaisquer outros lugares. Estaria ele cego? Impossível se ficar cego tão repentinamente. E num lampejo cerebral lembra-se de que havia trazido consigo a lanterna que rotineiramente costumava fazer a sua ronda. Apalpa os bolsos da calça. Felizmente, ela jazia em seu bolso esquerdo. Pega logo ela empurra o botãozinho vermelho que a liga para cima e obtêm-se o tão desejado feixe de luz.

Pronto. Agora poderia prosseguir em sua busca. Direciona aquele pequeno farol para os quatro cantos do lugar. E não encontra nada. O direciona para o chão há muito tempo empoeirado. Vê algumas pegadas e começa a segui-las. Todavia elas não o levaram a lugar algum só fê-lo caminhar em círculos volteando aquele grande sepulcro qual jazia ali. Era feito dum mármore branco. Quase reluzente muito bonito.

Aonde teriam ido aquelas moças de cabelos estouvados? Não poderiam ter saído pelos fundos do lugar, pois não havia nenhuma maneira de fazê-lo já que não havia porta para realizar tal feito. Pela frente seria um ato irrealizável, por que descera as escadas e não vira ninguém. Só se elas fossem bruxas...

Na hora em que o senhor zelador pensara nisso algo peludo roçou-lhe as batatas das pernas fazendo-o dar um grito e arremessar a lanterna para o longe. Arfava, o ar faltava-lhe aos pulmões, seu coração parecia estar sendo retorcido e seu corpo transpirava descontroladamente. Por sorte não havia caído no chão. Olha em seu redor buscando ver onde lançara seu diminuto farol. Vê-lo a um canto da parede. E adivinhem só quem estava a brincar a luz desta ? Era ele: o Teco. Então fora ele quem lhe roçara as pernas! Concluíra Albert que calmamente retoma a posse da lanterna e apanha o bichano que imediatamente lhe repreende:

-- Não havia dito que me esperasse lá, em cima mocinho?—aponta com dedo indicador para cima.

Tuco lhe olha com um olhar grande e gentil. Depois solta um longo miado que se traduzido para linguagem humana talvez quisesse dizer o seguinte: “Me solte, apenas vim aqui lhe dizer que está correndo grande perigo.” Se Albert entendesse a língua dos felinos possivelmente teria escapado ao que lhe acontecera.

Num passe de mágica as luzes voltaram alumiar o lugar. O zelador vira-se para encarar as invasoras daquela tumba. Teth estava no lado oposto do de Albert (ele estava perto da escada). Apenas o féretro lhe distanciava da bruxa.

-- Quem é você? Aliás, quem são vocês? O que querem aqui?- O trio de bruxas estava atrás de Teth. Tinham sorrisos desdenhosos na boca.

Teth solta uma gargalhada muito alta:

-- Sou Teth a sacerdotisa da lua. E você quem é?

-- Sou Albert, o zelador deste cemitério. O que você e essas palhaças de perucas coloridas querem?- Albert sempre fora atrevido. E com o avançar da idade seu atrevimento só piorara.

A sibila deu sorriso e pergunta a Milena:

-- A casa onde iremos morar há um jardim?

Sem muito entender a pergunta Milena anui à cabeça afirmativamente.

-- É que vamos precisar dum jardim para pôr a estátua...

As bruxas não ficaram muito tempo sem entender.

-- Corpus Transformare in Petra!!!- Teth dizia isso com uma tonitruante.

Tuco como um animal esperto que era fugira dos braços de seu dono seguindo seu velho extinto animal.

-- Ei, ei. Tuco, venha cá!- Albert tentou chamá-lo, mas já era tarde demais o gato já havia subido a escada...

-- Corpus Transformare in Petra!!!- Repetia Teth.

-- Ei, dona a senhora não pode ficar aqui. – Explica.

Albert dá alguns passos. Sentia que a perna lhe enrijecia, estava adormecendo.

-- Corpus Transformare in Petra!!!-Agora proferia com maior rapidez e intensidade.

Não conseguia dar nem mais um passo. A cintura endurecera-lhe.

-- Corpus Transformare in Petra!!!

O seu torso iniciara o mesmo processo dos outros membros.

-- Corpus Transformare in Petra!!!

O pobre do zelador conseguira só proferir esta frase:

-- O que está acontecendo comigo?

Teth malvadamente diz em alto e bom som:

-- Você está se transformando em uma estátua para meu jardim!!

Albert o pobrezito tornara-se uma estátua.

-- Podemos ir agora!!Ei, você de cabelo verde. Leve a estátua.

As bruxas e a estátua num piscar de olhos deixaram o lugar. A cripta ficou na mais absoluta escuridão.

CONTINUA

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Raffael Petter
Enviado por Raffael Petter em 07/11/2012
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