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Era ainda de madrugada quando acordei com um barulhinho perto de mim.

Era um cachorrinho recém-nascido que alguém abandonara na rua.

Caia uma garoa fina e fazia muito frio. Eu estava acomodado embaixo de um viaduto. Peguei o bichinho agasalhei nos meus trapos e ele ficou quietinho.

Senti um carinho muito grande por ele. O bichinho não tinha preconceito. Aceitou o que eu podia oferecer e se dispôs a ser meu amigo independente da minha miserabilidade.

Dormi mais um pouco e quando amanheceu o dia sai para procurar o que dar a ele para comer.

No restaurante tentei dar um pouco dos restos de comida que me deram, mas ele não quis comer. Era muito pequeno, precisava de leite e eu resolvi sair pedindo um pouco de leite para ele.

Na primeira casa que toquei ninguém atendeu. Na segunda a mulher espiou pela grade da janela e sumiu lá para dentro.

Um pouco mais adiante, uma senhora que varria a calçada defronte sua casa, ouviu o meu pedido e com pena do cachorrinho disse que ia me dar um pouco de leite para ele.

Entrou, passou o cadeado no portão e pouco depois me passou pela grade uma tijelinha com um pouco de leite, entrou, fechou a porta sem nem ouvir meu agradecimento.

Tudo bem, sentei-me na calçada, alimentei meu protegido e conversei com ele:

-- Toma ai, companheiro! Você já ganhou até uma tijelinha para comer e eu prometo que você nunca vai passar fome.

No dia seguinte a mocinha da padaria me deu um litro de leite vencido e assim fui alimentando o Mindinho até que alguns dias depois ele começou a comer de tudo o que eu comia.

Muitos me criticavam:

Não tem nem o que comer e quer criar cachorro.

Mas eu gostava dele e ele gostava de mim. Só aqueles que não têm nenhum afeto neste mundo podem compreender.

Em pouco tempo ele cresceu muito e ficou muito bonito.

Eu gostava muito dele, mas me preocupava. Sabia que não o estava alimentando direito, que ele precisava de vacina, de banho, coisas que eu não podia lhe dar.

E foi dai que numa bela manhã de sol quando ele brincava a minha volta no jardim, chegou até mim um senhor com um menino e pediu-me:

-- Você não quer vender esse cachorro? Eu lhe dou dez reais por ele.

O homem parecia ser bem de vida. Melhor do que eu, com certeza!

Fiquei com muita pena de me separar do Mindinho, mas achei que estava sendo egoísta, pois ele estava tendo oportunidade de ter uma vida melhor.

Despedi-me dele e fiquei acompanhando com os olhos o homem que se afastava levando meu amiguinho.

Resolvi comprar pinga com o dinheiro da venda.

Fui ao supermercado, pois sabia que lá, um litro custava o preço de uma dose no boteco.

O segurança não quis me deixar entrar. Mostrei o dinheiro a ele. Se o estabelecimento tinha pinga para vender e eu tinha dinheiro para comprar, qual era o problema?

Nem preciso dizer qual era!

Depois de muita discussão o rapaz pegou o dinheiro e foi ele próprio fazer a compra.

Foi honesto, me trouxe a mercadoria, a nota e o troco e eu me enfiei num canto do viaduto, abri a garrafa e tomei, gole a gole, a garrafa toda.

À medida que tomava um torpor gostoso se espalhava pelo meu corpo. Não pensava em mais nada. tudo que queria era beber mais e mais.

E foi então que ele apareceu. Uma criatura estranha parecia um animal, mas ao mesmo tempo parecia um ser humano. Era muito feio, mas passava uma impressão boa.

Quando olhei para ele, meio entorpecido pela bebida ele sorriu para mim e disse:

--Não tenha medo. Sou da paz. Sei que você está triste porque perdeu seu amigo cachorro e vim oferecer minha amizade.

Fiquei meio assustado:

--Quem é você?

--Um alienígena.

--Um o quê?

--Um ET.

--Sempre duvidei de que os ETS existissem de verdade.

--Eu vim de um planeta distante em um disco voador, mas me perdi da tripulação, eles foram embora e eu fiquei.

--Fique aqui comigo. Eu sou muito só. Vendi meu cachorrinho de estimação e estou muito triste.

--Pois se você quiser posso ser o seu amigo.

Ele abraçou-me. O contato com ele deu-me arrepios. Sua pele era grudenta e gelada. Mas senti afeto naquele contato, um afeto que há muito tempo eu não sentia.

-- Amanhã cedo o Disco vai voltar e eu tenho que ir embora.

-- Que pena! Gostei tanto de você. Pensei que podia ficar comigo.

-- Eu não posso ficar, mas você pode ir comigo. O meu planeta é muito melhor do que a Terra. Lá os homens são mais evoluídos, não há guerras nem corrupção nem malfeitores, ladrões ou assassinos.

Lá não há ricos nem pobres, todos trabalham, têm conforto e fartura e são muito felizes.

Fiquei animado com a aventura. Claro que aceitei.

Imaginem só uma viagem de Disco Voador para um planeta tão maravilhoso!

--Vamos dormir que amanhã bem cedo partiremos.

Deitei-me ao lado dele e peguei no sono.

Quando despertei o dia ia alto e decepcionado vi que meu amigo tinha desaparecido.

E eu fiquei pensando:

Será que eu vi mesmo um alienígena ou seria tudo uma alucinação de bêbado?
 


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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Meu Amigo Alienígena
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Maith
Enviado por Maith em 26/11/2012
Reeditado em 03/03/2015
Código do texto: T4005528
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